62ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 5. Teoria e Análise Lingüística
A RELAÇÃO ENTRE SISTEMAS NATURAIS DE LINGUAGENS E LINGUAGENS FORMAIS
Yan de Lima Justino 1
Marcos Antônio Costa 2
1. Depto. de Letras, Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
2. Prof. Dr./ Orientador - Departamento de Letras - UFRN
INTRODUÇÃO:
No final do século XIX, a filosofia analítica, investigando as propriedades semânticas da linguagem natural, propõe que todo pensamento lógico poderia ser descrito em forma de símbolos. Esses símbolos seriam manipulados por meio de regras, sem a interferência da intuição dos sujeitos. Dessa forma, seria possível construir uma linguagem artificial livre dos problemas da linguagem natural. O advento das ciências computacionais segue, de certa forma, essa tendência analítica. O matemático Alan Turing demonstrou que qualquer função matemática, descrita por meio de uma formalização, poderia ser executada por uma máquina. Desse modo, qualquer função poderia ser mecanicamente processada. Tal princípio apontou para a possibilidade da construção de uma máquina que simularia a lógica subjacente à linguagem natural. Apoiados nos pressupostos da abordagem sociocognitiva, interessa-nos, neste trabalho, apresentar a relação entre sistemas naturais de linguagem e as linguagens formais e, subsequentemente, evidenciar como as linguagens formais ainda não dão conta da multifuncionalidade dos sistemas naturais de linguagem.
METODOLOGIA:
Este projeto é inicialmente de natureza bibliográfica e documental. Analisamos textos de alguns autores num arco histórico que abrange as últimas décadas do século XIX e todo o século XX. Os autores selecionados são representativos de perspectivas teóricas que influenciaram, e continuam influenciando, o pensamento contemporâneo. Desse modo, mais especificamente, pretendemos considerar: i) no âmbito da Filosofia: as propostas de Gottlob Frege, Bertrand Russell, Ludwig Wittgenstein, John Langshaw Austin e Donald Davidson; ii) Na área da Lingüística: as teses formalistas do estruturalismo e do gerativismo, a partir de Ferdinand de Saussure e Noam Chomsky, assim como as propostas teóricas de orientação pragmática, objetivando a compreensão dos pressupostos da teoria cognitiva de base social, que serve de referência para nosso trabalho. A partir dessas perspectivas, adotamos como método a análise de um programa computacional desenvolvido no paradigma conexionista, a fim de demonstrar a sistemática de representação vericondicional de uma linguagem formal e, a partir dessa representação, confrontá-la com as abordagens sociocognitivas.
RESULTADOS:
O modelo computacional conexionista utilizado para evidenciar os resultados desta pesquisa foi o das redes neurais artificiais. Este paradigma baseia-se no modelo biológico das redes neurais e assume como pressuposto que o desenvolvimento de uma estrutura análoga a estrutura biológica possa projetar em sistemas computacionais os processos de aprendizado, pelo input, reverberação e output da informação. Embora o modelo conexionista se aproxime dos sistemas biológicos, podemos concluir que estes, diferentemente daqueles, apresentam uma inter-relação entre atividades motoras e perceptuais e produção conceptual. Portanto, diferentemente das linguagens formais, o funcionamento dos sistemas naturais de linguagem ocorre concomitantemente às experiências vivenciadas pelo corpo inserido em contextos socioculturais específicos.
CONCLUSÃO:
Em relação aos sistemas naturais de linguagem, os sistemas físicos de manipulação simbólica não apresentam a mesma flexibilidade quanto à capacidade de adaptação/criação. Muitas das funções desempenhadas pelas linguagens naturais não puderam ser, até hoje, formalizadas e processadas mecanicamente. O problema da recorrente idéia do desenvolvimento de sistemas mais "inteligentes", do ponto de vista interacional, é que tal empreendimento não pode traspassar o conceito de mente sobre o qual os computadores e, consequentemente, as linguagens formais foram desenvolvidas.
Palavras-chave: Linguística, sociocognitivismo, Linguagens formais.