A seleção de áreas para cultivo é um dos mais importantes aspectos da aquicultura. Este estudo utilizou o Sistema de Informações Geográficas (SIG) para identificação e quantificação áreas potenciais para a implantação de cultivo de macroalgas no litoral oriental do Estado do Rio Grande do Norte. As características físico-ambientais e sócio-ambientais dos locais de cultivo forma avaliadas. As características físico-ambientais incluem clima (vento, chuva, temperatura, e umidade de ar) e qualidade de água (nutrientes, temperatura, salinidade, e turvação). As características físicas que devem ser consideradas são o tipo de substrato, forma do litoral, marés, correntes, e profundidade de água. Os aspectos sócio-ambientais principais são a infra-estrutura, estradas, escoamento da produção, organização social, número de indivíduos envolvidos na atividade, densidade de população, e condições de mercado. Todos os aspectos acima mencionados são importantes para o sucesso do empreendimento; porém, espacialmente um parâmetro pode influenciar mais que outro e poderia interferir ou não em seleção de local (Beveridge et al. 1991). Neste trabalho empregou-se a lógica fuzzy ou difusa na avaliação multicritério para determinar as influências das variáveis na seleção de áreas de cultivo.

O banco de dados espaciais foi composto de cartas topográficas, cartas náuticas e imagens  orbitais, relacionado ao banco de dados de atributos, compostos por variáveis físico-ambientais e sócio-ambientais. As áreas de enseadas abrigadas da ação de ondas e correntes foram adquiridas por meio do operador de distância disperse, utilizando a linha de costa como feição alvo para a incidência de ventos de SE, que sopram na direção de 135º Az ou 45º SE, e de direção 0°Az ou S-N da corrente litorânea (longshore current). As áreas ou pixeis agrupados  inseridas nas profundidades de 1 a 4 m, foram consideradas como áreas potenciais ao cultivo de macroalgas. Os dados espaciais foram escalonados em estruturas hierárquicas para possibilitar a uma avaliação multicritério MCE (multi-criteria evaluation) como suporte à análise de decisão. A lógica difusa ou fuzzy, foi empregada na padronização dos fatores de forma a gerar valores relativos intermediários entre as condições excelentes e impróprias de cultivo. O método de comparação em pares desenvolvido por Saaty (1977) no contexto do Processo de Hierarquia Analítico, AHP (Analytical Hierarchy Process), foi usado para desenvolver um jogo de pesos relativos para cada parâmetro em MCE.

Verificou-se que a função anisotrópica de distância (disperse) se adequou para identificação de áreas. Um total de 2.232 hectares analisados em 20 localidades ao longo do Litoral Oriental do RN são potenciais para o cultivo de macroalgas. Os fatores que tiveram maiores pesos espacialmente em relação as outras variáveis foram as distâncias das áreas urbanas, e distâncias da Cidade do Natal/RN, com cerca de 50% de influência sobre as demais variáveis. O tempo de viagem ou custo da distância e a distância em relação aos estuários, refletiram um peso de 33% em relação as demais variáveis. Outro grupo de variáveis de menor influência,  com cerca de 17% de peso, foram as distância dos distritos, distância das estradas, e distância da costa para as áreas de cultivo, e distância dos cultivos para as áreas fontes de sementes ou mudas de macroalgas. Desta forma, a hierarquização no nível espacial maior está relacionada ao locais de cultivos mais afastados dos centros regionais. No nível intermediário, aos locais com tempo de viagem menor e mais afastados dos estuários, e no nível local, está relacionado com as condições de mão de obra mais próxima, acesso de estradas próximas as áreas áreas de cultivo, e cultivos mais próximas da costa, como de banco de algas próximas às áreas de cultivo.

Este estudo demonstrou que o SIG é um poderoso instrumento para a seleção de áreas adequadas para o desenvolvimento do cultivo de macroalgas, possibilitando de forma ágil a aquisição de dados básicos para classificação de áreas de cultivo em níveis de aptidão. Por essa característica pode ser aplicado em áreas com poucos dados de ordem ambiental, a fim de suprimir a carência de informações físico-ambientais e sócio-ambientais. Diferente da lógica booleana, a lógica difusa ou fuzzy para avaliação em MCE, como suporte a decisão, possibilita uma menor rigidez entre os critérios, ressaltando as características em níveis hierárquicos de influência das variáveis, desde o nível regional até as condições mais localizadas espacialmente. Neste sentido, possibilitou inferir com nível de precisão razoável as melhores áreas para cultivo no litoral oriental do RN, com menores e maiores riscos de empreendimento.