62ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 11. Morfologia - 6. Morfologia
ADAPTAÇÕES MORFOHISTOLÓGICAS DO TUBO DIGESTÓRIO DE Steindachnerina notonota e Hoplias malabaricus AO REGIME ALIMENTAR
Ewerton Gomes Viana 1
Maria de lourdes Freitas 1
Carlos Eduardo Bezerra de Moura 1
Hélio de Castro Bezerra Gurgel 2
Naisandra Bezerra da Silva 3
1. Departamento de Morfologia, Centro de Biociências/UFRN
2. Departamento de Fisiologia, Centro de Biociências/UFRN
3. Prof. Orientadora/Departamento de Morfologia, Centro de Biociências/UFRN
INTRODUÇÃO:

O trato grastrointestinal dos peixes é estruturalmente bem desenvolvido, adaptado a acomodar grande variedade de hábitos alimentares, variando em forma, espessura e comprimento. Seu estudo atrai a atenção de muitos pesquisadores, devido ao grande número de adaptações estruturais, mais acentuadas neste grupo do que em outros vertebrados; além da inferência, com boa margem de segurança, a respeito de sua alimentação através das características anatômicas e histológicas do aparelho digestório que em muitas espécies restringe o espectro alimentar.  A estrutura do intestino, por exemplo, pode refletir as tendências alimentares das espécies (evolutivas e ontogenéticas), e consequentemente contribuir para facilitar a classificação dos peixes de acordo com os tipos de alimento e nível trófico ocupado. Embora o conhecimento da biologia e ecologia de peixes esteja sendo ampliado, em nível mundial, estudos morfohistológicos de espécies tropicais, são incipientes. Neste trabalho foram observados aspectos morfológicos do tubo digestório de Hoplias malabaricus (traíra) e Steindachnerina notonota (saguirú) fornecendo subsídios para compreensão de seus regimes alimentares e ampliação das poucas informações sobre a morfologia dos seus sistemas digestórios.

METODOLOGIA:

Foram selecionados segmentos do esôfago, estômago e intestino de 50 exemplares, 25 espécimes de Hoplias malabaricus  e 25 espécimes de Steindachnerina notonota provenientes do rio Ceará Mirim, município de Natal, coletados em outubro e novembro de  2009 e fixados em formoldeído 10%. Para o estudo interno dos órgãos, estes foram seccionados longitudinalmente sobre uma placa de Petri preenchida com parafina, os bordos resultantes foram rebatidos e fixados com auxílio de alfinetes. O segmento analisado foi imerso em água para facilitar a visualização da disposição das pregas lumiais e dos esfíncteres. Foram também observados o número de cecos pilóricos e de alças intestinais. A relação tamanho do intestino / comprimento do peixe foi estabelecida com o propósito de se conhecer o coeficiente ou índice intestinal das espécies. Protocolos histológicos convencionais de Hematoxilina de Harris, Eosina  e PAS - Ácido Periódico Schiff, método reativo para mucoproteína, foram executados aos cortes obtidos. Posteriormente as lâminas confeccionadas foram observadas ao microscópio de luz, e microfotografadas para análises e comparações em microscópio MOTIC com câmara digital Samsung (Digital Color SCC-131), ambos acoplados a um microcomputador.

RESULTADOS:

Em H. malabaricus, carnívora, as pregas esofágicas são arborescentes e muito desenvolvidas, adaptadas á distensão no ato da deglutição de suas presas, sendo seu epitélio biestratificado pavimentoso e muito reativo ao PAS. O estômago tem formato retilíneo, o que proporciona uma melhor acomodação do item alimentar, epitélio cilíndrico simples, contendo glândulas gástricas tubulosas ramificadas na mucosa e muitas células granulares acidófilas na submucosa, fundamental para uma digestão protéica eficiente. O intestino é curto, com coeficiente intestinal 0,72, e apresenta numerosas pregas mucosas formato de rede. S. notonota, iliófaga, possui esôfago com pequenas pregas na mucosa, epitélio biestratificado pavimentoso com reação irregular ao PAS, e submucosa rica em adipócitos. Estômago mecânico com muscular circular muito desenvolvida e epitélio altamente reativo ao PAS, contêm glândulas gástricas tubulosas simples. É adaptado para quebra da parede celulósica das algas presentes em seu conteúdo. O intestino, longo e enovelado, com coeficiente intestinal 9,49, contém em sua mucosa uma prega helicoidal que parece exercer retardo no deslocamento do conteúdo intestinal, estas características associadas ao grande número de enterócitos proporcionam maior absorção nutricional.

CONCLUSÃO:

Os tubos digestórios nas espécies estudadas apresentam morfologia distinta em decorrência da dieta observada para cada uma delas. As pregas arborescentes da mucosa esofágica em Hoplias malabaricus facilitam a deglutição, enquanto as pequenas pregas esofágicas em Steindachnerina notonota promovem o direcionamento do alimento ao estômago. S. notonota possui estômago com região pilórica estomacal mais desenvolvida do que a região cárdica e média, pois apresenta camada muscular circular hipertrofiada, e tem a função de promover a digestão mecânica do alimento. Esta estruturação pode ser vista como uma adaptação ao hábito alimentar iliófago. Em H. malabaricus a região estomacal mais desenvolvida é a cárdica que permite maior acomodação da presa, devido grande distensibilidade de suas pregas primárias, e maior período de contato entre o item alimentar e as secreções gástricas, refletindo o hábito alimentar carnívoro da espécie. O saguirú possui uma prega helicoidal que retarda o transporte do alimento no intestino, possibilitando maior absorção. A traíra possui pregas intestinais anastomosadas constituindo uma barreira em formato de rede. Os coeficientes intestinais, para o saguirú e traíra, bem como o arranjo de suas pregas intestinais caracterizam as espécies em iliófaga e carnívora.

Palavras-chave: Tubo digestório, Steindachnerina notonota, Hoplias malabaricus.