62ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 13. Serviço Social - 3. Serviço Social da Educação
A DIMENSÃO EDUCATIVA DO SERVIÇO SOCIAL FRENTE A QUESTÃO AMBIENTAL
Camila Ferreira Messias Lélis 1
Eliana Amábile Dancini 1
1. Universidade Estadual Paulista "Julio de Mesquita Filho" - Campus Franca/SP
INTRODUÇÃO:

O trabalho vem sendo desenvolvido desde o ano de 2009 a critério de obtenção do título de Bacharel em Serviço Social. A pesquisa aborda e problematiza as atividades desenvolvidas pelo Grupo GEPEA Sumaúma (Grupo de Estudos e Projetos em Meio Ambiente e Educação Ambiental) da UNESP/Franca durante os anos de 2008, 2009 e 2010, e a interface com o Serviço Social diante da problemática da degradação do meio ambiente, desmistificando a questão ambiental como parte integrante de uma crise civilizacional e a educação ambiental como perspectiva educacional, campo do conhecimento e ação política que da identidade a inúmeros sujeitos individuais e coletivos construídos em diversas realidades. A temática do projeto se desenha na discussão sobre o meio ambiente e educação ambiental no contexto das propostas extensionistas do GEPEA e tendo por referência a inquietação da pesquisadora em desvendar possibilidades de intervenção do Serviço Social. A questão ecológica perpassa pelo cenário político, científico e educativo como um problema crucial do fim do século. A reflexão acerca do uso indiscriminado dos recursos naturais e sobre a ciência moderna que coisifica as ecologias, tem gerado no seio da educação indignações nos métodos tradicionais. A relação entre essa temática e as possibilidades de atuação do assistente social aparece urgente diante do debate sobre meio ambiente e educação ambiental. Ao reconhecermos a face de educador desse profissional podendo desenvolvê-la nas atividades extensionistas do GEPEA "Sumaúma", enquanto graduanda de Serviço Social e integrante do Grupo pude redesenhar minha trajetória acadêmica descobrindo espaços e intervenções para se trabalhar as diversas dimensões dos impactos ambientais ligados à questão social. Nesse trabalho, portanto, apresento manifestações das experiências de educação ambiental vivenciadas por mim, através da atuação do Grupo GEPEA "Sumaúma" no espaço/tempo do bairro Jd.Petráglia, e em especial na Escola Estadual Prof.ª Lina Picchioni Rocha.

METODOLOGIA:

O tema da pesquisa requer algumas considerações acerca do método. O nosso aporte teórico se orienta pelo Pensamento Complexo, sendo necessário diferenciar esta categoria antes de apresentarmos nossas categorias teóricas referente à pesquisa. Entendemos, a partir de leituras de algumas obras de Edgar Morin, o método apresentado como estratégia a ser desenvolvida diante do imprevisto, das incertezas. O fundamento do método é a possibilidade de partir em busca do conhecimento, reconstruí-lo e reordená-lo levando-se em conta o desafio das dúvidas, das contradições. O pensamento/método complexo torna possível abordar as teorias/saberes/dimensões como algo aberto, interdependente, comunicáveis, dialógicas. Nesse sentido, negando a simplificação e a disjunção, coloca-se a disposição outras racionalidades como as instancias do subjetivo, do mítico, do trágico para a compreensão de uma realidade diversa em níveis de concretude e dimensões. Os sentidos do poético, a idéia do acaso, a ecologia, as artes, a educação ambiental, o imaginário não são considerados como elementos que permeiam o pensar e o agir do ser humano, por isso, propomo-nos a partir desses pressupostos construir o presente trabalho, não procurando a verdade absoluta, mas conscientes da presença do caos como capacidade de reconstruir e reordenar o método, a metodologia e a abordagem teórica. Após as considerações iniciais de desvelamento de alguns conceitos, é importante compreende-los em sua complexidade no âmbito do Serviço Social, sua faceta de educador que contribui na iniciativa da proposta de transformação cotidiana, tendo em vista a superação do conhecimento compartimentado, a melhoria da qualidade de vida e do ensino. O uso indiscriminado das noções de meio ambiente, natureza e ecologia confere uma visão reducionista da totalidade complexa representada por essas palavras. A abordagem desses conceitos se revela pluridimensional, não esta ligada a idéia de um meio amorfo, rígido que isola os seres do seu meio ambiente ou os reduzem ao meio. E a educação ambiental proposta é entendida como um sistema de conhecimentos, saberes, valores e fazeres, aprendível e mutável, participativo do complexo de significação da vida. Assim sendo, a matriz pedagógica será, sempre que possível, a partilha co-reponsável na criação de sistemas de saberes e de sensibilidades voltadas ao manejo sustentável e à vocação biodiversa na relação cultura-natureza. A respeito dos procedimentos metodológicos usados e recriados durante as atividades do Grupo, estarão mais bem descritos abaixo, pois assim os relaciono para apresentação de alguns resultados e ampliação da nossa discussão.

RESULTADOS:

Nosso projeto percebe a educação ambiental abraçando e interagindo diversas tradições culturais, diferentes modos de saber e diferentes tipos de agentes sociais criadores de sistemas de saberes, valores, sensibilidades e sociabilidades envolvidos nesse trabalho biopedagógico. Ela se dirige  a uma sócio-diversa comunidade aprendente, e por isso, trabalha com manifestações artísticas e cultuais, recursos audiovisuais e muita interatividade com o meio ambiente e seus atores/criadores. A natureza quantitativa da pesquisa se desenvolveu, e ainda persegue o caminho da extensão do GEPEA, durante o ano de 2008 através da elaboração de um diagnóstico do universo empírico elegido. Andamos pelo bairro fazendo observação sistemática para apreendermos o cotidiano do bairro, seus problemas socioambientais, desvendar as mobilizações existentes ou não, lugares mais freqüentados, características da urbanização, lugares de lazer, grupos de dança, teatro, canto; como também, a perspectiva dos moradores com a chegada do campus da Universidaed no Bairro em 2009. Posteriormente nos dirigimos à escola Picchioni, como espaço aberto à comunidade e um coletivo de educadores permanente para possível aproximação e parceria no desenvolvimento das atividades do Grupo. O espaço escolar foi gentilmente cedido para realização das atividades e também foi possível se pensar e planejar ações conjuntas entre o GEPEA e a escola para chamar os pais dos alunos e os funcionários da escola para também comporem uma semente desse coletivo educador. Da observação sistemática e relatos dos moradores, percebemos o bairro carente de eventos culturais, espaços de lazer e convívio, tanto para crianças quanto para adultos. As manifestações artísticas lá existem, estão por toda parte, porém parecem estar sem motivação, sem brilho. O trabalho de extensão do Grupo para a formação de coletivos educadores procura promover encontros culturais com grupos de diferentes expressões artísticas: dança, teatro, cinema, música,  festividades populares dentro do bairro, e assim, contribuir na valorização e atualização desses agentes repletos de singularidades, mundos imaginários e criatividade: vida! E para atender a proposta do projeto do Grupo de formar coletivos autogestionários, incentivamos o envolvimento dos moradores na qualidade de autores, atores e produtores na criação do enredo, dos cenários e da elaboração das diferentes formas de expressão cultural. Esses momentos se dão na escola em finais de semana, em meio a algumas festividades do calendário escolar, ou no centro comunitário do bairro, nas igrejas, variando conforme disponibilidade. A natureza qualitativa dessa pesquisa é a tonalidade mágica desse quadro pluridimensional, o despertar e contaminar os sujeitos com humanida, criatividade e sensibilidades. A educação se contorna, portanto, de maneira integrada, contínua e permanente. Educada e educanda para considerar os diferentes contextos dos envolvidos e fortalecer o caráter cultural-pedagógico dos processos educativos pensados e (re)articulados. A sustentabilidade desses coletivos está para o fortalecimentos dos vínculos interpessoais, da identidade e da valorização da cultura local. Nesses aspectos os alunos de Serviço Social integrantes do GEPEA propõem redes para manter esses atores sociais vivos pensando de maneira local e global diante das dificuldades por eles enfrentadas e em suas potencialidades. A discussão perpassa, pelo já exposto, por muitas esferas da individualidade e da coletividade, enquanto dimensões que se dialogam e se complementam.

CONCLUSÃO:

O Projeto de Formação de Coletivos desenvolvido pelo GEPEA "Sumaúma", que propomos analisar e problematizar busca criar condições que viabilizem o enriquecimento dos conhecimentos acadêmicos pelos saberes populares, fortalecendo a extensão como prática universitária, e, assim, estabelecer uma ponte facilitadora de encontros entre a Universidade e a sociedade civil. Traçar prévias conclusões sobre esse trabalho que esta sendo desenvolvido pelo Grupo é inviável se pensarmos, a priori, nosso aporte teórico contornando nossas ações e pretensões. Deixamos aqui, entretanto, aspectos importantes que estão sendo vivenciados e (re)organizados pelos diversos coletivos em construção. Esperamos que cada ação pensada, refletida e atualizada no contexto dos coletivos possa ter continuidade, permita um movimento de (re)ordenação da vida e transformação cultural nas comunidades de intervenção como também, no próprio Grupo GEPEA que se constitui como um coletivo educador. Na minha monografia confronto, portanto, tais reais possibilidades de atuação do Serviço Social, tendo por suporte a arte na dimensão educativa dessa profissão, com as discussões, demandas e produções teóricas que o acompanham. É um caminho que vem sedo trilhado no nosso próprio andar, descobrindo e reinventando perguntas e possíveis respostas para o que ainda precisamos cultivar.

 

 

Palavras-chave: Educação, Questões Ambientais, Serviço Social.