62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 7. Educação Infantil
FILMES INFANTIS CONFIGURANDO NOVOS MODOS DE SER CRIANÇA NA CONTEMPORANEIDADE
Carlos Eugênio de Carvalho 1
Mariangela Momo 1
1. Depto. de Educação, Curso de Pedagogia - UFRN
INTRODUÇÃO:
Na contemporaneidade os filmes infantis fazem parte do universo e do cotidiano das crianças. Longe de se constituírem imparciais e neutros em suas representações - como as de escola, de professor, de aluno, de gênero, de raça, de etnia - eles estão repletos de significados e discursos que interferem na constituição dos sujeitos infantis, colaboram para a formação de identidades das crianças contemporâneas, sustentam novas formas de representação e produzem outras culturas. Com seu jogo de luzes e cores atraem o olhar das crianças constituindo-se como autênticos arquétipos de prestígio social em uma sociedade que privilegia a cultura da mídia. Considerando que, com o advento das novas tecnologias muitas crianças têm contato com a linguagem midiática, na escola e fora dela, é que o presente trabalho objetiva problematizar como os filmes infantis colaboram para a produção de um determinado tipo de infância. Esse tipo de trabalho se faz necessário na medida em que muitos educadores utilizam deste recurso audiovisual e não percebem a imensa produtividade de tal recurso na produção de identidades e subjetividades infantis.
METODOLOGIA:
Para atender ao objetivo proposto no presente trabalho, ou seja, problematizar como os filmes infantis produzem identidades e subjetividades infantis, esta pesquisa busca explorar o tema a partir do referencial teórico dos Estudos Culturais fazendo o estudo e a análise de alguns filmes infantis, entre eles A Pequena Sereia e Três Espiãs Demais. A problematização é realizada tendo como base estudos e análises de filmes infantis, entre eles estão os seguintes autores: Thaise da Silva (2003), Bianca Salazar Guizzo (2007) Patrícia Ignácio (2008), Brenda Guedes (2009). Estes autores abordam a construção de subjetividades e culturas infantis a partir da linguagem audiovisual dos filmes que fazem circular determinados significados e artefatos culturais. Em suas produções teóricas tais estudiosos apontam que os filmes infantis de animação são pertinentes quando realçam o consumo de determinados produtos e a incorporação de certas posturas e valores. No entanto, o presente trabalho avança na realização de novas reflexões e problematizações sobre o tema estudado contribuindo principalmente para a área da Educação Infantil onde este recurso é bastante utilizado.
RESULTADOS:
As análises dos resultados deste estudo constataram que muitos dos filmes direcionados para a infância tratam de questões de raça, gênero e condição social. No caso das representações de gênero, na maioria das vezes, os filmes abrangem a ideia de que os meninos devem ser preparados para um modelo hegemônico vigente de dominação, ao passo que as meninas devem ser formadas exclusivamente para o lar e sua felicidade só se completaria quando unida a figura masculina. Para ambos os gêneros são demarcadas fronteiras de quais produtos cada um pode ou não consumir, contribuindo assim para a construção das identidades de gênero. Os achados também apontam que os enredos de tais filmes reproduzem significados convencionados por classes dominantes, principalmente no que se refere à busca incessante de um modelo de corpo evidenciado como padrão, o que pode acarretar efeitos no desejo das crianças em querer atingir tal padrão socialmente valorizado. Diante dos dados levantados, ainda é possível explicitar que os filmes infantis de animação operam estimulando o consumo precoce de produtos difundidos pela mídia no que concerne a aquisição de artefatos da moda.
CONCLUSÃO:
Devemos considerar que os filmes infantis de animação fazem parte da cultura das crianças contemporâneas operando como pedagogias culturais, de modo que não é mais possível desconsiderá-los nas práticas pedagógicas escolares. Os filmes ensinam sobre a cultura do consumo desenfreado, moldam valores, identidades, subjetividades, atitudes, comportamentos e normas. Percebemos que as relações sociais são também constituídas por meio da linguagem visual de tais filmes que se apropria de todo um aparato tecnológico para formar sujeitos consumistas, com subjetividades voltadas para o "ter" e o "poder". Não obstante a escola precisa gerir espaços de problematização dessas questões com seus educadores e educandos, tendo em vista que nela também circula a cultura dos filmes infantis composta por uma linguagem sobre a qual parece não ter poder. Esta cultura midiática-visual se constitui em um jeito novo de ensinar pautada na lógica do prazer. Urge que os profissionais da educação mantenham um olhar de criticidade e repensem suas práticas pedagógicas em relação aos filmes infantis, pois muito mais que o entretenimento eles também estão ensinando.
Instituição de Fomento: REUNI / PRÓ-REITORIA DE PESQUISA - UFRN
Palavras-chave: Crianças contemporâneas, Estudos Culturais, Filmes infantis.