62ª Reunião Anual da SBPC

H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 5. Teoria e Análise Lingüística

UNIDADE ENTOACIONAL E RELAÇÃO SEMÂNTICO-PRAGMÁTICA: O CASO DOS CONECTORES E, AÍ E ENTÃO

Raquel Pereira de Lima 1 Maria Alice Tavares 1

1. Departamento de Letras, Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

INTRODUÇÃO:

Com base na linguística funcionalista, este trabalho se propôs a pesquisar os conectores coordenativos E, AÍ e ENTÃO na conversação cotidiana dos natalenses, analisando-os segundo os grupos de fatores relacionados à constituição de unidade entoacional e à relação semântico-pragmática existente entre as orações interligados pelos conectores em estudo. Temos como principais objetivos: (i) verificar como esses conectores se comportam na conversação cotidiana, um gênero de discurso ainda pouco estudado no que diz respeito ao uso de elementos de coerência e coesão; (ii) contribuir para o ensino de língua portuguesa no tocante à relação de coordenação entre orações. Além de proporcionar a obtenção de uma maior gama de conhecimentos acerca do uso de E, AÍ e ENTÃO como mecanismos de interligação textual, a relevância deste estudo também reside no fato de que fazemos sugestões para um ensino de língua portuguesa mais produtivo, que considere o uso linguístico real, em gêneros de discurso variado.

METODOLOGIA:

Coletamos cinco conversações espontâneas envolvendo de quatro a cinco natalenses. Após transcrevê-las, codificamos os dados referentes a cada conector sob enfoque de acordo com os grupos de fatores constituição de unidade entoacional e relação semântico-pragmática. A seguir, obtivemos frequências e percentagens relativamente a esses dados com o auxílio do pacote estatístico Varbrul. Com base nos elementos fornecidos pelo programa, montamos tabelas referentes a cada grupo de fatores considerados e, na seqüência, explicamos os resultados obtidos.

RESULTADOS:

Dos resultados, destacamos o fato de que o conector ENTÃO foi o menos recorrente, ao passo que AÍ teve maior ocorrência e E teve frequência intermediária. Quanto aos grupos de fatores, observamos, no que diz respeito à relação semântico-pragmática, que E foi usado em maior número nas orações interrogativas, e nas sequências textuais e temporais. Em contraste, E pouco apareceu junto a orações com valor de causa-consequência. Cremos que isso ocorre porque nessas relações predomina o conector AÍ. Quanto ao ENTÃO, vemos que ele tem maior frequência nas relações de causa-consequencia e nas sequências textuais. Esse conector não apareceu em orações interrogativas, nem nas sequências temporais. Quanto à constituição de unidade entoacional, E é mais freqüente entre orações que não têm pausa entre si, mas não há grande diferença quanto à presença dele em orações com pausa entre o conector e a oração. Em contra partida, ENTÃO e AÍ foram mais frequentes nessa unidade entoacional.

CONCLUSÃO:

Como podemos perceber, os conectores E, AÍ e ENTÃO foram encontrados em todos os fatores dos grupos averiguados, porém o que chama a atenção é a frequência com que cada um desses conectores é usado. O conector E apareceu relacionado a todos os fatores, porém, quanto às orações que expressam causa-consequência, não teve grande representatividade, o que pode ser justificado pelo fato de que AÍ predomina nesse tipo de oração. ENTÃO, apesar da pouca frequencia, é marcadamente usado em contextos de orações de causa-consequencia e sequências textuais. Em contraste, quanto à unidade entoacional, E é mais empregado quando não há existência de pausa, ao passo que os conectores AÍ e ENTÃO são mais empregados quando há pausa entre orações. Depois da análise dos resultados, apresentamos propostas a respeito de como abordar, de forma produtiva, no ensino de língua materna na educação brasileira, a questão da coordenação oracional, exemplificando com o caso de E, AÍ e ENTÃO, e ressaltando a fundamental importância de elementos de ligação como tais para a coesão e a coerência textuais.

Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq

Palavras-chave: Conectores, Ensino, Funcionalismo.