62ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 4. Ecologia
SUCESSAO ECOLÓGICA DAS ILHAS DO ATOL DAS ROCAS, ATLANTICO SUL EQUATORIAL
Michella de Albuquerque Lima 1
Marcelo de Oliveira Soares 2
1. Depto. de Bioquímica e Biologia Molecular, Universidade Federal do Ceará - UFC
2. Prof.Dr.⁄Orientador - Depto. de Arqueologia e Ciências Naturais - UFPI
INTRODUÇÃO:
Os atóis recentes existem em diferentes províncias geológicas dos mares tropicais. Considerando a evolução dos atóis baseada nos efeitos eustáticos e hidro-isostáticos do nível do mar, sabe-se que essa configuração é apenas um estágio temporário que existiu em uma pequena fração de tempo durante o Quaternário. Dessa forma, a morfologia clássica dos atóis atuais, só passou a ter essa configuração no Neógeno. Tais ambientes recifais comumente diferem significativamente em relação ao número, tamanho, continuidade e morfologia das ilhas. O Atol das Rocas é um dos menores recifes oceânicos do mundo e o único Atol do Atlântico Sul Equatorial Ocidental, onde há várias décadas são realizadas pesquisas científicas, entretanto uma série de aspectos da sucessão da fauna e flora necessita ser mais bem elucidado. Assim, este estudo tem como objetivo a construção de um modelo de sucessão ecológica para as ilhas arenosas deste Atol.
METODOLOGIA:
A área estudada está localizada no Atol das Rocas, situada no topo de uma cadeia de montanhas submarinas no Oceano Atlântico Sul. Sua base encontra-se a 4000 metros de profundidade no leito oceânico, a 3°51'S Latitude e 33°49'W Longitude, distante 266 km da cidade de Natal e a 150 km à oeste do arquipélago de Fernando de Noronha, no Nordeste Brasileiro. As coletas foram realizadas no ano de 2008 nas ilhas arenosas do Farol e Cemitério. As ilhas arenosas estão localizadas a sotavento no interior do anel do Atol das Rocas, representando os únicos locais que ficam descobertos durante a preamar. Tais ilhas arenosas constituem as partes constantemente emersas, sendo denominadas de ilha do Farol e a do Cemitério. Para construção do modelo de sucessão ecológica, foram obtidos dados geológicos e biológicos. Os dados geológicos compreenderam a datação das ilhas, a variação do nível do mar e o levantamento dos processos geomorfológicos que levaram a configuração atual do relevo. Os organismos foram identificados nos trabalhos de campo e no laboratório no caso de identificação duvidosa ou não passível de ser realizada no Atol.
RESULTADOS:
A queda do nível do mar levou a formação de um ambiente lagunar raso, de um amplo depósito arenoso e das ilhas a sotavento (fixadas por cianobactérias e plantas herbáceas) nos últimos 2000 anos. A entrada de energia no ecossistema insular foi realizada inicialmente através da matéria orgânica do guano das aves migratórias e dos restos decompostos da biota marinha. As espécies da sucessão primária (esteiras microbiais e a herbácea Sesuvium portulacastrum) iniciaram o desenvolvimento da comunidade em uma zona entremarés através do trapeamento de partículas sedimentares e, posterior, fixação de sedimentos e retroalimentação positiva na geração de matéria orgânica. O acúmulo sedimentar permitiu a formação de ambientes de supramáres e colonização de outras espécies herbáceas (Cyperus ligularis e Eragrostis sp.) incapazes de suportar imersão nas marés altas. Larvas de caranguejos Goniopsis cruentata e Gecarcinus lagostoma foram transportadas por correntes oceânicas para colonização da área terrestre recém criada. Uma fauna sinantrópica (certos insetos e pequenos mamíferos) apareceu em um estágio tardio da sucessão ecológica com forte componente do "efeito do fundador" na biogeografia das ilhas do Atol das Rocas, sobretudo nos últimos 500 anos. A baixa capacidade de suporte das ilhas, sobretudo devido a escassez de água doce, não permite a ocorrência significativa de táxons como répteis e anfíbios. Os diferentes estágios da sere são demonstrados pela primeira vez para as ilhas arenosas deste recife.
CONCLUSÃO:
O modelo de sucessão ecológica sugere que as comunidades bióticas se desenvolveram no Holoceno tardio, portanto extremamente recentes no tempo geológico. As oscilações eustáticas do nível do mar, padrões de sedimentação carbonática, ocupações humanas pretéritas, migração por correntes oceânicas, e as características ecológicas da flora e fauna são os principais fatores estruturadores da sucessão observada no único atol do Atlântico Sul Equatorial.
Instituição de Fomento: CNPq, PETROBRAS, Fundação SOS Mata Atlântica
Palavras-chave: Ecologia de comunidades, Atol das Rocas, Holoceno.