62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 11. Ensino-Aprendizagem
RELATOS E HISTÓRIAS DE VIDA: SIGNIFICANDO OS EPÍSÓDIOS NOS JOGOS LIVRES DA EDUCAÇÃO INFANTIL
Daniel Bezerra de Brito 1
Joselito Gomes da Silva 1
1. Universidade do Estado do Rio Grande do Norte
INTRODUÇÃO:
O objetivo do presente trabalho é analisar como uma educadora e uma pesquisadora da Educação Infantil constroem suas histórias de vida e como significam os episódios no jogo simbólico das crianças. Parte-se do princípio de que as experiências construídas ao longo das histórias de vida pessoais e profissionais de cada uma delas norteiam o significado dado por elas sobre o brincar espontâneo da criança. Considera-se que a criança expressa através do corpo suas demandas e fantasias nos jogos livres justificando assim a necessidade de compreender o significado da linguagem corporal na Educação Infantil. Os resultados de várias pesquisas constataram que os docentes utilizam principalmente métodos diretivos no brincar infantil considerando especificamente a prática de jogos dirigidos, inibindo assim a expressão espontânea da linguagem não verbal nas atividades livres. (COSTA, 2002, VASCONCELLOS, 2000, VIEIRA, BATISTA, LAPIERRE, 2005). A partir dessa reflexão, colocamos as seguintes questões: Qual o significado atribuído pela educadora e pela pesquisadora aos episódios no jogo simbólico? Como tais significados podem contribuir para a orientação da prática pedagógica na Educação Infantil?
METODOLOGIA:
Uma seqüência de 4 episódios foi selecionada e recortada de 32 sessões filmadas durante o ano de 2008 em uma instituição de Educação Infantil em Natal-RN, onde havia interação de uma "criança alvo" com colegas, professor e objetos. Tratava-se de um grupo de 12 crianças na faixa etária de 5-6 anos que brincavam livremente sob a mediação do professor onde foi consensual a expressão de agressividade e de simbolismo das crianças durante os episódios. Foi importante, na escolha dos episódios, manter o foco de atenção sobre a interação até que outro fato paralelo chamasse a atenção, ou a ação fosse interrompida ou finalizada. Os episódios foram assim, apresentados à educadora e à pesquisadora em vídeo onde observaram individualmente durante três vezes, interpretando-os através de relatos manuscritos. Utilizou-se também um memorial onde os participantes responderam questões sobre quatro temas referentes à história de vida pessoal e profissional: 1) representação pessoal; 2) vida familiar e escolar; 3) escolha da profissão, 4) formação e atuação docente. Em seguida, foi realizada a análise de conteúdo dos manuscritos sobre os episódios e do memorial (Bardin, 1988).
RESULTADOS:
Os resultados revelaram que o significado dado pelas duas participantes aos episódios foi norteado pelos relatos da história de vida de cada uma delas. Segundo a educadora, "nos episódios, não foram preservados o poder e a autoridade do professor porque ele não controlou a criança observada". Na interpretação da pesquisadora, a criança nos episódios, não perpassa as barreiras do poder e da autoridade do professor, mas, queria validar suas fantasias, se relacionar, ser aceita e reconhecida para compartilhar com ele, esse poder simbolicamente. Quando aceita, mesmo através de uma relação agressiva, a criança evolui libertando-se de seus desejos agressivos adquirindo progressivamente o seu reconhecimento, autonomia e a independência no brincar (Lapierre, 2004). Lima (1989) questiona as escolas "tecnicistas" que entendem a criança como um sujeito a ser sempre controlado nas suas atividades lúdicas. Essa distinção na interpretação dos episódios observados nos remete a refletir sobre as diferentes experiências e concepções construídas por cada uma das participantes tendo assim, repercussões na forma de observar a pedagogia na Educação Infantil. Nos 4 temas do memorial, observaram-se também diferenças significativas nas concepções do eu pessoal e profissional das duas participantes.
CONCLUSÃO:
Conclui-se que o significado dado pela educadora aos episódios expressou sua rotina pedagógica em sala de aula e o contrato didático da escola que regulamenta as relações entre ela a criança e o conteúdo da aprendizagem considerando a preservação do poder e a autoridade do adulto. Esse significado reflete também a herança de suas experiências e concepções construídas ao longo de sua trajetória pessoal e profissional. A pesquisadora, também foi guiada por suas expectativas e concepções sobre ciência, intricado na construção de sua identidade. O relato da pesquisadora sendo tecido pela experiência dela em observar uma diversidade de situações e em construir um postulado teórico, difere de outros tipos de relatos e, mesmo de outras vertentes do próprio saber científico. Na concepção da pesquisadora, o corpo livre no brincar se apresenta como relevante para a orientação da prática pedagógica ampliando a base de conhecimentos na Educação Infantil. A concepção da educadora aponta para uma prática da pedagogia diretiva não promovendo a leitura reveladora das crianças no brincar tal como a compreensão das dificuldades relacionais no jogo e suas repercussões no aprender escolar; entretanto, promove o "corpo disciplinado" pelo contrato didático estabelecido pela instituição escolar.
Instituição de Fomento: PIBIC-UERN, (Univ. do Estado do Rio G. do Norte, PPP-FAPERN
Palavras-chave: relatos, concepções, jogos simbólicos.