62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 18. Educação
CORPO LUGAR DA MEMÓRIA: A cultura corporal na IRMANDADE DA BOA MORTE EM CACHOEIRA-BA e o contexto educativo local
Lilian Quelle Santos de Queiroz 1
Maria Cecília de Paula Silva 1
1. Universidade Federal da Bahia/UFBA - Faculdade de Educação da UFBA
INTRODUÇÃO:

Esta pesquisa buscou investigar a cultura corporal, entendendo-a como elemento de afirmação no processo de construção da identidade e da cultura afro-brasileira, tratando especificamente da Irmandade da Boa Morte em Cachoeira, Bahia, articulando as relações entre Irmandade e os elementos corporais que a constituem. Consiste em uma pesquisa histórica de caráter qualitativo e exploratório, realizada na cidade da Cachoeira em dois momentos: O primeiro dedicado a observação das festividades da Boa Morte e entrevistas com participantes e moradores da cidade. O segundo dedicado às entrevistas semi-estruturadas dentro das escolas, com alunos, professores, diretores e coordenadores. Dentre as Irmandades mais antigas do país, destaca-se a Boa Morte, datando das primeiras décadas do século XIX. A Irmandade da Boa Morte é composta exclusivamente por mulheres, que são negras e afro-brasileiras de mais de cinqüenta anos, que em geral compartilham da mesma fé (no caso o candomblé), sem a qual a crença dessas mulheres não teria suportado o passar dos tempos. A confraria secular que hoje se encontra sediada na cidade de Cachoeira compõe um ritual que inclui procissões, missas (embora a Irmandade não possua vínculo oficial com a Igreja Católica), vigílias, ceias e o samba de roda.

METODOLOGIA:

Para essa pesquisa, buscou-se o materialismo dialético como método de interpretação da realidade, utilizamos e mecanismos etnográficos como diário de campo e a observação não participante aliada a entrevistas semi-estruturadas, pelo fato do estudo se debruçar sobre uma manifestação cultural específica, numa região geográfica específica.  Foram acessadas três das cinco escolas estaduais que funcionam da cidade da Cachoeira - Ba, de pequeno, grande e médio porte. Na observação não-participante, acompanhamos o período no qual ocorre a manifestação, as pessoas que participam e qual motivação possuem para participar. A cidade nesse momento é inundada por turistas curiosos e estudantes procuram cumprir suas atividades escolares, angariando informações sobre a origem da Irmandade. Nas entrevistas solicitamos a colaboração de professores, por vezes exerciam ainda o cargo de vice-diretores e alunos que se dispunham sem um critério predefinido em série ou idade. A investigação, nesses termos, tende a ocupar-se dos aspectos intrínsecos, seus movimentos e as relações deste com o todo. Sendo assim, essa concepção metodológica compreende uma dinâmica constante nas relações sociais, característica da visão dialética, além da interação efetiva do sujeito com o meio no qual está inserido.

RESULTADOS:

Dos resultados, destacamos a importância de se considerar a história e as práticas corporais na resignificação da cultura do povo brasileiro como elemento da prática pedagógica por considerarmos que a educação tende assumir a estrutura da cultura ao qual pertence e a cultura, portanto se "prolifera" através do processo educativo. Os alunos engajados com atividades extra espaço escolar formal (como associações ligadas à capoeira, a oralidade, as filarmônicas e a organizações não governamentais, projeto griô), demonstraram compartilhar essa opinião e destacaram que a escola necessita de mais iniciativas para aproximar alunos da cultura local. Destacaram ainda que, após a inserção das atividades relacionadas via  incentivo da Lei 10.639/03, exercícios de reflexão acerca do povo negro e afro-brasileiro em disciplinas como sociologia, língua portuguesa e cultura baiana, diferente dos que não participam de semelhantes atividades e não tem opinião sobre o assunto. Detectamos carência fontes bibliográficas que abordem o tema educação  na cidade, uma lacuna  a se preencher no sentido de manter os cachoeiranos cientes de sua matriz educacional bem como os pesquisadores e nesse sentido apontamos a necessidade de mais estudos sistematizados acerca da história e cultura local.

CONCLUSÃO:

Visamos assim apreender, na relação estabelecida entre as expressões corporais da Festa da Boa Morte e a historicidade dessa manifestação cultural, entendendo que a cultura corporal é fundamental na construção e expressão da cultura de matriz africana e, no Brasil, tem se firmado como fator recorrente de assimilação e disseminação dessa cultura. Compreendemos como relevante esta articulação entre a Irmandade e as relações do corpo - como elemento que a constitui -, para detectar expressões e significações histórico-culturais, contribuindo para a consideração da identidade afro-brasileira. Nesse contexto, existem fatores que relacionam cultura corporal às manifestações da cultura afro-brasileira, entendidas por muito tempo como desprovidas de valor acadêmico e a margem do contexto escolar formal. O modo de andar, a herança na fala, nas feições do rosto, nos costumes familiares bem como no modo de vestir denotam o quanto o corpo fala a respeito da herança afro-brasileira. Dessa maneira, levar esse entendimento da leitura através do corpo para discussão dentro da escola, sobretudo por meio das manifestações culturais, significa promover a interação entre matrizes constituintes do povo brasileiro com a realidade atual dos educandos.

Instituição de Fomento: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES
Palavras-chave: Educação, Cultura Corporal, Cultura Afro-brasileira.