62ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 3. Economia - 8. Economias Agrária e dos Recursos Naturais
EXTRAÇÃO DE AÇAÍ, CAPTURA DE CAMARÃO E RENDA NO ESTUÁRIO DO BAIXO TOCANTINS, MUNICÍPIO DE IGARAPÉ-MIRI - PA
Suellen Silvana Andrade Rauda 1
Oriana Trindade de Almeida 2
Tássia do Socorro Ferreira da Silva 1
Sergio Luiz de Medeiro Riveiro 3
Same Mota Parafita 4
Luiz Augusto Mascarenhas Leite 5
1. Instituto de Ciências Sociais Aplicadas, Fac. de Ciências Econômicas - UFPA
2. Profa. Dra./Orientadora - NAEA - UFPA
3. Prof. Dr. Economia - UFPA
4. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Fac. de Geografia - UFPA
5. Depto. de Matemática - UFPE
INTRODUÇÃO:

Na região de várzea os rios cumprem um papel estruturante na vida da população ribeirinha amazônica e são fundamentais para a economia e para a sobrevivência desta população, uma vez que deles depende, em boa parte, o abastecimento alimentar da população local (COSTA, 2006). A população retira seu alimento com base nos recursos naturais, baseando sua alimentação no consumo do açaí e do camarão. A importância desses dois produtos na economia familiar tem tido pouca atenção das políticas públicas, mas para essa população faz parte de uma estratégia familiar de sobrevivência.

Esta pesquisa tem a finalidade de caracterizar a economia familiar dos ribeirinhos que vivem na área de várzea no município de Igarapé-Miri, em particular nas comunidades Alto Anapu, Menino Deus e Baixo Anapu, ao longo do Rio Anapu.

O ritmo de vida na várzea é afetado pela variação sazonal do nível da água, devido a alagações anuais. A alternância entre períodos de águas baixas e altas define o calendário das atividades econômicas na várzea. Além da pesca e da extração do açaí o estuário realiza outra atividade econômica de igual importância: a captura de camarão.

METODOLOGIA:

A pesquisa se baseia em entrevistas semi-estruturadas realizadas em setembro de 2009 (com relação à safra de 2008) com 115 famílias nas comunidades: Alto Anapu, Menino Deus (médio rio Anapu) e Baixo Anapu, no município de Igarapé-Miri. Foram coletadas informações relacionadas à característica social do pescador, como religião, idade, educação, número de filhos e bens materiais, status da posse da terra, produção agrícola, pecuária, açaí, pesca e camarão da região do estuário. Perguntas sobre a safra foram feitas referentes ao ano anterior. A análise destes dados teve como objetivo fazer uma caracterização geral do pescador artesanal da região de Igarapé-Miri.

RESULTADOS:

A extração do açaí é uma atividade muito importante para grande parte das famílias. Em 2008, durante a safra, que ocorre no período de julho a dezembro, sendo o pico nos meses setembro, outubro e novembro, as famílias colheram, em média, 240 latas de açaí.  Desse total, 54% foi utilizado para venda e 46% para consumo. O preço médio praticado no início da safra foi de R$ 8,50 a lata, mas ao longo da safra (no período de pico), o preço chegou a cair 40% e retornando depois ao preço praticado inicialmente. Entretanto, durante a entressafra, de janeiro a junho, o preço variou de R$ 15,00 a R$50,00 por lata, devido à escassez do fruto.

A captura de camarão é outra atividade econômica importante para esta população. A safra, segundo os entrevistados, ocorre de maio a novembro, com pico da safra em setembro. A pesca é realizada com o matapi[1], onde cada família possui em média 22 armadilhas. Em geral esse apetrecho de pesca é confeccionado por famílias da região e são vendidos por R$ 4,00. Em 2008 foram capturados 84 quilos de camarão, dividido quase que igualmente para consumo e para venda. O quilo foi vendido em média por R$ 1,95.



[1] Matapi é a armadilha tradicional de captura de camarão utilizada pelos pescadores na várzea amazônica feita de talas de palmeira.

CONCLUSÃO:

No município de Igarapé-Miri o açaí tem o papel central para a sobrevivência dos moradores da várzea.  Segundo a pesquisa, 88% das famílias possuem plantação, seja para venda ou apenas para consumo. A captura do camarão também é de fundamental importância, dado que 84% das famílias realizam essa atividade para a complementação da renda e para alimentação diária juntamente com o açaí.

O açaí foi a principal atividade econômica da população, no ano de 2008, cada família, em média, teve um rendimento de R$ 902,00, enquanto que com o camarão foi de apenas R$ 79,00, sendo o equivalente a 8,76% do valor conseguido com a venda do açaí.

As atividades são ajustadas ao regime de maré. Coincide o período de safra do açaí com o do camarão, de maio a dezembro e as famílias se mantêm com a venda e consumo dos dois produtos.  Nos demais meses as famílias pescam e colhem açaí, para o consumo. Algumas famílias possuem também rendas provenientes de salário, aposentadoria e transferências do governo, como bolsa família e seguro defeso que ajudam na entressafra do açaí e camarão.

Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq, FAPESPA, SEPAQ
Palavras-chave: Pesca na Amazônia, Estuário, Economia familiar .