62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 1. Antropologia - 3. Antropologia das Populações Afro-Brasileiras
O PAPEL DOS GRUPOS DE AFOXÉS NA CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DA JUVENTUDE NEGRA
Suzana Teixeira de Queiroz 1
Carlos Augusto Sant'anna Guimarães 2
Maria Auxiliadora Gonçalves da Silva 3
1. DIPES, Fundação Joquim Nabuco/FUNDAJ
2. Pesquisador MSC/Orientador/DIPES, Fundação Joaquim Nabuco/Fundaj
3. Profª DRª/Co-Orientadora/DLCH, Universidade Federal Rural de Pernambuco/UFRPE
INTRODUÇÃO:
O presente trabalho tem como objetivo traçar, por meio de relatos de vivência, os processos de construção da identidade e afirmação étnica da juventude negra participante de afoxés - grupos culturais/musicais vinculados a uma Casa de religião de Matriz Africana (comumente designada de Terreiro de Candomblé), ou quando o seu responsável pertence à um Terreiro de Candomblé como Filho-de-Santo -, na cidade do Recife e Região Metropolitana. Buscamos analisar situações de preconceito e discriminação racial sofridas pelos entrevistados e as repercussões na vida dos sujeitos, assim como identificar as estratégias de superação do preconceito racial através da permanência e desenvolvimento/ participação nas atividades do afoxé. Parte-se da assertiva de que o indivíduo é condicionado pela sociedade em que vive e também pelos processos de reprodução da ideologia dominante, conforme Althusser(1991) e Bourdieu(1975). A pesquisa constatou que as experiências de preconceito e discriminação racial vividas por eles quando crianças e na adolescência, nos ambientes escolares que passaram ou em outros locais públicos e em locais privados, são reconhecidas ou como atos discriminatórios ou como situações corriqueiras isentas de conteúdo racista.
METODOLOGIA:
A pesquisa, de cunho qualitativo, foi realizada com 04 (quatro) afoxés, localizados na cidade do Recife e em sua Região Metropolitana. Foram entrevistados 10 (dez) jovens, com idades entre 18 e 25 anos, que aceitaram participar do estudo. As técnicas de coleta escolhidas foram: entrevista semi-estruturada, onde uma mesma série de perguntas foi aplicada com todos os entrevistados, e a observação (não participante) do dia a dia dos jovens nos ensaios e apresentações públicas com o afoxé. Os participantes da pesquisas foram questionados sobre sua infância e adolescência; suas experiências nos ambientes escolares formais; sobre como tomou conhecimento do afoxé ao qual pertence e como foi o processo de inserção; se houve mudança nas suas opções e escolhas, profissionais e pessoais, depois do afoxé. O trabalho também analisou as estratégias utilizadas por esses jovens para autoafirmarem sua identidade negra em uma sociedade reconhecidamente racista.
RESULTADOS:
Os jovens expressaram em seus relatos os conflitos que passaram - e passam - cotidianamente no que se refere a situações de discriminação racial, que os afetaram de tal forma a ponto de alguns terem abandonado os estudos. Alguns dos entrevistados mudaram a rotina e horários diários para evitar possíveis constrangimentos. Já o processo de escolha e de estabelecimento no afoxé caracteriza o grupo como o "lugar" onde os jovens se descobrem, se (re)conhecem e onde ampliam sua visão de mundo. Nesse trajeto estão incluídos a negritude, as práticas religiosas, a condição social e econômica que interfere no avanço da escolaridade, além da constante cobrança a si mesmo em encontrar soluções para reverter um quadro de exclusão presente no cotidiano da população negra no país. Os jovens classificaram o afoxé como um meio para a visibilidade social positiva, de reconhecimento de seu talento recém descoberto dentro e fora da comunidade. Aqueles que se tornaram adeptos da religião de Matriz Africana nos revelaram a ocorrência de reações negativas por parte dos familiares, por serem evangélicos e também por parte dos amigos. Devido a isso, alguns se afastaram da família por um determinado período, retomando o convívio com os parentes com ou sem a aceitação de suas escolhas religiosas.
CONCLUSÃO:
Os jovens afrobrasileiros, presente nos grupos de afoxés pesquisados, demonstraram vontade em definir e estabelecer o seu lugar na sociedade. Seus anseios perpassam desde firmar opiniões acerca das oportunidades e atitudes que, segundo crêem, são essenciais para um futuro promissor até o desejo de se tornarem multiplicadores de uma corrente de construções e reconstruções de paradigmas e histórias vitoriosas. Os grupos de afoxés se enquadram no novo perfil dos movimentos sociais negros, qual seja, reafirmando da importância das expressões culturais afrobrasileiras para reforçar a afirmação da identidade negra e conservação da memória coletiva dos afrodescendentes, conforme Stuart Hall(2000). A atuação do jovem dentro do afoxé - no dançar, no tocar e nos cortejos - gera novas práticas e estratégias de afirmação de identidade que agem sobre a realidade em que vive. Modificam sua perspectiva de futuro e ampliam as oportunidades de inserção social no quadro de exclusão e marginalização da juventude negra.
Instituição de Fomento: Fundação Joaquim Nabuco/Fundaj
Palavras-chave: Juventude negra, Afoxés, Construção de Identidade.