Este estudo se destinou a analisar filmes (documentários) enquanto elementos da Representação Social de cidade de Natal - Rio Grande do Norte (2006-2009). Buscando respaldo em autores das ciências sociais, como: Deleuze, Foucault, Bourdieu, Cuche, Barbosa e Cunha, Laraia, Bakhtin, e Canclini, o trabalho traz reflexões sobre segregação sociocultural, contextualizando o tema em alguns vídeos enredados na cidade e aprofundando a análise no documentário REDINHA ARREDIA (2007). Fruto de uma oficina de vídeo, e dirigido pelo cineasta potiguar Carlos Tourinho, a obra mostra sujeitos, tradições, cotidiano e anseios dos moradores e frequentadores do bairro (praia) da Redinha. Tal obra, assim como as demais, ao divulgar em projeção o lugar, permitiu não apenas entender o cinema como instrumento relevante nas ciências sociais, mas também tê-lo como condutor das mais diversas realidades de exclusão em um único roteiro, locação, tomada.

Desenvolveu-se uma pesquisa qualitativa, de caráter exploratório, através da análise de narrativas audiovisuais recentemente produzidas e focadas nas representações sociais de segregação em Natal-RN. Foram eleitos quatro documentários que subsidiaram a discussão acerca do tema a discutir: AS RUAS DO RIO (Claudio Martins e Cintia Sá - 2009) - cotidiano de exclusão e violência na periferia; ESPETAKULARES KENGAS (Diogo Moreno, Elisa Paiva e Lenice Goulart - 2008) - festividade carnavalesca GLBT; VENDEDORES DE ESPERANÇA (Hélcio Torreão e Edileusa Martins - 2007) - percalços dos idosos que trabalham nas praias urbanas; E por fim uma discussão mais aprofundada da obra REDINHA ARREDIA (Carlos Tourinho - 2007) - história, conflitos e anseios dos moradores dessa vila de pescadores.

O trabalho, motivado em discutir acerca de segregação social em Natal-RN e considerando a rica produção midiática que se enreda na cidade nos festivais de vídeos locais últimos anos, evidenciou que a própria população na maioria das produções fílmicas ressalta direta ou indiretamente este aspecto: uma cidade dividida. Segregação essa que se manifesta na exclusão revelada através da marginalização espacial (Bairro das Quintas - Favela do Japão), na medida em que surgem bairros elitizados em outro extremo da cidade; a realidade grupos sociais discriminados (comunidade homossexual) em ou completo abandono (idosos que trabalham sem qualquer assistência do poder público); como também em opções e práticas de lazer exclusivas para as classes menos abastadas (faixas de praia que separam as classes sociais). Mas também dentro desse quadro nota-se a resistência de manifestações culturais religiosas logradas em bairros pobres e antigos (ricas tradições que se mantêm em áreas isoladas da cidade), que se mostram "arredios" diante do capital estrangeiro (especulação imobiliária da praia), do discurso do progresso advindo do poder público, e da globalização.

Nos filmes analisados para enfatizar o enredo da segregação sociocultural, o que se percebeu foi a voz dada aos sujeitos (moradores) que revelam roteiros possivelmente incomuns no imaginário externo a cidade de Natal-RN (publicidade turística, por exemplo). Olhar externo normalmente conduzido pela mídia, e outras linguagens, que tendem a apresentar Natal-RN através de praias paradisíacas sem história, sem um passado, sem conflitos - uma cidade perfeita socialmente e apática culturalmente. Para além de formalizar a relevância da técnica audiovisual na sociologia e antropologia, o trabalho sinaliza a necessidade de aprofundamento de mais estudos acerca de elementos da cultura que resistem ao tempo (capacidade de manter tradições), assim como sobre os binarismos de segregação social e espacial existentes na cidade de Natal-RN.