62ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 14. Zoologia - 5. Zoologia Aplicada
IMPLICAÇÕES NA CONSERVAÇÃO DA FAUNA LOCAL ATRAVÉS DO USO DE ZOOTERÁPICOS NA ETNOVETERINÁRIA NOS MUNICÍPIOS DE BOQUEIRÃO E BARRA DE SANTANA, NO CARIRI PARAIBANO.
Emanuella Gonçalves de Brito e Silva 1
Jucilene Braz da Costa 1
José da Silva Mourão 1
1. Universidade Estadual da Paraíba(Departamento de Biologia/UEPB)
INTRODUÇÃO:
A etnoveterinária estuda os conhecimentos, habilidades, métodos, práticas e crenças das pessoas sobre os cuidados da saúde dos animais. O uso de animais ou produtos derivados destes para tratar doenças humanas ou de outros animais é conhecido como zooterapia. O estudo do uso de zooterápicos na etnoveterinária no bioma Caatinga é crescente, porém um conhecimento mais abrangente é necessário, para conhecer como se dá a utilização dos recursos naturais neste bioma, que ao contrário do que se pensava possui muitos endemismos e grande diversidade biológica. Embora seu potencial seja gradualmente reconhecido, ainda se constitui um ambiente pobre em estudos científicos, que visem sua preservação. Desta forma, trabalhos como este são de grande relevância, pois podem dar suporte para uma análise das práticas da medicina tradicional, compreendendo a relação existente entre os humanos e os recursos naturais, e os seus possíveis efeitos no bioma em questão. Diante disso, o presente trabalho descreve o uso de algumas espécies com fins zooterápicos, utilizadas na etnoveterinária na região do semi-árido do estado da Paraíba, com a finalidade de apontar prováveis impactos na conservação dos animais utilizados.
METODOLOGIA:
O trabalho de campo foi realizado na mesorregião do Cariri oriental, em seis comunidades pertencentes aos municípios de Boqueirão e Barra de Santana-PB, no período de setembro de 2009 a fevereiro de 2010. Este trabalho teve como proposta metodológica um enfoque qualitativo, onde foram utilizadas as seguintes técnicas: entrevistas livres, bola de neve e entrevistas semi-estruturadas, que abordaram as enfermidades que acometiam os animais e o tratamento utilizado, com enfoque na utilização de zooterápicos. Os entrevistados selecionados foram criadores de rebanhos de caprinos, ovinos, bovinos e avicultores. Para a identificação dos animais, utilizados na zooterapia, foi observado o uso da terminologia utilizada pelos informantes, quando possível eram realizadas observações in situ. De modo semelhante para identificação das enfermidades citadas, além da terminologia, a descrição e a sintomatologia também foram avaliadas. Essas informações foram comparadas com dados de trabalhos semelhantes, que possuíam o mesmo enfoque em localidades próximas as estudadas nesse trabalho.
RESULTADOS:
Foram realizadas 20 entrevistas com criadores que residiam entre a cidade de Boqueirão nas comunidades Perna, Tanques e Lages, e na cidade de Barra de Santana nas comunidades Capoeiras, Gonçalo e Paraibinha II. Para o uso de zooterápicos em animais silvestres, foram observadas 26 citações. O animal mais citado foi a cascavel (Crotallus durissus) com 5 menções, a parte deste animal utilizada com fins zooterápicos era sua banha, que tinha como utilidade auxiliar a retirada de espinhos que perfuravam as patas dos animais. O segundo animal mais citado foi a raposa (Cerdocyon thous), também com 5 citações, os criadores utilizavam a cauda "rabo" deste animal com a finalidade e amarrar no pescoço de seus rebanhos, para que não sofressem ataques de morcegos. Os animais mais citados também foram descritos como sendo mais abundantes na região. Os entrevistados em geral, afirmavam que os zooterápicos eram mais utilizados por seus pais e avós. Os que ainda utilizam algum tipo de zooterápico relatam que espécies como o cágado (Phrynops sp. ) e a codorniz (Nothura maculosa cearensis) estão mais difíceis de serem encontradas, talvez pelo uso insustentável de gerações passadas, o que nos leva a supor que o uso de zooterápicos está em declínio pela escassez dos recursos naturais desta região.
CONCLUSÃO:
Através dos resultados obtidos podemos concluir que existem espécies que ainda são utilizadas como zooterápicos, porque são também mais abundantes na região, e espécies silvestres que foram descritas, porém sem um uso atual devido à escassez dos recursos. Isso nos leva a perceber que existem efeitos negativos na fauna local, assim como implicações na sua conservação, que deve ser implantada, de forma rápida e eficaz, porém sem provocar prejuízos ao conhecimento tradicional.
Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico-CNPq
Palavras-chave: Etnoveterinária, Zooterápico, Conservação.