62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 5. História - 11. História
PROBLEMATIZAÇÃO DA HISTÓRIA TRADICIONAL DO SERIDÓ: CRÍTICAS E NOVAS FONTES ALTERNATIVAS À HISTÓRIA SERIDOENSE.
Monielle Medeiros Mariz 1
Douglas Araújo 2
Jardeline Maíra Fernandes de Assis 1
1. Depto. de História e Geografia do CERES-UFRN
2. Prof. Dr. /Orientador- Depto. História e Geografia-UFRN
INTRODUÇÃO:
A história tradicional do Seridó norte-rio-grandense mostra na maioria das vezes atender aos anseios dos "grandes homens", que por sua vez representam uma minoria da sociedade. Vemos que nessa narrativa o homem sertanejo não tem voz. É uma história mais centrada no ponto de vista da elite social. O confronto analítico de fontes como as crônicas do jornal "A República" do final do XIX e início do XX, e das entrevistas orais de personagens sociais que preservam a memória coletiva da época, nos permite destacar outros pontos de vistas sobre a história seridoense. Sabemos que nenhum ponto de vista pode ser tido como absoluto. Até porque a verdade única não existe. Cabe ao historiador analisar as crônicas e as entrevistas de pessoas "comuns", colocando pontos de divergência e convergência entre essas duas fontes históricas, numa busca de preenchermos lacunas, mostrar inclusive os dramas que esses homens vivenciaram, não desprezando nenhuma fonte, e sim despertando novos olhares historiográficos. A pesquisa tem por objetivo, portanto, propor uma "nova história" do Seridó do Rio Grande do Norte, a partir fontes alternativas à história oficial, que não se esforça por mostrar os diversos olhares a respeito dos fatos. Consideramos a pesquisa de suma importância pelo fato de apresentar novos olhares e dar o direito as pessoas comuns de expressarem suas memórias e nos mostrar outras faces da história seridoense.
METODOLOGIA:
Estudo realizado a partir de crônicas do jornal "A República" e de entrevistas a pessoas comuns, sujeitos ordinários foi realizado no intuito de buscar os sujeitos que fazem histórias, não só os grandes homens, mas primordialmente os excluídos da história tradicional. Tendo diferentes visões de um mesmo acontecimento, nos proporcionando reflexões. As estratégias utilizadas foram a comparação entre as crônicas, as entrevistas e alguns fatos repassados pela história tradicional, a luz da Nova História. O trabalho foi construído em conjuntos por Jardeline Maíra Fernandes de Assis e Monielle Medeiros Mariz ( graduandas do curso de História(L) do CERES-UFRN), com a orientação do Professor Dr. Douglas Araújo( professor efetivo do Departamento de História e Geografia do CERES-UFRN), e foi realizado na Base de Pesquisa Semi-Árido: Natureza, História e Sociedade.
RESULTADOS:
Ao perceber lacunas a serem preenchidas na história do Seridó Potiguar e pesquisar fontes alternativas à história tradicional nos deparamos com novas informações, "novas realidades". A pesquisa nos ajudou a preencher algumas dessas lacunas nos tirou algumas duvidas, mas também nos instigou a novos questionamentos. Por exemplo, como unir fontes tão distintas e fazer uma "nova" história?Percebemos também a necessidade de pesquisar em mais fontes, como em registros de batismo, de óbitos e de casamentos; inventários e na literatura de cordel. As fontes pesquisadas (sete crônicas e 5 entrevistas) nos mostraram que na história tradicional tende a ocultar aspectos relevantes de um mesmo acontecimento em nome de uma suposta neutralidade e/ou imparcialidade científica, gerando assim uma problemática, onde todos os atores sociais tem história e cada um a conta do seu ponto de vista, de acordo com seus interesses e todas essas histórias devem ser valorizadas, nada pode ser desprezado
CONCLUSÃO:
Ao comparar e analisar as crônicas e as entrevistas percebemos que há pontos convergentes e pontos divergentes entre elas. As crônicas do período referido na maioria das vezes eram escritas por pessoas da elite, logo, se falava muito sobre os grandes homens, geralmente ligados à política. Frequentemente elas retratam mortes de figuras ilustres da sociedade. Exaltam constantemente o governo republicano. Nas entrevistas observamos a trama vivida pelos atores sociais, o modo de vida e principalmente o trabalho que exerciam e o sistema de parcerias realizadas nas fazendas. Recordam seus namoros, suas brincadeiras infantis. Fazem algumas críticas ao sistema político vigente no momento, narram suas dificuldades para estudar e suas migrações para o sudeste do Brasil, como forma de melhoria nas condições de vida. Tanto as crônicas como as entrevistas expressão a forte religiosidade católica, o desespero das secas e as esperanças de chuvas, e a identidade do homem sertanejo como sendo persistente, com coragem e honra. Podemos perceber, enfim, que a história tem muito a nos revelar e nunca devemos pensar que encontramos a "verdade" ou vermos apenas uma face da história, esse lado sempre oculta fatos e acontecimentos essenciais à compreensão.
Instituição de Fomento: PIBIC/CNPq
Palavras-chave: Seridó, Crônicas, Entrevistas orais.