Esta pesquisa teve como foco as relações instituídas na relação de ensino e aprendizagem através da relação professor-estudante no ensino superior. Teve como objetivo conhecer as representações dos estudantes sobre a relação estabelecida com seus professores e a interferência na aprendizagem da docência. Apresentou uma reflexão teórica sobre a docência, caracterizada como uma atividade humana das mais complexas devido a uma multiplicidade de saberes que a envolve, em que seu exercício se constitui numa articulação entre os saberes essenciais para o desenvolvimento do trabalho do professor e a articulação com o conhecimento específico que favorece a aprendizagem do estudante. Além da discussão sobre a docência trouxe centrou na relação professor-estudante na universidade. Destacou-se essa relação como essencial no processo de formação inicial para a docência, pois é composta de sentimentos ambíguos que vão desde a identificação via idolatria à total aversão das práticas docentes. A relação estabelecida através desses sentimentos pode se constituir numa aprendizagem que se tornará parte do indivíduo nas suas relações fora do espaço acadêmico pode ser uma aprendizagem que determinará a sua própria relação com seus futuros alunos.

A pesquisa foi de natureza qualitativa e inseriu-se no campo das representações sociais. A escolha da teoria das representações sociais foi feita com a perspectiva para apreender os significados atribuídos pelos sujeitos ao fenômeno em estudo, e se justificou pelo fato que elas orientam as práticas e condutas sociais (MOSCOVICI, 2003), distinguindo-se de outros paradigmas por sugerir a existência de um pensamento social resultante das experiências práticas, crenças e trocas de informações presentes na vida cotidiana. Os instrumentos de coleta de dados desta pesquisa foram o memorial, em que os sujeitos rememoraram sua trajetória escolar e a entrevista semiestruturada, tendo como referência flexível um roteiro pré-estabelecido. Os sujeitos da pesquisa foram cinco estudantes concluintes do curso de Pedagogia de uma universidade pública da Bahia. Teve-se como estratégia de recrutamento estarem em efetivo exercício da docência, com tempo médio de docência de 05 anos. Isso garantiria que teriam como base da sua relação com seus professores formadores, a relação estabelecida com seus próprios alunos. Quatro foram do sexo feminino e um do sexo masculino, com faixa etária de 30 a 45 anos. Os dados foram tratados com base na análise de conteúdo tipo temática de Bardin (2000).

Na interpretação dos dados ficou evidente seis aspectos da representação dos participantes sobre a relação professor-estudante: o compromisso profissional expresso no investimento na aprendizagem do estudante; a prática profissional como fundamento da formação para a docência, investimento do professor na interação entre os estudantes no processo de ensino-aprendizagem; o compromisso do estudante com a própria aprendizagem na perspectiva da formação profissional, o aprendiz é a razão de ser do trabalho docente, o compromisso com a aprendizagem significativa do estudante/aluno estabelece uma relação de confiança entre professor e estudante.No processo de formação inicial, é fundamental, para todos os participantes, a capacidade do professor despertar o interesse para a aprendizagem, respeitando as diferenças individuais e intelectuais. A aproximação entre esses atores deve ser estimulada pelo diálogo favorecendo um caráter dialógico das práticas pedagógicas. Para a maioria dos participantes, a formação vivenciada no ensino superior, a despeito de diversas críticas formuladas, possibilitou a compreensão de colocar o aprendiz e sua aprendizagem como elementos centrais da prática educativa.

Segundo os dados coletados, a relação professor-estudante no ensino superior está baseada na heteronomia, no medo de se expor e ser repreendido pelo professor. Essa significação construída ao longo de suas vivências escolares foi reforçada pelas práticas vivenciadas no processo formativo na universidade, que contrariamente às teorias confessas não se distanciaram dos modelos anteriormente vividos não contribuindo para a ressignificação das representações construídas ao longo das trajetórias escolares. Há a coexistência de elementos cognitivos referentes à visão de relação professor-estudante baseada no respeito ao aprendiz, nas suas necessidades individuais e no investimento do professor na aprendizagem significativa, porém há elementos afetivos/atitudinais que evidenciam marcas de uma relação caracterizada pela homogeneização, padronização de exigências, por uma aprendizagem memorística. É fundamental a clareza de que, o processo de formação de professores desenvolvido na universidade, precisa oportunizar a reflexão dos estudantes acerca da relação professor-estudante e de situações de aprendizagem diferentes daquelas vivenciadas ao longo da trajetória escolar dos estudantes, pois, muitas vezes, são reproduzidas no decorrer do exercício profissional docente.