Os meios de comunicação são agentes que se destacam no processo de representação e de construção da realidade, de formação das identidades dos indivíduos e de legitimação social. Questões ligadas à saúde e à velhice, bem como aos cuidados que cada indivíduo deve ter consigo mesmo, são pautas recorrentes na mídia e assuntos que vêm recebendo destaque nos estudos sociais. Esse trabalho tem como objetivo analisar de que modo a Revista Veja, em uma matéria específica, capa da edição publicada em dezoito de novembro de 2009, intitulada "Você está no comando", aborda essas temáticas.  Optou-se por Veja devido a sua importância e, enquanto veículo de caráter impresso e semanal do Brasil, devido ao fato dela possuir uma circulação média superior a um milhão de exemplares. 

Para alcançar o objetivo proposto, buscou-se inspiração na Análise do Discurso (AD), perspectiva teórico-metodológica que viabilizou o mapeamento das Sequências Discursivas (SD's) e, a partir daí, a definição das Formações Discursivas (FD's). Considerando que o discurso não acontece no texto (BENETTI, 2007) e que os seus sentidos não estão ali cristalizados, buscou-se definir as formações ideológicas às quais esse discurso está ligado, estabelecendo relações com a sua exterioridade. Além disso, para tornar tal trabalho possível, valeu-se de uma bibliografia específica, que englobou textos relacionados especificamente à comunicação, à velhice e ao corpo, envolvendo autores como Stuart Hall, Kathryn Woodward, Guita Grin Debert e Denise Bernuzzi de Sant'Anna.

A partir da análise da reportagem "Você está no comando" foram destacadas quinze Sequências Discursivas. Essas sequências, marcas que permitiram o embasamento do trabalho, referiam-se à diferentes aspectos do tema da reportagem, embora colaborassem para a constituição de um sentido predominante. A SD1, por exemplo, é "conhecer o funcionamento do organismo é o primeiro passo para a longevidade saudável e feliz", enquanto a SD7 é "conhecer o seu corpo lhe dá o poder de mudá-lo, mantê-lo e fortalecê-lo". Embora sequências distintas, ambas apontaram para um sentido hegemônico e, desse modo, para uma Formação Discursiva. Apoiado por uma Formação Ideológica, o discurso presente na publicação apresentou cada indivíduo como responsável pela sua saúde e pelo seu corpo, reprivatizando a velhice (DEBERT, 1999) e, ainda, convertendo a juventude em um valor a ser alcançado, independente da faixa etária. 

O discurso de que o indivíduo está no controle de seu corpo, de sua saúde e de sua velhice, que se tornou perceptível mediante a análise realizada ao longo desse trabalho, não faz parte apenas dessa revista. Do mesmo modo como ele não termina ali, ali também não é o local em que ele é construído. Não há jornalismo sem aquilo que costumamos compreender como sendo exterior (JACKS e MACHADO, 2001) e, em vista disso, observa-se que, na verdade, a revista adere a um discurso pré-existente, ao mesmo tempo em que o reanima permanentemente. Nesse contexto, uma verdadeira corrida rumo ao corpo ideal, ao controle da saúde e à juventude é legitimada pela mídia, aceita por parte da sociedade e considerada plausível o que leva, por conseguinte, a exclusão daqueles indivíduos inadequados aos padrões vigentes, que passam a ser vistos como perdedores em uma disputa na qual nem mesmo sabem ao certo quem são os seus concorrentes (SANT'ANNA, 2001).