62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 5. Sociologia Rural
CANAFÍSTULA: VIDA E ESPERANÇA NO SERTÃO NORDESTINO. UM ESTUDO SOBRE A EXPERIÊNCIA DE DESENVOLVIMENTO LOCAL NA ORGANIZAÇÃO SOCIOECONÔMICA DO POVOADO DE CANAFÍSTULA, APUIARÉS/CE.
Meirejane Cardoso Gomes 1
Hermano Machado Ferreira Lima 1
1. Mestrado Acadêmico em Políticas Públicas e Sociedade. UECE
INTRODUÇÃO:
As políticas públicas em prol da agricultura familiar surgiram no Brasil, a partir da década de 1990 em decorrência do contexto macroeconômico da reforma do Estado. Dois fatores principais foram que motivaram o surgimento dessas políticas: a necessidade de intervenção estatal frente ao quadro crescente de exclusão social e o fortalecimento dos movimentos rurais. Em meio a esse contexto, foi articulado um projeto de Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável (DLIS) no Médio Curu/CE, Cordeiro do Semi-Árido, mediado pela Agência de Desenvolvimento Econômico Local - ADEL em parceria com a BrazilFoundation. As atividades do DLIS iniciaram-se em 2007, norteadas por uma concepção teórico-metodológica que elege o território como dimensão conceitual para realização da ação social fundada em dois eixos: o fortalecimento organizacional e a construção das bases para o desenvolvimento produtivo. Na comunidade de Canafístula, distrito de Apuiarés/Ce , um grupo de nove agricultores familiares está sendo beneficiado por essa ação que visa elevar a renda do pequeno agricultor por meio do fortalecimento associativo, a organização e comercialização da produção de caprinos. O meu objeto na pesquisa é analisar o desdobramento dessa intervenção com vistas ao desenvolvimento sustentável nesse grupo.
METODOLOGIA:
As técnicas metodológicas empregadas no estudo foram a observação participante na comunidade realizada no decorrer de seis visitas durante sete meses e entrevistas estruturadas a quinze atores sociais. Esse percurso exploratório me possibilitou o conhecimento da formação do povoado, contato com o "saber local", uma coleta de informações valiosas que me orientaram a elaborar minhas entrevistas e eleger outros informantes, além dos agricultores familiares. Essas narrativas demarcaram a construção de minha pesquisa na medida em que me dava conta da intensidade das relações, dos afetos, das intrigas familiares denunciados em gestos, em atitudes que se revelavam como símbolos permeados de significados e construídos no cotidiano (Geertz, 1989). O ponto de partida foi identificar que tais relações poderiam engendrar códigos e comportamentos sui generis, isto é, próprio de algo que se figurava em forma de poder, onde as individualidades se processam em formas sociais modeladas em habitus (Elias, 1994). Para tanto, a minha estratégia investigativa foi de encontro a uma metodologia que respondesse não aos fatos, e sim ao um processo que edificava uma tipologia da formação de domínios de poderes entre os sujeitos que inscrevem sua história.
RESULTADOS:
Na definição do meu marco teórico me fez percorrer numa perspectiva metodológica que pudesse adentrar no caminho investigativo. O salto vantajoso foi descobrir que esse "saber social", construído nas vulnerabilidades do processo de sociabilidade, partia de uma vivência talhada em costumes de um povo, aparentemente pacato. Nessas dobras que se revelam o social, percebi que as práticas do passado constituíam um habitus processante na organização disposta no convívio e que contribuí para fomentar ações mais recentes em que destaquei: o papel da associação que trouxe grandes benefícios à comunidade - água, luz, custeio de irrigação; a intervenção do PNUD/BNDES com as unidades demonstrativas de galinha caipira, as reuniões sobre agroecologia; a atuação do Programa de Educação em Células Cooperativas - PRECE. Todas essas interferências recriaram espaços que possibilitaram um poder de escolha de seus moradores na medida em que os agricultores aspiram melhorar de vida com a expansão de seus negócios e projetam um futuro diferente para os filhos. Mas tal realidade é também envolvida por um conflito de família que transcende o seu círculo e se infiltra na igreja, na escola e principalmente na política partidária em que o mesmo grupo familiar se divide e forma um campo acirrado de disputas.
CONCLUSÃO:
Sergio Buarque (2002) define desenvolvimento local como um processo endógeno de mudança, que leva ao dinamismo econômico e à melhoria da qualidade de vida da população em pequenas unidades territoriais. Para ser sustentável, ele deve mobilizar, explorar as potencialidades locais e contribuir para elevar as oportunidades sociais, a viabilidade e competitividade da economia local. Tânia Zapatta (1997) argumenta que o desenvolvimento local não se refere só ao econômico, mas ao desenvolvimento social, ambiental, cultural, político e principalmente, ao desenvolvimento humano. Ele deve conter uma visão integrada dessas dimensões. Ocorre em Canafístula uma parceria entre a ADEL, que orienta a intervenção, a Associação dos Agricultores de Canafístula - ACAC, mobiliza os produtores e o Núcleo de Psicologia Comunitária da Universidade Federal do Ceará que produziu oficinas sobre participação comunitária e cidadania. Embora haja essas parcerias, o projeto é também envolvido por práticas que se tornaram clichê quando falamos de Nordeste: a seca, a cerca, o atraso e o clientelismo. Portanto, o meu olhar sociológico debruçou-se nas sociabilidades e no conflito familiar, no qual se engendram relações e representações sociais no espaço público travando-se uma luta simbólica (Simmel, 1977).
Instituição de Fomento: COORDENAÇÃO DE APERFEIÇOAMENTO DE PESSOAL EM NÍVEL SUPERIOR - CAPES
Palavras-chave: Agricultura Familiar, Desenvolvimento Local, Conflito Familiar.