62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 12. Psicologia
A IMPORTÂNCIA DA PSICOLOGIA PARA A FORMAÇÃO DOS NEGOCIADORES QUE ATUAM EM SITUAÇÕES DE TOMADORES DE REFÉNS
Vanessa Ribeiro de Oliveira 1
Juliana Acquarone de Sá Lopes 1
Lívia da Silva Carvalho 1
Mariana Nigro 1
Nilma Figueiredo de Almeida 1, 2
1. Universidade Federal do Rio de Janeiro
2. Profa. Dra./ Orientadora
INTRODUÇÃO:
A violência é definida, segundo a Organização Mundial de Saúde, como o uso intencional da força ou poder em uma forma de ameaça ou efetivamente, contra si mesmo, outra pessoa ou grupo ou comunidade, que ocasiona ou tem grandes probabilidades de ocasionar lesão, morte, dano psíquico, alterações do desenvolvimento ou privações. Ela é a principal causa das mortes de pessoas entre 15 e 44 anos, responde por 14% das mortes de homens e 7% das mortes de mulheres. Nos últimos anos a sociedade brasileira tem apresentado altos índices de violência urbana como assaltos, seqüestros e extermínios. O seqüestro é considerado um delito de efeitos devastadores, e legalmente, um crime hediondo. Não são poucos os casos de seqüestros e crimes envolvendo reféns, sendo cada vez mais constante a atuação de profissionais liderando ações policiais. O objetivo deste trabalho foi verificar a importância da psicologia na formação dos negociadores que atuam em casos de tomadores de reféns, se esta serve de embasamento para a tomada de atitudes durante as operações e se contribui para a obtenção de melhores desfechos nos casos.
METODOLOGIA:
Esse estudo é de caráter qualitativo e, portanto, a abordagem metodológica é de cunho fenomenológico. Foram realizadas quatro entrevistas semi-estruturadas com profissionais que atuam ou atuaram junto ou como negociadores: uma psicóloga do Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar do Rio de Janeiro (BOPE), com longa experiência no auxílio às táticas de negociação; um professor de Sociologia da UFRJ, especialista em cursos de negociação; um professor de Psicologia da UFRRJ, com ampla experiência em táticas do exército; e um professor de Psicologia Criminal da UFRJ,que já foi do quadro da Polícia Militar do Rio de Janeiro, atuando em casos de mediação em casos de tentativa de suicídio. Em seguida as entrevistas foram transcritas e analisadas em seu conteúdo.
RESULTADOS:
Nas entrevistas pode-se verificar uma concordância quanto à importância do papel do negociador (mediador) para resolução mais eficaz nos casos de seqüestros. Quanto à formação deste profissional, as opiniões divergiram: para o sociólogo, o negociador "tem que ser muito experiente"; para o psicólogo criminalista "não há um profissional que seja preferível para atuar em mediação, e sim, pessoas que possam ter 'sensibilidade' maior para lidar com esses casos"; para o psicólogo do exército "dependendo do contexto a ser observado"; a psicóloga do BOPE disse que "é preciso que esse negociador tenha um preparo (...) um curso de negociadores oferecido pelo próprio BOPE". Todos foram unânimes em afirmar a importância de conhecimentos em Psicologia para um negociador, ou do suporte de um psicólogo. Para o psicólogo criminalista houve "um clamor público para que o governo tomasse providências a respeito da negociação realizada em casos de seqüestro" por causa do desfecho ocorrido em 2000, no caso do ônibus 174. A partir de então a PM precisou estar mais preparada e, para isso abriu concurso público para psicólogos. No BOPE, a psicóloga que atua junto aos negociadores, acredita que "seria bom ter outra psicóloga para a troca de informações" no quadro profissional.
CONCLUSÃO:
Este trabalho permitiu verificar a importância do psicólogo e dos conhecimentos de Psicologia nas atuações dos negociadores em casos de seqüestro. O suporte do psicólogo na equipe auxilia no que tange ao melhor discurso utilizado, a capacidade de persuasão, conhecimentos sobre distúrbios de personalidade, estimulação que possa servir de reforço a um comportamento, motivação, atentar para as linguagens verbais e não verbais que ocorrem durante a negociação. Além disso, pode-se perceber o papel fundamental da Psicologia enquanto auxílio para a identificação, por parte do negociador, de um melhor modo de agir de acordo com a situação, com o perfil do criminoso e da vítima, e visando a redução dos transtornos pós traumáticos aos quais a vítima em questão estará sujeita. A existência de cursos preparatórios para formação de negociadores é desconhecida pelo BOPE, eles oferecem um curso interno para os oficiais que tenham perfil para serem mediadores. Na sociedade observa-se uma oferta de cursos preparatórios para negociadores cuja estrutura, funcionamento e qualidade são passíveis de questionamento, assim como a que mercado se destina esses profissionais. Deve-se investir em medidas preventivas à violência urbana para sanar com os crimes hediondos, como o seqüestro.
Palavras-chave: Negociação, Sequestros, Psicologia.