62ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 1. Enfermagem - 4. Enfermagem Obstétrica
ATITUDES DE GESTANTES FRENTE À AUSÊNCIA DO COMPANHEIRO NAS CONSULTAS DE PRÉ-NATAL
Flávio César Bezerra da Silva 1
Rosineide Santana de Brito 2
1. Prof Mestre - Escola de Enfermagem de Natal - UFRN
2. Profa Dra/Orientadora - Depto de Enfermagem - UFRN
INTRODUÇÃO:
O atendimento à mulher no período gestacional, em nível de consultório, traz à tona assuntos inerentes ao reduto familiar e particularidades dos cônjuges. Nesse contexto é notória a pouca participação do homem no âmbito das consultas de pré-natal. Frente a essa realidade, é necessário conhecer aspectos que dizem respeito ao casal durante a gravidez. Assim sendo, o estudo teve como propósito investigar o significado atribuído por gestantes quanto à ausência do companheiro nas consultas de pré-natal, dentro da conjuntura sociopolítica e cultural onde estavam inseridas. Nesses cenários, a atuação do enfermeiro se reveste de importância por ser um profissional que atua diretamente junto à mulher e família. Dessa forma deve ter capacidade e sensibilidade para observar as reações da gestante durante a gravidez, ao abordar aspectos fisiológicos, sociais e, em particular, os psicoemocionais, que podem predispor a grávida a um desequilíbrio do seu bem-estar como um todo. Esse estudo assume relevância na medida em que subsidia e favorece o planejamento de ações facilitadoras do acesso dos homens ao pré-natal. Além disso, contribui para o bem-estar do casal durante a gestação, com repercussão positiva no parto, no puerpério e no aleitamento materno.
METODOLOGIA:
Trata-se de um estudo exploratório descritivo com abordagem qualitativa que teve como referenciais teórico-metodológicos a teoria fundamentada e o interacionismo simbólico. Participaram 20 gestantes inscritas no programa de pré-natal de uma unidade básica de saúde de um município da grande Natal-RN em 2009, mediante prévia autorização formal da instituição. A seleção das participantes ocorreu de forma intencional, onde atenderam aos seguintes critérios de inclusão: idade igual ou superior a 18 anos e que convivessem sob o mesmo teto com o companheiro. Para obter-se a permissão das entrevistadas, elas eram convidadas a participar do estudo na medida em que compareciam às consultas de pré-natal. Mediante aceitação, agendava-se dia e hora da entrevista. Para coleta de dados utilizou-se um roteiro de entrevista semiestruturada As entrevistas seguiram o seguinte padrão de abordagem: leitura do TCLE em voz alta pelo entrevistador, indagação sobre a compreensão das mesmas quanto ao teor do documento, assinatura deste e permissão para uso do gravador. Para garantir o anonimato das grávidas, foram utilizados nomes de flores. Enquanto projeto, o estudo foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte que emitiu Parecer favorável sob nº 028/2009.
RESULTADOS:
Seguindo o referencial teórico da teoria fundamentada, surgiram quatro subcategorias, três categorias secundárias e a categoria central. No que se refere à subcategoria ¨Atitudes da mulher durante o pré-natal¨, os depoimentos evidenciam decisões tomadas pelas gestantes frente aos comentários, comportamentos e atitudes de seus companheiros As participantes repassam informações recebidas durante as consultas de pré-natal e revelam atitude de autoproteção. Ao se depararem com a ausência do companheiro no momento das consultas de pré-natal, enfrentam uma realidade contrária ao seu desejo. Partindo do princípio de que as experiências ocorrem em determinado contexto social, a gestante, ao observar outras grávidas com seus parceiros no serviço de pré-natal, elabora o desejo de vivenciar aquela situação. Porém, mediante a impossibilidade de ter o almejado, assume uma atitude de autoproteção, como meio de prevenir sentimentos negativos, advindos da ausência do seu cônjuge nas consultas. Sob a ótica interacionista, os discursos das entrevistadas revelam que elas estabelecem comunicação consigo mesmas e selecionam respostas que lhes são mais convenientes, frente à ausência do companheiro no pré-natal, qual seja, procuram não pensar, para não sofrer.
CONCLUSÃO:
Durante a gravidez, a mulher necessita de cuidados profissionais, como também de apoio e compreensão do companheiro. Este apoio torna a gestante mais confiante e desenvolve atitudes que se traduzem em cuidado mútuo. No entanto, em uma sociedade na qual o sexo masculino se sobressai, o processo de interação do casal é impulsionado pelas questões de gênero no seu contexto familiar. Convém ressaltar que no período gravídico, a relação conjugal tende a se modificar em decorrência dos aspectos fisiológicos, psicológicos e emocionais femininos, requerendo do parceiro entendimento. Assim, a inclusão dele no pré-natal apresenta relevância, visto que a maior incidência de patologias gravídicas recai no grupo de mulheres que têm o cônjuge ausente nesse período. Desta forma, a gestante, assumindo atitude de autoproteção, por não vivenciar a presença do cônjuge no pré-natal, exerce atitudes positivas voltadas à homeostase física e familiar. Portanto, é preciso que os profissionais responsáveis pela atenção pré-natal percebam a problemática que envolve os cônjuges durante a gravidez. Para isso, se faz necessário que os serviços de saúde estabeleçam estratégia de captação dos companheiros para o consultório de acompanhamento à gestante e se estabeleça interação entre o profissional e o casal.
Palavras-chave: Enfermagem familiar, Pré-natal, Humanização da Assistência.