62ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 12. Educação Física e Esportes - 1. Educação Física e Esportes
CARACTERÍSTICAS SÓCIO-CULTURAIS E PERCEPÇÃO SOBRE SEDENTARISMO ENTRE IDOSOS
Cleuzimar Alves de Oliveira 1
Claudia Miranda 1
1. Universidade Federal da Bahia / UFBA
INTRODUÇÃO:
Buscamos através de dados etnográficos conhecer aspectos sócio-culturais e a percepção de risco sobre sedentarismo entre idosos, interpretando estes resultados, segundo vivências de práticas corporais e percepção sobre o processo saúde-doença. Segundo as estimativas do IBGE, nos próximos 20 anos a população idosa representará cerca de 14% da população (BRASIL, 2000). Estes dados refletem um aumento na expectativa de vida do brasileiro, nem sempre atrelada à melhoria das suas condições de vida e de saúde. A mudança demográfica vem acompanhada de uma mudança no perfil epidemiológico, em que se observa uma redução da incidência de doenças infecto-contagiosas para crônico-degenerativas - DCDNT (BENEDETTI, 2007; CAMARANO, 2004). Estudos associam essa situação ao crescente índice de sedentarismo em todas as faixas etárias e, assim, defendem a prática de atividade física e de lazer como uma forma dos indivíduos exercitarem-se, formar novos vínculos sociais, melhorar a sua auto-estima, enfim, ter uma melhor qualidade de vida (TELLES, 2009). O modo como as pessoas percebem e vivenciam essa realidade tem sido muito pouco investigado, prevalecendo abordagens genéricas sobre a velhice e o adoecimento, não reconhecendo estas categorias como construídas sócio culturalmente.
METODOLOGIA:
Adotamos a abordagem qualitativa em saúde, especificamente a proposta de leitura etnocrítica (BIBEAU, 1997), utilizando três estratégias de coleta de dados: observação sistemática; entrevista individual e de grupo e; análise documental. Estas estratégias atendem os objetivos do estudo, pois permitem identificar e descrever as formas de pensar-fazer dos sujeitos envolvidos com as práticas corporais e de saúde, na medida em que revelam as idéias, representações e ações destes sujeitos na construção da realidade. A pesquisa foi desenvolvida com usuários, agentes e lideranças comunitárias e profissionais da Unidade do PSF do bairro da Federação, em Salvador. A idade dos usuários variou entre 60 e 84 anos, quase todos aposentados, católicos e negros, com alguma DCDNT diagnosticada. Possuíam até a quarta série do ensino fundamental, com exceção de uma usuária sem escolaridade e três com o segundo grau completo. No aspecto sócio-ambiental, a área do estudo apresenta traços topográficos semelhantes a outros bairros da cidade, com muitas ladeiras e escadarias, dificultando o acesso as ruas do bairro. Além do acúmulo de lixo e entulhos, outro agravante é o nível de violência associado ao tráfico de drogas. A disponibilidade de espaços e equipamentos de lazer ativo e passivo é escassa.
RESULTADOS:
Para muitos idosos a expressão sedentarismo denota certa estranheza. A maioria relata nunca ter ouvido falar ou não saber explicar o que é. Os que se referiram ao tema, associaram a idéia de "pessoa preguiçosa", ou seja, que "não gosta de andar, de caminhar, de fazer exercício". Quando indagados quanto às suas práticas cotidianas, eles ressaltam que tem muitas atividades diárias. As tarefas domésticas são valorizadas como práticas que significam independência e autonomia, enquanto a dificuldade em realizar atividades de lazer, fora do ambiente familiar, representa as limitações associadas à idade ou a algum problema de saúde. O envelhecimento não os inquieta, no entanto, tornar-se dependente de terceiros ou incapaz de prover a família é algo que os preocupa. Embora o lazer ativo não constitua preocupação imediata, as práticas corporais são valorizadas para melhor qualidade de vida, tanto entre os homens como as mulheres, sendo, entretanto, mais vivenciadas pelas últimas. Estas, por sua vez, são mais participativas em grupos e ações de promoção da saúde promovidas pela equipe do PSF.
CONCLUSÃO:
A análise sobre as discussões teóricas sobre sedentarismo e envelhecimento aponta para uma visão hegemônica em torno das limitações bio-fisiológicas agravadas com a idade e as doenças crônico-degenerativas, prevalecendo uma idéia negativa sobre o idoso. Estas abordagens acabam por homogeneizar uma população que de comum só tem a faixa etária (CAMARANO, 2004), não levando em consideração que o seu conceito é uma construção de identidade com a cultura local e com a época em que se vive. No caso investigado, a velhice significa "anos de vida vividos" e só representa preocupação quando associada à doença limitante. No tocante ao sedentarismo ficou evidente a associação que os idosos fazem com o desenvolvimento das atividades cotidianas, com a pouca disponibilidade de tempo para as atividades físicas e a inacessibilidade a espaços e equipamentos de lazer ativo, sendo mais comum a participação feminina nas ações de promoção da saúde desenvolvidas pela equipe de saúde. Dentre as preocupações mais frisadas pelo grupo, o cuidado com a alimentação, seja pelo excesso ou pela escassez, tem maior representação. O estudo revela ainda a necessidade de maior discussão e de ações voltadas para a promoção da saúde entre os homens.
Palavras-chave: sedentarismo, envelhecimento , saude.