62ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 2. Literatura Comparada
A FLORESTA E O SERTÃO: O ESPAÇO COMO REPRESSÃO DO SER
Arnaldo Bruno Lopes vital 1
Sandra Sasseti Fernandes Erickson 2
1. Depto.de Letras, Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
2. Profa. Dra. - Depto. De Línguas e Literaturas Estrangeiras Modernas- UFRN
INTRODUÇÃO:
O entendimento do homem como tal foi e continua sendo perpassado pelo confrontamento deste com a natureza. A análise das possibilidades humanas, a constituição e construção de um conceito de homem surgiram na tentativa de entender o universo em que ele está inserido. Toda a complexidade da existência, todo o conflito e necessidade de explicação se originaram na observação dessa força que se ergue, milagrosa e única, confrontando-o. Assim, apresentando o homem e suas dúvidas, observando suas inquietações e incertezas, este trabalho busca trazer à discussão esse confronto através da problematização e comparação de duas obras que magistralmente representam o poder dessa natureza repressiva: Os Sertões (1902) de Euclides da Cunha (1866-1909) e Heart of Darkness (Coração das Trevas) (1902) de Joseph Conrad (1898-1924). No estudo de duas naturezas distintas, a floresta e o sertão, procuraremos demonstrar como esses espaços, estranhos ao olhar do homem, podem enriquecê-lo e engrandecê-lo através de um conhecimento mais amplo sobre o mundo, sobre o outro e sobre ele mesmo.
METODOLOGIA:
Além da pesquisa bibliográfica e análise textual, usaremos a teoria e metodologia do crítico literário norte-americano Harold Bloom (1931- ), a saber, a angústia da influência e o revisionismo dialético, para analisar e explicar as relações entre Os sertões e um de seus textos "pais", Heart of Darkness (Coração das Trevas). A proposta metodológica de Bloom é "revisionista" no sentido em que trata qualquer texto como resultado de uma escritura anterior contra a qual o autor desenvolve uma "inveja criativa", que deve ser trabalhada agonicamente e à qual o crítico deve "desler". Outros métodos de apoio são utilizados no desenvolvimento da presente "desleitura" de Os sertões e Heart of Darkness, tais como: estudo comparativo das técnicas, temas e imaginário dos dois textos; simbologia; "close reading" e análises dos contextos historiográficos e estéticos, no sentido de tratar as relações entre esses textos.
RESULTADOS:
A comparação das duas obras, Os sertõe e "Heart of Darkness" (Coração das Trevas), nos esclareceu a sagacidade dos autores na criação e representação da natureza como força incoercível e incomparável. Através das naturezas criadas, do mundo novo apresentado - que surge de um esforço de explicação; os autores oferecem novas veredas, novas possibilidades, que passam a integrar o homem que com elas estabelece contato. Assim, é oferecida ao leitor a oportunidade de analisar-se, de observar-se através dessa perspectiva outra, o que provoca uma transformação e uma renovação interior - um renascimento. Observamos também que a representação da natureza euclidiana é mais poderosa, já que o sertão se ergue de forma magnífica e única, unindo a disparidade das antíteses e mostrando claramente a fragilidade do homem. Perde, porém, pelo uso da moderação, pelo medo de ousar, como Conrad, no rigor contra a raça "superior".
CONCLUSÃO:
A associação das duas naturezas irá tentar buscar o que elas oferecem de mais belo: o encontro do homem com o outro, que, sem atacar, consegue tocar na ferida o nosso preconceito, proporcionando uma transformação de cada um de nós em seres melhores. Através da formação desses lugares de liberdade, de criação, podemos rever os preceitos de nossa cultura e reavaliar nossos conceitos no que diz respeito à organização do homem em sua civilização e sua relação de indivíduo com a alteridade. Dessa maneira, além de todo o potencial estético, os textos oferecem perspectivas antropológicas, o que os enriquece e os faz agir sobre a realidade exterior, não-ficcional.
Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq
Palavras-chave: Sertão , Floresta, Civilização.