62ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 2. Ecologia Aquática
RELAÇÃO HOSPEDEIRA DE DUAS ESPÉCIES DE GAFANHOTOS SEMI-AQUÁTICOS COM MACRÓFITAS AQUÁTICAS NA FLORESTA NACIONAL CAXIUANÃ, PARÁ, BRASIL
Ana Lúcia Nunes Gutjahr 1
Carlos Elias de Souza Braga 2
1. Departamento de Ciências Naturais, Univerversidade do Estado do Pará / UEPA
2. Coleção de Invertebrados, CZO, Museu Paraense Emílio Goeldi / MPEG
INTRODUÇÃO:

As espécies de gafanhotos semi-aquáticos vivem e desenvolvem seus ciclos de vida associadas às colônias de macrófitas aquáticas, as quais são comumente encontradas em corpos d'água ou em baixios, periodicamente alagáveis na região Amazônica. As macrófitas aquáticas são plantas bem adaptadas a ambientes instáveis, principalmente, quanto a flutuação do nível da água, pois possuem alta plasticidade morfológica e fisiológica que lhes permitem sobreviver de forma modificada, quando diante de situações extremas. Elas possuem crescimento rápido e em ambientes lênticos com grande acúmulo de matéria orgânica, podem ocasionar sérios problemas ao meio aquático. Tais problemas se referem ao impedimento do tráfego fluvial, baixa no nível da água em decorrência da evapotranspiração e a baixa de oxigênio dissolvido que prejudicam a qualidade dos ambientes aquáticos. Os gafanhotos que vivem associados a essas plantas possuem uma grande dependência hospedeira, visto que necessitam delas como alimento, abrigo e substrato para suas oviposições. O objetivo deste trabalho é realizar um estudo sobre a relação dos gafanhotos Cornops aquaticum e Cylindrotettix obscuros quanto suas macrófitas aquáticas hospedeiras Eichhornia azurea e Scyrpus cubensis com ênfase na abundância e biomassa.

METODOLOGIA:

O estudo foi realizado na Floresta Nacional Caxiuanã, Melgaço, Pará em duas espécies de macrófitas aquáticas. Nas colônias das plantas selecionadas coletou-se 8m² de área foliar, que foram amostradas aleatoriamente. Para a delimitação da área de 1m² e captura dos gafanhotos foi utilizada uma gaiola com tela de nylon e com estrutura em alumínio (dimensões de 100x100x100cm). A gaiola possuía duas portas superiores e sua porção inferior era aberta para facilitar sua penetração nas colônias de macrófitas aquáticas. Nos cantos inferiores eram fixados blocos de isopor para impedir a submersão da gaiola. Na coleta a gaiola foi arremessada, com as portas superiores fechadas, sobre a colônia das macrófitas. Para a captura dos gafanhotos no interior da gaiola, se utilizou aspiradores entomológicos e pequenas redes entomológicas. Os exemplares capturados foram introduzidos em sacos plásticos identificados com os dados da coleta e foram transportados ao laboratório em caixa de isopor. Para a obtenção da biomassa das plantas hospedeiras, a porção aérea (fora da água), foi cortada e acondicionada em sacos plásticos identificados. No laboratório os gafanhotos foram quantificados e, assim como as plantas hospedeiras foram, pesados a fresco e introduzidos em estufa para obtenção do peso seco.

RESULTADOS:

Foram realizadas 5 excursões a FLONA Caxiuanã (janeiro, abril, junho, agosto e novembro/2006). Nas excursões coletou-se 245 exemplares de C. aquaticum que corresponderam a 31,99 g de peso fresco (Pf) e 13,99 g de peso seco (Ps). A planta hospedeira desse gafanhoto, E. azurea apresentou a biomassa total de 44081,10 g de Pf e 5526,10 g de Ps. A maior abundância de C. aquaticum (janeiro/2006) (n=87 exemplares) foi coincidente com o maior valor da biomassa de E. azurea (Pf: 13651,30 g). Também foram coletados 24 exemplares de C. obscurus (Pf: 15,24 g; Ps: 0.94 g) em sua macrófita hospedeira S. cubensis que apresentou a seguinte biomassa total: 31422,70 g (Pf) e 6832,70 g (Ps). Testes de regressão linear realizados para o período de coleta com a abundância e a biomassa dos gafanhotos com suas respectivas plantas hospedeiras, mostraram que os resultados obtidos para C. aquaticum sob E. azurea são altamente significantes demonstrando a dependência desses gafanhotos quanto à sua planta hospedeira (Abundância x Pf de E. crassipes: r = 0,91; Ps de C. aquaticum x Ps de E. crassipes: r = 0.85: p>0,5). Para C. obscurus os testes também foram significantes, porém com valores menores (Abundância x Pf de C. obscurus: r = 0.64; Ps de C. obscurus x Ps de S. cubensis: r = 0.51; p>0,5).

CONCLUSÃO:

Este trabalho é uma contribuição ao conhecimento das relações existentes entre espécies de gafanhotos semi-aquáticos e suas plantas hospedeiras. Ficou evidente através dos resultados obtidos neste estudo, que existe uma dependência das espécies de gafanhotos C. aquaticum e C. obscurus quanto suas plantas hospedeiras, visto que a variação encontrada na biomassa das plantas E. crassipes e  S. cubensis foi também observada na abundância dos gafanhotos, o que foi reforçado pelos testes de regressão que mostraram uma forte correlação, com valores positivos e significantes. Vale ressaltar que esse resultado já foi observado para outras espécies de gafanhotos semi-aquáticos estudados na Amazônia Central. Tais estudos são importantes para inferir sobre a utilização desses insetos como agentes de controle biológico de macrófitas aquáticas, em virtude de suas relações/especificidades hospedeiras com tais plantas.

Palavras-chave: Gafanhotos Semi-aquáticos, Macrófitas Aquáticas, Amazônia.