A carência nutricional em regiões tropicais é um fator determinante no retardo da ocorrência do primeiro estro pós-parto em ruminantes. Diante disso, principalmente na região Nordeste do Brasil, buscar alternativas alimentares aplicáveis aos rebanhos pode contribuir para minimizar esse problema. Dentre essas alternativas, a utilização de subprodutos da agroindústria tem sido bastante estudada para complementar a nutrição animal. No Nordeste, especialmente no período da seca, pode-se explorar o potencial local da região, destacando a produção do caju e de seus subprodutos, tais como o bagaço de caju. Diante do exposto, o presente estudo teve como objetivo avaliar o efeito da suplementação alimentar com bagaço de caju desidratado sobre a resposta à sincronização do estro pós-parto em cabras Anglo-Nubiana.

O presente estudo foi realizado na fazenda experimental Campo da Semente, pertencente à Faculdade de Veterinária/UECE, em Guaiúba-Ce. Logo após o parto, 25 cabras da raça Anglo-Nubiana adultas, com peso e escore corporal homogêneos foram divididos, em dois grupos: controle (n=15) e grupo tratado (n=10). O grupo controle recebeu silagem de sorgo (75%) + concentrado comercial (25%) e o grupo tratado, além do concentrado comercial (25%), recebeu uma mistura de bagaço de caju desidratado (55%) + capim elefante (20%). Todos os animais tiveram acesso à pastagem nativa das 7:00 às 16:00 horas e, quando recolhidas ao capril, recebiam a suplementação acima citada. Além disso, tiveram acesso à água e sal mineral ad libitum. Aos cinquenta dias pós-parto o estro foi sincronizado com dispositivos intravaginais (CIDR^®) por 5 dias, e ao final receberam 1 mL (5 mg/animal) de PGF₂α (Lutalyse^®). Após a retirada dos dispositivos, as cabras foram colocadas junto ao macho por três dias consecutivos. Cada reprodutor portava coletes marcadores, para detectar as fêmeas que apresentavam o estro.

O número de animais marcados pelos reprodutores após a sincronização de estro foi semelhante para ambos os grupos (p>0,05), com 100% no grupo controle e 90% no grupo tratamento. Em trabalhos realizados com ovelhas Santa Inês submetidas ao mesmo protocolo de sincronização, a inclusão de níveis crescentes de bagaço de caju, variando entre 25 a 75% durante o período de estação de monta, apresentaram taxas de estro de 91,66 a 100%. Todos os animais em nosso experimento entraram em estro até as 72 horas após a retirada do CIDR^®. No entanto, no grupo controle o número de animais que manifestaram estro nas primeiras 24 horas (60%) foi significativamente superior (p<0,05), quando comparado aos demais períodos (33,33%, 48 horas e 6,67%, 72 horas). Por sua vez, o grupo suplementado com bagaço de caju desidratado, a detecção do estro foi similar entre os períodos, sendo 44% até 24 horas, 44% em 48 horas e 11% em até 72 horas.  

Esses resultados mostraram que não houve influência negativa da suplementação com bagaço de caju desidratado sobre a resposta ao tratamento de indução de estro. Desta forma, protocolos de sincronização como os utilizados em nosso estudo são alternativas viáveis durante os períodos de escassez de alimentos.