62ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 5. Teoria Literária
A LINGUAGEM POÉTICA DE DALCÍDIO JURANDIR E A RECEPÇÃO DOS ROMANCES CHOVE NOS CAMPOS DE CACHOEIRA (1941) E MARAJÓ (1947)
André Luis Valadares de Aquino 1
1. Curso de Letras, Faculdade de Letras, Instituto de Letras e Comunicação, UFPA.
INTRODUÇÃO:

A pesquisa atual se volta para entender os "passos recepcionais" (STIERLE) construídos em torno do projeto romanesco do escritor amazônico Dalcídio Jurandir em relação ao trabalho de linguagem empreendido, em especial, nos romances Chove nos Campos de Cachoeira (1941) e Marajó (1947). Nesse sentido, se sustentou o questionamento do discurso corrente sobre a obra de Jurandir como lugar do regional e do folclórico. Para tal, objetivamos refletir sobre os critérios estéticos e/ou sociais da crítica literária da década de 1940 no Brasil em relação aos estudos científicos posteriores, no sentido de identificar e analisar traços de atualização na abordagem (rompimentos de "horizontes de expectativas", JAUSS) no tratamento do fenômeno da linguagem poética na prosa de ficção de Jurandir. Qual o lugar da Amazônia na escritura literária dalcidiana?

METODOLOGIA:

A partir da análise da "estrutura da linguagem poética" (COHEN, 1976; JACKOBSON, 1988) sobre o projeto romanesco dalcidiano, nos foi possível pensar o fenômeno tendo em vista referências que apontam para a desconstrução das fronteiras entre prosa e poesia e entre as formas de arte, a exemplo: H. de Campos (1969), O. Paz (1972), D. Pignatari (1974); do contexto europeu: Barthes (1984), U. Eco (1971), Mallarmé (1975), Ademais, nos serviram de fontes para compreensão mais larga de nosso objeto os trabalhos de H. R. Jauss, sobretudo A História da Literatura como Provocação à Teoria Literária (1994); W. Iser nos indicou o funcionamento do Jogo do Texto (1996); K. Stierle nos propôs a questão: Que Significa a Recepção dos Textos Ficcionais? (1979), o que igualmente nos forneceu suporte para o desenvolvimento do levantamento de dados e análise de textos críticos e acadêmicos (pragmáticos), além de suporte para compreender as particularidades do processo de recepção do texto ficcional.

RESULTADOS:

Um roteiro de "jogo" (ISER) atravessa as narrativas de forma a orientar os passos do leitor no espaço-tempo das histórias. O roteiro vem sinalizado na epígrafe do Marajó: "labirinto" de "infinitas entradas e saídas". Abrem-se fendas sobre a narração para projetar novas histórias (fragmentação), o tempo espacializado do jogo atravessa todas as experiências, passado-presente-futuro/memória-pensamento-sonho. A técnica de linguagem empreendida nos romances de Jurandir converge para o ponto em os que jogos ultrapassam a tessitura estritamente narrativa para desembocar na configuração de uma linguagem poética, em que a construção de um "labirinto" se sustenta: labirinto de linguagem. Os estudos sobre a linguagem no plano ficcional em Jurandir é uma etapa parcialmente alcançada por sua recepção crítica e acadêmica. Desde as origens da recepção de seu projeto romanesco, Jurandir é lido à luz de um determinismo social, pensado como documentarista da Amazônia; sua obra como relato autobiográfico, como descrição de paisagens, instrumento de denúncia, de revelação de uma "realidade" subdesenvolvida do Brasil. Ademais, apenas uma parcela muito restrita da nova recepção (estudos acadêmicos) se propõe a pensar sobre a linguagem poética em Jurandir.

CONCLUSÃO:

Em Jurandir a linguagem poética re-significa os signos oferecidos pela cultura da Amazônia brasileira, de forma a se apropriar do léxico "regional" ("eixo da seleção") para explorar as potencialidades sonoras e visuais da palavra, relação som-sentido ("arranjo"). Sustenta-se, portanto, o questionamento dos discursos crítico e científico que condenam ainda Jurandir a uma recepção restrita, o descredenciam para composição do quadro canônico nacional e reduzem o horizonte de interpretação de sua obra. O espaço "regional", no projeto romanesco dalcidiano, transita para o universal pela via da linguagem poética, pela encenação de um jogo onde o campo de ação, como significante convencional, é fraturado, onde a Amazônia é um novo lugar: lugar de linguagem. Janelas se abrem para fora da narrativa, "caminhos perdidos" (JURANDIR, 1992) que não perfuram o "labirinto", mas expandem-no, tornando-o mais intrincado e errante. Para perder o leitor no interior do jogo.

Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq
Palavras-chave: Dalcídio Jurandir, Linguagem Poética, Processo de Recepção.