62ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 6. Literatura
O PAPEL DA MULHER NA LITERATURA INFANTO-JUVENIL: DA SUBMISSÃO AO QUESTIONAMENTO    
Maria José da Silva Morais 1
Isabel Cristina Auler Pereira 1
1. Universidade Federal do Tocantins - Campus de Palmas
INTRODUÇÃO:

A pesquisa tem como objetivo conhecer e compreender a representação da mulher na literatura infanto-juvenil, desde os contos primordiais até a atualidade, bem como aprofundar o conhecimento sobre a história do feminismo no Brasil e no mundo. Esta é decorrente da inquietação de se conhecer as formas de representação da mulher na literatura infanto-juvenil, desde os contos primordiais até os contemporâneos. O trabalho justifica-se pela relevância que os textos literários infantis têm na formação das crianças, por apresentar recortes sociais representativos dos papéis assumidos pelas mulheres ao longo da história da humanidade. O trabalho contribui para a reflexão sobre as abordagens assumidas, em relação a essa temática, tanto pelos contos primordiais como por autores contemporâneos como Monteiro Lobato, Ruth Rocha e Lygia Bojunga que assumiram um posicionamento mais evoluído em relação aos papéis assumidos pelas mulheres. Neste sentido, permitirá que professores dos anos iniciais do ensino fundamental e estudantes universitários possam ter acesso a uma leitura mais crítica das obras de literatura infantil, ressignificando-as em seu papel formador de leitores capazes de reverter o que vem sendo reproduzido por séculos nas obras literárias.

 

METODOLOGIA:

Para efetivação da pesquisa, utilizamos a pesquisa bibliográfica (ALVES, 2001), (LAJOLO, 1994), (MORENO, 1999), (TELES, 1999) com caráter exploratório, devido à aproximação do objeto em estudo e será complementada com uma pesquisa de campo. Em princípio, serão analisados os papéis assumidos pelas mulheres nos contos infantis primordiais como "Branca de Neve", "Cinderela, Rapunzel", "Chapezinho Vermelho", "A Bela e a Fera" e "A Bela Adormecida", assim como nas obras contemporâneas: "A Bolsa Amarela" (BOJUNGA, 2007), "Faca Sem Ponta galinha Sem Pé" (ROCHA, 2007). Posteriormente, com vistas à complementação da análise, será aplicado um questionário semi-estruturado aos professores  de XXX escolas da Educação Básica como forma de apreender como essa representação é assimilada e repassada pelos professores aos alunos. Os dados serão interpretados de modo global e individual, de modo a subsidiar a reflexão sobre a abordagem dos professores dos anos iniciais em relação aos papéis assumidos pelas mulheres, nos contos infantis contemplados pelo corpus da pesquisa.

RESULTADOS:

O projeto encontra-se em fase de desenvolvimento, sendo que os resultados parciais já estão sendo sinalizados, em consonância aos objetivos propostos. Aborda a história do feminismo no Brasil e no mundo, uma vez que este foi o precursor do movimento de conquistas da mulher na sociedade e consequentemente, reflete sobre os papéis assumidos por ela na literatura infanto-juvenil primordial e contemporânea. Nos contos primordiais, a mulher é retratada como um ser frágil, dependente da força masculina evidenciada, muitas vezes, apenas por seus atributos físicos. Nessas narrativas, são estabelecidos padrões de comportamentos pré-estabelecidos para homens e mulheres, sendo que a esta última cabia sempre as atribuições da casa ou o sofrimento, em virtude de sua fragilidade. Na literatura infanto-juvenil contemporânea, autores como Ruth Rocha e Lygia Bojunga rompem com essa tradição de sujeição feminina e, em seus livros "Faca Sem Ponta galinha Sem Pé" (2007) e "Bolsa Amarela" (2007), revertem essas abordagens reproduzidas por séculos e evidenciam que as mulheres começavam a questionar esses conceitos determinados pela sociedade.

CONCLUSÃO:

O papel vivenciado pela mulher, ao longo da história da humanidade, está representado na literatura infanto-juvenil deixando marcas evidentes da sujeição feminina em sua relação ao mundo masculino. Os contos infantis primordiais, de modo especial, dão mostras dessa submissão e da restrição do papel da mulher ao casamento e à criação dos filhos. Todavia, a partir do século XX, autores como Monteiro Lobato, Ruth Rocha e Lygia Bojunga trouxeram para a literatura uma nova forma de representação das mulheres, tornando-as questionadoras e cientes de seu papel na sociedade. A sujeição da mulher ao poder masculino e a simplificação dos personagens femininos nos contos primordiais não são analisados de forma aprofundada e, muitas vezes, sequer percebidos. Ao se trabalhar com os textos literários introduzidos a partir do século XX, com o aparecimento de alguns personagens mais transgressores no que se refere ao perfil feminino essa discussão poderá ser incentivada, todavia, dependerá sempre da formação do professor. Resta à escola, caminhar para uma leitura mais crítica das histórias infantis, como forma de suscitar o debate e a percepção dos estudantes sobre as formas pelas quais as mulheres são representadas, pois somente dessa forma se tornarão verdadeiros leitores da realidade social. 

 

 

Instituição de Fomento: Ministério da Educação/Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior/Programa de Educação Tutorial - PET
Palavras-chave: A mulher e a literatura infanto-juvenil brasileira, A abordagem da mulher nos contos primordiais, Os personagens femininos nos contos contemporâneos..