62ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 1. Enfermagem - 3. Enfermagem Médico-Cirúrgica
CARACTERIZAÇÃO DO ATO VIOLENTO SOFRIDO PELAS VITIMAS ATENDIDAS EM UM HOSPITAL DE URGÊNCIA EM NATAL/RN
ISABEL KAROLYNE FERNANDES COSTA 1
RODRIGO ASSIS NEVES DANTAS 1
GLAUCEA MACIEL DE FARIAS 1
ANA CRISTINA FEITOSA DE OLIVEIRA 1
ALLYNE KARLLA CUNHA GURGEL 1
MIRNA CRISTINA DA SILVA FREITAS 1
1. Departamento de Enfermagem, Universidade Federal do Rio Grande do Norte/UFRN
INTRODUÇÃO:
A violência tem se tornado alvo de noticiários de todos os jornais e um fenômeno cotidiano na vida das pessoas que compartilham da mídia como fonte de informação e lazer. São homicídios, sequestros, suicídios, espancamentos de idosos, escândalos econômicos, tráfico de drogas e acidentes de toda a natureza que permeiam a sociedade atual. No Brasil, as taxas de homicídio de 2004 são ainda 30 a 40 vezes superiores às taxas de países como Inglaterra, França, Alemanha, Áustria, Japão ou Egito (WAISELFISZ, 2007). Sobre acidentes e violências, um estudo no Rio Grande do Norte, entre 1998 e 2005, mostrou que a maioria dos óbitos decorrentes desses eventos foi causada por acidente de transporte, agressão e causas indeterminadas (BRASIL, 2006). Nesse contexto, os profissionais de saúde devem conhecer as características do ato violento em si, para uma melhor abordagem do cuidado. Dessa forma, nos questionamos: quem são as vítimas de violência atendidas em um hospital de urgência em Natal/RN? Qual o tipo de violência mais frequente? Qual a região corpórea mais atingida? Diante destas questões, temos como objetivos: caracterizar as vítimas de violência atendidas em um hospital de urgência Natal/RN; identificar o tipo de violência mais freqüente e a região corpórea mais atingida.
METODOLOGIA:
Trata-se de um estudo exploratório descritivo, com abordagem quantitativa e dados prospectivos, realizado nas Unidades de Urgência do Pronto Socorro Clóvis Sarinho (PSCS), anexo do complexo Hospitalar Monsenhor Walfredo Gurgel (HMWG) em Natal/RN. A população contou com 365 vítimas que deram entrada no PSCS com diagnóstico decorrente de atos violentos, no período de abril a maio de 2009. Os critérios de inclusão foram vítimas de violência maior de 18 anos, que se dispuseram a assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), e, no caso de coma, confusão mental, inconsciência ou impossibilitado de comunicação verbal, estar com seus acompanhantes legalmente responsáveis. O instrumento de coleta de dados continha dois itens. O primeiro item contém Dados de Identidade Pessoal e o segundo, diz respeito aos Dados sobre o evento violento, isto é, refere-se à caracterização do evento. Alguns dados de identificação foram complementados pelo prontuário. Os dados foram categorizados, através dos softwares Microsoft-Excel XP e Statistic 8, e analisados pela estatística descritiva. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética, sob parecer de No 068/2009, obedecendo em todas as fases da pesquisa a Resolução 196/96, que rege pesquisa sobre seres humanos (BRASIL, 2000).
RESULTADOS:
Observamos que das 365 vítimas de violência, 254 (69,6%) eram do sexo masculino e 111 (30,4%) do sexo feminino. Tanto as agredidas 211 (57,8%), quanto nas agressoras 43 (11,8%), o sexo masculino prevaleceu. Barata, Ribeiro e Sordi (2008) encontraram dados semelhantes aos nossos. No que se refere à faixa etária, houve uma concentração entre 18 e 31 anos, com 117 (32%). Mesquita Filho e Mello Jorge (2007) encontraram uma idade média de 25,5 anos nessas vítimas e Farias (1995), corrobora com estas estatísticas ao detectar que 52,2% das vítimas de CE's eram indivíduos jovens, com idades entre 15 e 34 anos, dados que se mantém até os dias atuais. Quanto à escolaridade, a maioria não era alfabetizada 70 (19,2%), seguido daqueles com ensino fundamental II incompleto 64 (17,5%). Em relação ao tipo de evento violento, predominaram as agressões físicas com 224 (61,4%), seguido, das tentativas de homicídios com 80 (21,9%) e suicídio 27 (7,4%). Barbosa et al. (2007) identificaram resultados semelhantes aos nossos. Em relação à região corpórea mais atingida, predominou a cabeça e pescoço 89 (24,4%), seguido dos membros e da cintura pélvica 88 (24,1%). Guimarães et al. (2005), encontraram resultados diferentes no que tange às regiões do corpo lesadas, predominando lesões nos membros (36%).
CONCLUSÃO:
Concluí-se que, das 365 vítimas de violência pesquisadas, 82,2% estavam na condição de agredida e 17,8% de agressora. Do total de vítimas, 69,6% eram do sexo masculino, 24,9% tinham entre 18 e 24 anos, sendo 19,2% não alfabetizada. A agressão física foi o evento mais frequente (61,4%), sendo 24,4% agredidas na cabeça e pescoço. Dessa forma, reafirmamos que a violência constitui-se um fator que agrava a situação dos serviços de saúde, em virtude dos elevados custos no tratamento e reabilitação das vítimas, considerando os múltiplos sentidos de como esse fenômeno se apresenta. Portanto, faz-se necessário conhecer as características do ato violento para um melhor cuidado e uma reavaliação coletiva, que demanda entendimento nas áreas da educação, da justiça, de segurança pública, dos serviços sociais, da saúde, visando à promoção de uma sociedade cujo valor primordial seja a vida e à convivência pacífica de seus cidadãos.
Palavras-chave: Violência, Serviço Hospitalar de Emergência, Assistência ao Paciente.