O Movimento Humano é uma linguagem do Homem que possibilita interagir com o meio no qual está inserido. Esse movimentar-se do Homem é cultural e socialmente determinado, implicando no seu relacionamento com o mundo. A Educação Infantil, que a partir da LDB de 1996 passou a integrar o Ensino Básico como a primeira etapa da formação escolar, é um espaço privilegiado para o Movimento Humano ocorrer de maneira central na formação da criança, pois está movimenta-se de forma freqüente para expressar sentimentos, emoções e pensamentos. A partir de uma visão crítica de homem, educação e sociedade, objetivamos apontar caminhos para a compreensão do Movimento Humano como um importante meio de contemplar a formação humana na educação infantil. Para tanto, consideramos o espaço educacional como meio de desenvolvimento das capacidades do individuo enquanto ser histórico-social e cultural. Desta forma, defendemos uma formação Omnilateral na Educação Infantil, oferecida por intermédio do principio educativo proposto por Antonio Gramsci, em uma escola unitária. Desse modo, pretendemos fomentar as discussões sobre a inserção da Educação Física na educação infantil a partir de uma visão crítica.

A pesquisa em tela teve como ponto de partida observações sistemáticas de aulas ministradas para crianças em um Centro de Educação Infantil (CEINF) em Campo Grande/MS. A população foi delimitada em alunos com idade entre 3 e 4 anos. Esses alunos foram observados durante quatro dias letivos, correspondentes à rotina do período matutino. Como instrumento para coletas dos dados, utilizamos uma matriz de observação semi-estruturada com um eixo teórico norteador que incorpora o conceito de homem, educação e sociedade visualizado e analisado nas aulas observadas. Essa matriz foi construída tendo como base as teorias de Antonio Gramsci e Dermeval Saviani. Nas teorias gramsciana trabalhamos como as categorias de intelectual, principio educativo e escola unitária, e na teoria de Saviani trabalhamos a Pedagogia Histórico-Crítica. O conceito de politécnica e omnilateralidade foram referências em ambos os autores.

Durante o período observado, pudemos detectar alguns pontos norteadores de como o Movimento Humano é (des)tratado na educação infantil: por um lado assistematico e como instrumento de controle, e por outro é reprimido. Em vários momentos, por exemplo, observamos as professoras dando ordens aos alunos para "sentarem encostados na parede" e/ou avisando aos alunos que "se não sentasse eles iriam para um outro local onde uma outra professora (que eles temiam) estava". Em relação à participação dos alunos em práticas de movimento, tais como atividades físicas, brincadeiras e jogos, poucos participaram, não pela falta de vontade, mas sim, pela falta de oportunidade. Em sua maioria, ficaram sentados num canto do pátio vendo os demais, por exemplo, pela falta de dinâmica na atividade. A partir da pressuposição das teorias que concebem o Homem integral, como a visão da omnilateralidade, e com base na nossa matriz teórica, acreditamos que o movimentar-se do homem é limitado nas escolas de Educação Infantil, sem trabalhar com uma visão de formação do homem integral, aprofundando a dualidade corpo e mente, sem levar em consideração todas as possibilidades de desenvolvimento do homem, em detrimento de uma visão fragmentada e dicotômica.

O Movimento Humano na Educação Infantil, por se constituir em uma linguagem de interação com o mundo, deveria receber olhares mais acentuados por parte de professores e políticas públicas, porque o ato de movimentar-se faz parte do processo de desenvolvimento das capacidades e faculdades humanas. A partir do olhar sobre a educação infantil, podemos concluir que o movimentar-se das crianças é um ato reprimido no espaço da educação infantil. Se esse ato é reprimido, então podemos indagar qual a formação dos alunos na Educação Infantil, e concluir que não é uma formação integral, pois o Movimento Humano não é considerado como parte da formação humana dos alunos. A partir da pressuposição de uma formação integral, acreditamos que o Movimento Humano (não somente ele, mas também, todas as formas de manifestações dos homens) deve fazer parte dos currículos das escolas de Educação Infantil, como elemento de integração da formação educacional completa, especialmente com a inserção de profissionais capacitados para trabalharem nessa área.