62ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 4. Sociolingüística
A SINTAXE DE COLOCAÇÃO DE CLÍTICOS NA ESCRITA NORTE-RIO-GRANDENSE
Willame Santos de Sales 1
Kássia Kamilla de Moura 1
Fernanda Eliza Silva Galdino 1
Marco Antonio Martins 2
1. Departamento de Letras, CCHLA - UFRN
2. Prof. Dr./Orientador - Departamento de Letras, CCHLA - UFRN
INTRODUÇÃO:
Apresentamos, neste trabalho, uma descrição e análise dos padrões empíricos de colocação de pronomes clíticos em cinco peças de teatro escritas por brasileiros nascidos no estado do Rio Grande do Norte (RN) no curso do século 19. Consideramos na recolha dos dados três contextos sintáticos específicos: (i) orações finitas não-dependentes em que o verbo é antecedido por um sujeito lexical, um advérbio ou um sintagma preposicional (contextos XV); (ii) orações finitas não-dependentes em que o verbo está na primeira posição absoluta (contextos V1); e (iii) orações com lexias verbais. Os objetivos gerais do trabalho são: (1) estabelecer um banco de dados constituído de textos escritos no RN, com vistas à disponibilização de fonte de estudo sobre a(s) variedade(s) sociolinguística(s) encontradas na escrita norte-rio-grandense; e (2) descrever e analisar os padrões empíricos de colocação de clíticos em contextos XV, contextos V1 e em lexias verbais nos textos selecionados. A hipótese a ser desenvolvida é a de que a escrita no RN reflete padrões intanciados por três gramáticas do português: o Português Brasileiro (PB); o Português Europeu (PE); e o Português Clássico (PC).
METODOLOGIA:
Os dados relacionados aos contextos sintáticos em análise foram coletados de cinco peças de teatro. O motivo para a restrição da análise dos padrões de colocação do pronome clítico, anteposto (em ênclise) ou posposto (em próclise) ao verbo, a contextos V1, contextos XV e lexias verbais foi o de buscar diagnosticar, nos textos escritos, diferentes padrões empíricos de variação que pudessem ser reveladores de mudança em curso. Nesse contexto, foram coletadas apenas orações finitas não-dependentes em contextos XV - em que X pode ser realizado como um sujeito lexical, um advérbio ou um sintagma preposicional -, orações em que o verbo estivesse na primeira posição absoluta e orações com lexias verbais. Os dados extraídos dos textos foram categorizados de acordo com a metodologia da sociolinguística variacionista (cf. LABOV, 1982) e submetidos aos programas do pacote estatístico GOLDVARB2001 (cf. ROBINSON; LAWRENCE; TAGLIAMONTE, 2001).
RESULTADOS:
Os resultados obtidos mostram que a escrita de norte-rio-grandenses nascidos no curso do século 19 revela padrões empíricos bastante diversificados no que se refere à colocação de clíticos. Nos textos analisados, encontramos (i) construções com próclise a V1 em orações em que o verbo ocupa a primeira posição absoluta; (ii) construções com próclise ao verbo não-finito em lexias verbais; e (iii) construções com ênclise em orações finitas não-dependentes com o verbo precedido por um sujeito, um advérbio ou um sintagma preposicional.
CONCLUSÃO:
Para concluir, retomando os objetivos elencados na introdução, (1) estabelecemos em nossa pesquisa um corpus constituído de cinco textos - Providência, Brasileiros e Portugueses e A louca da montanha de Manuel Segundo Wanderley, nascido em 1860; A mortalha de rosas de Ezequiel Wanderley, nascido em 1872; e Pelas grades de Jorge Fernandes de Oliveira, nascido em 1887 - e (2) apresentamos uma descrição e análise dos padrões de colocação de clíticos em três ambientes sintáticos: contextos XV, contextos V1 e lexias verbais. Com base nos diferentes padrões observados, concluímos que a sintaxe de colocação de clíticos na escrita de brasileiros nascidos no RN reflete um caso complexo de competição entre três gramáticas do português: PB, PE e PC. Importante se faz referir que, para dar continuidade à pesquisa, os resultados encontrados serão confrontados, em trabalhos futuros, aos padrões atestados na escrita de brasileiros nascidos na Bahia (CARNEIRO, 2005) e em Santa Catarina (MARTINS, 2009), no mesmo período.
Instituição de Fomento: Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)
Palavras-chave: Pronomes, Clíticos, Português Brasileiro.