62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 15. Formação de Professores (Inicial e Contínua)
O DISCURSO DOS PROFESSORES SOBRE A FORMAÇÃO CONTINUADA: SIGNIFICADOS E SENTIDOS NA PRÁTICA DOCENTE
Marcos Antônio Silva 1
Nilda de Oliveira Bentes 2
1. Universidade do Estado do Pará
2. Universidade do Estado do Pará
INTRODUÇÃO:

Esse estudo tem como temática a formação continuada ofertada pela Rede Pública Municipal de Ensino de Belém do Pará. Surgiu da necessidade de investigar o que está subjacente aos discursos de professores que participam desta formação. Buscou-se respostas para as inquietações: Qual o discurso do professor sobre a formação continuada? Em que momento o discurso da formação continuada se aproxima ou se distancia da prática pedagógica do professor? Até que ponto o professor se apropria da formação continuada para o exercício da profissão docente? foi utilizada a teoria enunciativa de Bakhtin para entendimento da contrapalavra dos professores e tentar chegar ao processo de internalização pelo qual passam os profissionais em uma formação continuada. Na verdade, aquele que ouve tem réplicas, tem suas concordâncias ou discordâncias; e muito embora não as verbalize, tem perguntas porque sabe que muito do que é informado não tem como ser feito. Então, o processo de internalização não se dá e a prática pedagógica não será transformada. Nesse sentido, fazer recortes dos discursos dos professores é pontuar as construções e reconstruções elaboradas pelo Grupo de Formação Continuada, de maneira a apontar criticamente como se construiu o ser profissional em uma formação continuada.

METODOLOGIA:

Fizeram parte deste estudo 15 professores com idades entre 33 e 49 anos lotados em uma escola municipal do município de Belém; dois do sexo masculino e 13 do sexo feminino. A coleta de dados deu-se via grupo focal e dois professores foram selecionados e entrevistados individualmente. Para Gatti (2005), a técnica do grupo focal é muito útil quando há interesse em compreender as diferenças existentes em perspectivas, idéias, sentimentos, representações, valores e comportamentos de grupos diferenciados de pessoas, bem como compreender os fatores que os influenciam, as motivações que subsidiam as opções e os porquês de determinados posicionamentos. A entrevista semiestruturada foi fundamental para entrecruzar os dados do grupo focal e aproximar os discursos dos professores acerca da formação continuada. A Entrevista com roteiro semiestruturado é uma técnica colaboradora nesse processo, de acordo com Lüdke & André (1986), esta proporciona um clima de interação entre os envolvidos criando-se assim uma atmosfera de influência recíproca entre quem pergunta e quem responde. Emergiram cinco eixos temáticos, objetivando que o sujeito em sua fala descrevesse como concebe cada referente que enseja vozes de diferentes lugares o sentido atribuído a formação continuada dos professores.

RESULTADOS:

A análise dos dados do discurso mostra, então, o que as pessoas pensam e, também, o que as pessoas não sabem que pensam. Entre essas diferentes vozes do discurso dos professores, as falas apontam modulações que se articulam dialeticamente entre os dois lugares sociais que ocupamos - o da própria pessoa e a do outro. Procurando entender o dizer da professora que não aceita essa teoria por não ser condizente com sua realidade precisamos discutir o que seja discurso, mais especificamente discurso ideológico. Para Bakhtin, os fenômenos ideológicos são determinados pelo conjunto das leis sociais e econômicas e como a ideologia é materializada no discurso, estes, possuem sentido e conteúdo ideológicos, pois estão relacionados a um contexto e a um grupo social determinado. Os professores percebem claramente a necessidade de uma base teórica para entender o que é discutido na Formação Continuada. O desejo de compreensão reflete na necessidade da reflexão crítica sobre o que e como o discurso teórico contribui para a prática pedagógica do professor, o que os princípios da formação e do sucesso escolar podem significar para construir uma nova prática escolar. Os sujeitos, a partir de suas percepções, afirmaram a necessidade de continuar acreditando que é possível consolidar novas práticas.

CONCLUSÃO:

Apesar das réplicas negativas quanto à metodologia utilizada, há a certeza de que a formação continuada cumpre com o seu papel fundamental que é o de contribuir para que o professor tenha além do gosto pela leitura, o hábito da pesquisa e a disposição para construir textos relacionados ao fazer pedagógico. Uma discussão de maior polêmica em relação à formação continuada de acordo com os dados coletados não está na sua operacionalização, e sim no momento em que este educador se depara com a sala de aula e encontra dificuldades que a formação não deu conta de abarcar. A insistência em afirmar que as experiências práticas de sala de aula precisam ser ainda mais trabalhadas durante a formação é um "apelo" a tudo que foi importante e positivo, e que por isso precisa continuar a aparecer nas discussões coletivas em um fluxo maior de interlocuções. Os enunciados deste percurso conduziram não só às reflexões sobre a formação continuada e a prática pedagógica dos professores, mas ao peso ideológico das palavras; por trás das palavras de quem anuncia as atividades e coordena os trabalhos da formação há um contexto de significados muitas vezes distante da realidade de muitas escolas de Belém. Essas reflexões são interessantes para que possamos avaliar a formação continuada.

Palavras-chave: Formação Continuada, Discurso, Práticas Pedagógicas.