62ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 2. Ecologia Aquática
Taxa de herbivoria em herbáceas aquáticas no lago Catalão, Amazônia Central, Brasil.
Janaina Gomes de Brito 1
Jansen Alfredo Sampaio Zuanon 1
Bruce Rider Forsberg 1
1. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia
INTRODUÇÃO:
As herbáceas aquáticas desempenham importante papel biológico para as comunidades de invertebrados aquáticos, servindo como substrato para o perifiton e epifiton, como refúgio contra predação, como fonte de diversidade de substratos para a fauna e como recurso alimentar. Apesar de contribuírem grandemente com a dinâmica de detritos dos sistemas aquáticos, a herbivoria direta de herbáceas aquáticas vivas foi considerada até recentemente como pouco significativa na ecologia trófica de sistemas aquáticos. Entretanto, estudos têm mostrado a importância da herbivoria em herbáceas em sistemas de água doce. Apesar de plantas maduras geralmente não serem mortas pela ação de invertebrados herbívoros, a capacidade competitiva dessas pode ser drasticamente reduzida pela herbivoria, induzindo mudanças na abundância relativa das espécies. A palatabilidade atribuída às herbáceas aquática é determinada por um conjunto de características que dependem de fatores físicos (por exemplo, a dureza e pilosidade das folhas) e químicos (valor nutricional, presença de defesas químicas). Dessa forma, alguns autores propuseram que as plantas com metabolismo C4 são genericamente rejeitadas por herbívoros por serem de difícil digestibilidade e apresentarem baixos valores nutricionais quando comparadas com as C3. Neste trabalho, foram mensuradas as taxas de herbivoria em cinco espécies de herbáceas aquáticas na Amazônia Central, com o objetivo de verificar se há preferência por alguma delas, e se as herbáceas aquáticas C3 e C4 apresentaram padrões distintos quanto às perdas por herbivoria.
METODOLOGIA:

As amostragens foram realizadas em bancos de herbáceas aquáticas do lago Catalão, na confluência dos rios Negro e Solimões. A porcentagem da área do limbo das folhas perdida por herbivoria foi determinada com uso de análises de imagens digitais. Diferenças na porcentagem média de herbivoria entre as espécies de herbáceas foram analisadas por meio do teste H de Kruskal-Wallis. As diferenças entre os conjuntos de amostras de plantas C3 e C4 foram analisadas com uso do teste U de Mann-Whitney. As diferenças entre as porcentagens médias de perda por herbivoria foram analisadas a posteriori com a aplicação do teste de Duncan. Os resultados são apresentados na forma de média ± desvio padrão, seguidos da amplitude de variação (mín - máx). Para todos os testes utiliza-se α=0,05.

RESULTADOS:

As amostras de folhas das cinco espécies de plantas amostradas apresentaram as seguintes taxas de herbivoria: P. stratiotes = 9,08% ± 8,20 (1,43% - 23,3%); E. crassipes = 1.71% ± 1,78 (0,17% - 5,16%); S. auriculata = 6,75% ± 6,23 (0,3% - 14,6%); P. repens = 0,15% ± 0,13 (0% - 0,3%) e E. polystachya = 0,03% ± 0,03 (0% - 0,08%). Houve diferença significativa na taxa de herbivoria entre as espécies (H= 25,7; p= 0,0000; n= 35). Pistia stratiotes e S. auriculata foram significativamente as mais predadas; E. crassipes, P. repens e E. polystachya apresentaram menores perdas de área foliar e não diferiram entre si (teste de Duncan, MS= 22,2, df = 30). As plantas C3 apresentaram perdas de área foliar significativamente maiores do que plantas C4 (C3 = 5,78% ± 6,38%  n= 22; C4 = 0,10% ± 0,11% n= 13; U= 3, p= 0,000002). As diferenças observadas na taxa de herbivoria das cinco espécies de herbáceas aquáticas podem estar relacionadas com a abundância de invertebrados herbívoros especialistas (Paulinia acuminata, Cornops aquaticum e Stenacris f. fissicauda) e com as características físicas e químicas das plantas.

CONCLUSÃO:

De forma geral, o maior consumo observado das herbáceas aquáticas C3 comparadas com as C4 sugere que essa preferência deve estar associada à maior qualidade nutricional das folhas e à menor concentração de fibras e compostos secundários. Não se pode descartar a hipótese de que a baixa taxa de herbivoria registrada para E. crassipes seja resultado de erro amostral (possivelmente relacionado à uma amostragem temporalmente restrita), ou reflita algum distúrbio ambiental local. Análises comparativas de taxas de herbivoria ao longo de um ciclo sazonal completo e a realização de experimentos de palatabilidade poderiam ajudar a esclarecer essa questão.

Instituição de Fomento: INPA, CNPq
Palavras-chave: Palatabilidade, Macrófitas, Qualidade alimentar.