62ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 2. Ecologia Aquática
VARIAÇÃO ESPACIAL NA ESTRUTURA TRÓFICA DA COMUNIDADE DE PEIXES NA ÁREA DE INFLUÊNCIA DO RESERVATÓRIO DE BALBINA, RIO UATUMÃ, AMAZONAS, BRASIL.
Cylene Câmara da Silva 1
Efrem Jorge Gondim Ferreira 2
Cláudia Pereira de Deus 3
1. Departamento de Zoologia, Universidade Federal de Pernambuco / UFPE
2. Coordenação de Pesquisa em Biologia Aquática / INPA
3. Coordenação de Pesquisa em Biologia Aquática / INPA
INTRODUÇÃO:

O estudo da dieta de peixes e da interação alimentar destes com o meio fornecem importantes informações ecológicas, entre elas, o comportamento destas espécies diante de variações nas condições ambientais e na disponibilidade do alimento. Essas informações trazem subsídios para a compreensão dos mecanismos que permitem a coexistência e a exploração dos recursos por várias espécies em um mesmo sistema. E também permite caracterizar os grupos tróficos que a compõem, conhecer sua estrutura trófica, avaliar o grau de importância dos níveis tróficos e as inter-relações entre os componentes da comunidade.

Portanto, o estudo da cadeia trófica através do estudo dos hábitos alimentares dos peixes permite compreender a estruturação do ecossistema aquático, permitindo uma descrição aproximada da comunidade e de como a energia flui através da mesma. Conhecendo as fontes alimentares podemos inferir sobe o habitat e a disponibilidade de alimento, entre outros pontos. Neste sentido, o estudo teve como objetivo verificar se existem variações espaciais na estrutura trófica da comunidade de peixes na área de influência do reservatório de Balbina.

METODOLOGIA:

As coletas foram realizadas bimestralmente entre os meses de março de 2006 a janeiro de 2007 na área de influência da UHE Balbina, em dois ambientes: rio (estações A e B) e lago (estações C e D). Os exemplares coletados foram identificados e os estômagos foram fixados em álcool 70% para posterior análise no Laboratório do INPA.

Para a identificação dos itens alimentares utilizou-se lupa estereoscópica e microscópio óptico. A dieta foi determinada a partir dos dados de análise de conteúdo estomacal, pelos métodos dos pontos modificado e da freqüência de ocorrência, combinados através do Índice Alimentar (IA).

Através da dieta foram determinadas as categorias tróficas às quais as espécies pertencem, com base nos valores do índice alimentar calculado (> 50% de um determinado tipo de alimento). Para cada categoria trófica foi determinado à abundância em biomassa e a proporção com relação à origem (alóctone, autóctone ou mista) dos itens alimentares ingeridos.

RESULTADOS:

Foram analisados 1693 indivíduos de 41 espécies, agrupadas em 10 categorias tróficas diferentes.  A maior abundância em biomassa no rio foi de espécies detritívoras (24,4%) e invertívoras alóctones (24,1%). No lago a maior biomassa foi de piscívoras (44,4%) e invertívoras autóctone (18,7%).

Analisando a comunidade quanto à origem dos itens no rio e no lago, observou-se uma similaridade na predominância de itens de origem autóctone, 71,2% e 84,9%, respectivamente.

Espécies detritívoras são geralmente abundantes em planícies de inundação, devido às inundações sazonais. Em Balbina essa inundação não ocorre devido ao represamento. Nos detritívos outros itens são encontrados no estômago, complementando a dieta uma vez que os detritos têm pouco valor energético.

As espécies invertívoras são beneficiadas pela grande quantidade de insetos de origem terrestre (isópteros e himenópteros) oriundos do entorno, constituindo uma significativa fonte alimentar.

A abundância de espécies piscívoras é evidente no lago, sendo relatada em vários trabalhos em áreas represadas, ocorrendo devido ao aumento de espécies presas. Já as espécies invertívoras autóctones são favorecidas principalmente pela grande disponibilidade de substrato (troncos submersos) favorável ao desenvolvimento das formas imaturas.

CONCLUSÃO:

Espécies de peixes de ambiente represados geralmente apresentam uma alta plasticidade alimentar, muitas espécies apesar de apresentarem um item preferencial podem complementar a dieta com outros itens ocasionais, o que foi observado no presente estudo e em outros estudos em ambientes represados.

Itens de origem alóctone em ambientes represados são menos abundantes devido à falta da inundação sazonal das planícies adjacentes que favorecem o carreamento destes para dentro do sistema, assim, os itens de origem autóctone ganham uma importância maior na dieta de peixes, o que pode ser observado tanto no ambiente de rio como de lago da área de influência da UHE Balbina.

Foram encontradas diferenças entre os dois ambientes analisados com relação à proporção das diferentes categorias tróficas, mas não foram encontradas diferenças com relação à origem dos itens consumidos.

Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq
Palavras-chave: Ecologia de reservatórios, Ecologia trófica, Amazônia.