Solanum cernuum Vell (Solanaceae) é uma espécie endêmica, popularmente conhecida como barba-de-bode, bolsa-de-pastor, braço-de-preguiça, braço-de-momo, velame, velame-de-folha-grande ou velame-do-campo. É uma árvore com altura de 2 a 6 m, com tempo de vida superior a 20 anos e é relativamente comum em áreas remanescentes da mata atlântica do sudeste de Minas Gerais.

O início da pesquisa com Solanum cernuum Vell ocorreu em 2009, quando o vegetal foi cultivado, suas folhas coletadas e submetidas à extração com hexano. O extrato passou por triagem farmacognóstica e avaliação da atividade reguladora do crescimento (AARC) de plantas utilizando-se sementes de Zea mays L. (milho, monocotiledônea), Cucumis sativus L. (pepino, dicotiledônea) e de planta daninha Bidens pilosa L. (picão preto).

Folhas de Solanum cernuum foram coletadas, secas em estufa e após moagem, o pó foi armazenado em vidros hermeticamente fechados. O pó foi submetido à extração contínua durante 72 horas, em aparelho de Soxhlet, e após concentração em evaporador rotativo o extrato hexânico das folhas foi obtido na forma de um óleo. Na triagem farmacognóstica deste extrato pesquisou-se saponinas, ácidos orgânicos, açúcares redutores, polissacarídeos, fenóis e taninos, flavonóides, alcalóides, glicosídeos cardíacos, esteróides, triterpenóides e carotenóides. Para a avaliação da AARC, sementes de milho e de pepino foram adquiridas comercialmente e as de picão preto coletadas na fazenda experimental do CEUNES. Os testes de AARC de plantas feita com extrato hexânico de folhas de S. cernuum foi realizada de acordo com a literatura, com sementes de Zea mays L. (milho), Cucumis sativus L. (pepino) e da planta daninha Bidens pilosa L. com soluções do extrato nas concentrações de 1, 100, 500 e 1000 mg/mL. Os experimentos foram conduzidos em placas de Petri e incubadas por sete dias a 25 ºC, sob luz fluorescente (8 x 40 W), com fotoperíodo de 12 horas. Os dados foram analisados utilizando-se o teste de SCOTT-KNOTT, a 5 % de probabilidade.

No extrato hexânico das folhas de S. cernuum foi detectada a presença de alcalóides, flavonóides, flavononas, triterpenóides, esteróides, flavonas, flavonóis, xantonas, saponinas, taninos e resinas. Flavonas, flavonóis e xantonas podem estar relacionados com a co-pigmentação em flores, atuando como protetores contra raios UV nas folhas Os flavonóides são um grupo de interesse econômico e, principalmente, farmacológico, por apresentarem atividade antitumoral, antiinflamatória, antioxidante e antiviral. A fitotoxidade do extrato hexânico foi mais intensa na inibição do crescimento de radículas do pepino e no desenvolvimento das plântulas do milho a partir da concentração de 500 mg/mL. Rice (1984) definiu o termo alelopatia como uma associação prejudicial e/ou benéfica entre plantas através de interações químicas, incluindo os microrganismos. A ação dos aleloquímicos está envolvida na inibição e em modificações nos padrões de crescimento ou desenvolvimento das plantas. Os aleloquímicos podem ser específicos em suas ações e as plantas podem ser seletivas em suas respostas, por este motivo torna-se difícil estabelecer o modo de ação destes compostos. Vários pesquisadores listam inúmeros mecanismos de ação dos aleloquímicos, que afetam vários processos fisiológicos das plantas.

De acordo com a literatura, alguns compostos químicos exercem atividade alelopática inibitória em altas concentrações e outros, em doses menores podem induzir o mesmo processo. Esse fato foi observado em relação aos experimentos com milho, respectivamente para as concentrações de 500 e 1 mg/mL do extrato hexânico. Devido à sua importância farmacológica, a presença de alcalóides e flavanóides no extrato hexânico sugere estudos de separação cromatográfica para identificação e caracterização de constituintes puros.