62ª Reunião Anual da SBPC
B. Engenharias - 1. Engenharia - 13. Engenharia Sanitária
SEGURANÇA HÍDRICA EM COMUNIDADES RURAIS DO SEMI-ÁRIDO NORDESTINO: A INSTALAÇÃO DE BOMBAS D´ÁGUA POPULARES - BAP
Raísa Prota Lins Bezerra 2
Natália de Souza Cavalcanti 2
Yenê Medeiros Paz 2
Taís Pinheiro 2
Wilian Okasaki 1
Soraya El-Deir 3, 1, 2
1. Instituto Regional da Pequena Agricultura Apropriada - Irpaa
2. Departamento de Tecnologia Rural DTR/UFRPE
3. Orientadora
INTRODUÇÃO:

Em 1996, técnicos da Obra Episcopal Misereor (Alemanha) conseguiram identificar, dentre os inúmeros modelos existentes na África e Ásia, um tipo de bomba manual que oferece todas as qualidades necessárias para o Semi-árido Brasileiro (SAB), a "Bomba Volante" ou "Bomba D'água Popular"(BAP). A BAP foi desenvolvida por um voluntário holandês por volta de 1980 e hoje sendo produzida na Niger, Mozambique, Burkina Faso e Holanda. No SAB há 12,5 milhões de habitantes, limitação dos recursos hídricos, desertificação, falta de assistência técnica e ausência de políticas públicas específicas. Possui regime hidrológico com chuvas irregulares, o que provoca o processo de escoamento superficial e a rápida evaporação. Cerca de 80% do semi-árido apresenta subsolo cristalino, sem lençol freático, mas perpassado por fendas de muitos quilômetros de extensão, nas quais encontra-se águas em quantidade reduzida. O Projeto BAP propõe discutir o problema do desabastecimento hídrico dos povoados dispersos do SAB, disponibilizando um equipamento de uso manual altamente resistente e adaptado à realidade desta região. Este escrito visa realizar analise crítica do processo de instalação das BAPs em 15 comunidades de 5 estados nordestinos, servindo como insumo para um pensar crítico do projeto.

METODOLOGIA:

Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas e preenchimento de formulário com questões fechadas e abertas, todas objetivas em três comunidades rurais assistidas por organizações não-governamentais que compõem a Articulação do Semi-árido - ASA, em cada um dos 5 estados (Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco e Piauí) que são foco da instalação de Bombas D´Água Populares - BAP, totalizando 251 (duzentos e cinqüenta e um) pessoas. Visitada as casas dos entrevistados, realizado levantamento fotográfico da região e da residência, caracterizada a região e cada uma das residências quanto ao tipo e características da construção, existência de cisterna e outro sistema de abastecimento hídrico, fonte energética, georreferenciado o poço onde foi instalada a BAP, realizada análise da água quanto aos parâmetros físico-químicos, observações ambientais via check list com vistas à elaboração de Estudo de Impacto Ambiental para cada conjunto de bombas, agregado por Estado.

RESULTADOS:

As comunidades possuem 20 até 130 famílias. Dos entrevistados, 44% desenvolvem atividades agrícolas, 55% agropastoris. Todas apresentam limitações de acesso à água para consumo diário. Cerca de 74% das residências são desprovidas de estruturas sanitárias. Não há água encanada, o suprimento hídrico não é suficiente para o funcionamento regular de banheiros e em diversos casos, a área destinada para o banheiro é usada como depósito de comida, grãos, ferramentas e outros. Nas 10 (dez) casas que apresentam água encanada e saneamento básico, o abastecimento hídrico não é contínuo, a água não é tratada, sendo de poço e distribuída por gravidade. A implantação da bomba d'água popular propiciou uma elevação da segurança hídrica e alimentar das comunidades rurais dos 5 estados, fazendo com que o suprimento hídrico não sofra solução de descontinuidade. O uso de tecnologias de boas práticas ambientais voltadas para a gestão dos recursos hídricos, como irrigação por gotejamento ou micro-aspersão, favoreceram a elevação da produção agrícola e a estruturação de uma base mínima de alimentos para o sustento das famílias. Visto a compreensão do êxito da aplicação de tecnologias difusas e descentralizadas para a segurança hídrica no SAB, o projeto BAP terá continuidade em todo o Nordeste.

CONCLUSÃO:

As populações rurais não privilegiam o uso regular dos banheiros para suas necessidades básicas, perpetuando o hábito de uso do campo para tal fim. É pertinente pensar em uma política pública de saneamento ambiental que contemple as características do SAB e a busca de soluções tecnológicas plausíveis e de educação ambiental e sanitária para esta população. Quanto a BAP, os dados preliminares demonstram a eficiência e eficácia da instalação destas nas diversas comunidades do SAB, sendo pertinente a compreensão deste projeto como um programa de maior envergadura, complementar ao P1MC, visando elevar a sustentabilidade do homem do campo, melhorando as condições de vida e ambiental destes, viabilizando a produção agrícola e pecuária no semi-árido e fixando o homem do campo no campo. Por fim, um maior comprometimento da academia em projetos de extensão, disseminando o muito de conhecimento existente nas entidades geradoras de novas tecnologias, assim como o estabelecimento pelo estado de Políticas Públicas focadas na convivência com o SAB vem a corroborar para a construção de uma comunidade com maior justiça social, equidade econômica e equilíbrio ambiental, preceitos básicos para o desenvolvimento endógeno sustentável.

Instituição de Fomento: Instituto Regional da Pequena Agricultura Apropriada - Irpaa
Palavras-chave: Comunidades rurais, Semi-árido nordestino, Segurança hídrica.