62ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 6. Lingüística
CICATRIZES DO PRECONCEITO E DA INTOLERÂNCIA NO GÊNERO COMÉDIA: UM ESTUDO SOBRE O PROGRAMA "ZORRA TOTAL"
Plinio Pereira Filho 1
Wellington Lopes dos Santos 2
1. Orientador/ Mestrando em Letras - PPGL/UFPB
2. Mestrando em Letras - PPGL/UFPB
INTRODUÇÃO:

"A tolerância é um cessar-fogo na guerra das diferenças, mas ainda não é a paz" (Sérgio Rouanet). O mundo moderno tem através dos meios de comunicação, em especial a televisão, um leque de interatividade além de programações diversas. Várias programações se configuram em dizeres que revelam ou expressam traços de preconceito. Esses discursos revelam a égide perversa da discriminação, da intolerância, e principalmente, em relação às diferentes etnias. No programa "Zorra Total" exibido aos sábados à noite através da Rede Globo, a prática de piadas direcionadas a algumas categorias (homossexuais, gordos, loiras) se configuram criação de estereótipos que se perpetuam na sociedade. Esta pesquisa objetivou analisar como os discursos gerados dentro deste programa demonstram ora o preconceito linguístico ora o preconceito referente a aspectos físicos dos personagens.  

 

METODOLOGIA:

O presente estudo foi realizado entre os meses de setembro de 2009 e fevereiro de 2010. Com base nos estudos sobre o preconceito no âmbito lingüístico-discursivo, buscamos fundamentarmos teoricamente nas contribuições do linguista Marcos Bagno, em artigos e publicações do LEI - Laboratório de Estudos sobre Intolerância, da USP; bem como através dos estudos sobre o humor, piadas e suas conseqüências, de Sírio Possenti. O estudo partiu da gravação em DVD e seleção de 06 episódios (exibidos entre 2007 e 2008) do programa Zorra Total, buscando evidenciar alguns critérios: PERSONAGENS, ETNIA, ESPAÇO FÍSICO, RELAÇÃO PERSONAGENS/STATUS/EPÍTETOS.

 

RESULTADOS:

A partir da exibição, analise e sistematização dos dados, chegamos aos respectivos resultados: na categoria PERSONAGENS, estes estão divididos entre senhoras da alta sociedade, homossexuais, ex-prostituta, obesos, mulher adultera e o homem traído. Em se tratando de ETNIA, percebemos que somente os negros estão em menor numero (apenas 02), fato este que os colocam com papéis subalternos como mordomo e assistente de delegado. Quanto aos ESPAÇOS físicos da narrativa, estes, são sempre salas de festas, casas luxuosas, bem como escritórios, clínicas, hotéis e/ou motéis. Quanto à categoria PERSONAGEM/STATUS, verificamos: os homossexuais são enquadrados não somente como "damas de companhia", mas como àqueles que são capazes de levar alguém a High Society (Alta Sociedade); a ex-prostituta tenta, mas denuncia sua identidade através do falar (categorizado com dislalias); a "Madame da Society" fala francês e menospreza a prima por ser pobre e do interior; enquanto a mulher adúltera é sempre cultuada pela corpo, pois a traição é apenas o pano de fundo. Quanto aos EPÍTETOS, o resultado é surpreendente: os ricos tratam os pobres como "retirantes, indigentes do SUS, populacho" entre outros; enquanto homossexuais são nomeados por "titia, Monette".

 

CONCLUSÃO:

Através do vislumbramento do estudo, salientamos que estes estereótipos reforçam a imagem de que os homossexuais se identificam com o mundo da moda; que prostituta fala errado, mesmo tendo dinheiro; que o falar francês indica ser mais "gente" que os outros; que todo "retirante" é nordestino; que toda idéia de "seca" remete ao Nordeste. Segundo Marcos Bagno, ao ser questionado sobre o que se pode fazer para acabar com o preconceito, revela: é democratizando a sociedade, dando oportunidades iguais a todos, reconhecendo as diferenças. Os papéis e os discursos atribuídos aos personagens reforçam e alimentam na criação de estereótipos que, além de se dissimularem, se perpetuam em formas de preconceitos na sociedade.

 

Instituição de Fomento: PPGL/UFPB
Palavras-chave: Comédia, Preconceito, Estereótipos.