Estudos morfológicos, como a descrição das estruturas externas e internas do trato digestório em peixes são de fundamental importância por fornecerem subsídios para a ampliação do conhecimento a respeito do comportamento alimentar nesse grupo de vertebrados. Os hábitos alimentares destes animais são bastante variáveis, como também as adaptações e modificações morfológicas de seu aparelho digestório, como tipo de boca, formato do estômago e comprimento do intestino. A partir da observação de tais características, podemos caracterizá-los como carnívoros, onívoros, detritívoros, dentre outros. Tais características refletem-se na diversidade de comportamentos envolvidos com a busca, apreensão e digestão do alimento. Nesse sentido, buscamos investigar a morfologia do trato digestório da curimatã Prochilodus brevis e relacioná-la aos seus aspectos comportamentais, com vistas a estabelecer as relações existentes entre essas variáveis.Trata-se de uma espécie de peixe de  porte médio, coloração prateada,  com hábito alimentar iliófago, alimentando-se de matéria orgânica e microrganismos associados ao fundo dos lagos e rios. É uma espécie nativa da região nordeste do Brasil, que apresenta valor comercial, não somente pela sua carne, mas também pela utilização de suas "ovas".

Foram capturados 42 exemplares de Prochilodus brevis compreendendo os meses de abril e julho de 2009, na região de Caicó e Pendências, localizado na região centro-sul do estado do RN distando cerca 269 km da capital do estado, Natal, e localizado na região do vale do Açu, distante 203 km da Capital, respectivamente. Após a despesca, os peixes foram acondicionados em caixas térmicas, e transportados para o laboratório de Histologia do Departamento de Morfologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, para a determinação de aspectos ligados a morfologia externa. A seguir, foi realizada uma incisão ventral e retirados o estômago e intestino, pesados e medidos. A partir de então, foi avaliado o

formato do estômago, espessura das camadas e o comprimento do intestinal.  

O conhecimento da morfologia do sistema digestório dos peixes, por ser muito variável, se torna bastante expressivo por permitir, dentre outras possibilidades, a relação entre a diversidade dos regimes alimentares e o seu modo de vida. P. brevis apresenta corpo fusiforme, com olhos situados na região lateral da cabeça, que proporcionam uma visão geral do ambiente, estando relacionado com seu comportamento de defesa. Quanto ao comportamento alimentar, sugere-se na literatura a ocorrência de partilha de recursos entre estes peixes detritívoros. A boca, localizada anteriormente, com lábios carnosos e protáteis caracteriza uma morfologia adaptada para espécies de fundo, que exploraram o substrato. Quanto a forma do estômago, este se apresenta na forma de "U", possuindo duas regiões, uma de parede mais espessa, muscular, que segundo alguns autores, trata-se da região pilórica, bastante desenvolvida, atuando como uma moela na maceração dos alimentos; e outra, de parede mais delgada. É característico de espécies detritívoras a presença de um intestino longo, o que permite um trânsito mais lento do alimento, acarretando no aumento da absorção de nutrientes. Tal particularidade relaciona-se à categoria trófica da espécie, sendo os detritívoros os que possuem maior comprimento intestinal.

A espécie em estudo, Prochilodus brevis, no ambiente estudado, apresenta características morfológicas do trato digestório e comportamento alimentar exploratório de substrato, que a classifica na categoria alimentar de uma espécie detritívora.