Para a Análise do Discurso de linha francesa busca-se compreender a linguagem em seu funcionamento, ou seja, analisar a linguagem em suas relações com os sujeitos e o momento histórico e social. Assim, o objeto de estudo da Análise do Discurso não é a língua, mas o discurso, visto como prática social da linguagem, no qual os sentidos são formulados em consonância com suas condições de produção. Neste trabalho buscar-se-á utilizar em sua abordagem discursiva categorias de análise que se norteiam em conceitos como os de interdiscurso e memória. Partindo desse pressuposto o atual trabalho objetiva apontar para o funcionamento do interdiscurso em propagandas dirigidas às mulheres, buscando compreender como a interdiscursividade atua na formação de sentidos, reportando-se às identidades femininas presentes na memória social.

Para a realização do trabalho foram feitas pesquisas teóricas e bibliográficas sobre a Análise do Discurso Francesa, vertente a qual o atual trabalho se vincula, e em torno da mulher na sociedade em seu percurso histórico; também foram coletadas propagandas que circulam pela mídia impressa (VEJA e CARAS) e digital (internet) voltadas ao público feminino. O trabalho se fundamenta nos dispositivos teóricos propostos pela Análise do Discurso de linha francesa, abordando as concepções de Foucault (1970; 1985), em diálogo com os estudos culturais de Hall (1992; 2000) e Bauman (2007), bem como os conceitos sobre História e memória em torno da mulher com Perrot (2005; 2007) e Beauvoir (1949), entre outros.

Diante dos estudos feitos, percebe-se que, a publicidade, direcionando-se à mulher, vislumbra a identificação desse público com os produtos e idéias que vincula, construindo representações identitárias que possibilitem este fim. A propaganda busca representar em seu discurso a mulher como um sujeito capaz de efetivar variados papéis sociais e, ainda assim, manter sua feminilidade. Com isso, produz imagens que são ansiadas pelas mulheres contemporâneas. Para tanto, esse gênero discursivo se reporta a imagens e discursos de diversas épocas sobre o feminino, facultando a produção de sentidos desejados por meio da memória social.

Observa-se, então, que a linguagem só pode se realizar nas relações de interação humana, que se configura como instrumento mediador das práticas sociais, entre o sujeito e o social. Ela se constitui interdiscursivamente, pois os discursos sempre se constroem a partir de outros já-ditos, isto é, através da retomada dos discursos já proferidos na formação dos novos discursos que sempre se constroem na relação com o outro, partindo de dizeres marcados na memória social.