62ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 14. Zoologia - 2. Comportamento Animal
OS BOTOS - CINZA FAZEM USO DOS BANHISTAS COMO BARREIRA PARA OTIMIZAR SEU FORRAGEIO?
Gláucia Damasceno Severo 1
Diana Gonçalves Lunardi 2
Renata Gonçalves Ferreira 3
1. Graduação em ciências biológicas-UFRN / Depto. Psicobiologia / UFRN
2. Doutoranda - Depto. Psicobiologia / UFRN
3. Profa. Dra./Orientadora - Depto. Psicobiologia / UFRN
INTRODUÇÃO:
Odontocetos podem adaptar as suas estratégias de forrageamento para tirar proveito das atividades humanas. Na maioria das vezes, beneficiam se sem causar nenhum prejuízo. Uma das táticas de forrageio utilizadas por animais solitários ou em pequenos grupos consiste em encurralar cardumes em direção à costa ou a outros obstáculos; caça cooperativa com pescadores (Leatherwood, 1975; Corkeron e col., 1990; Felix, 1994; Monteiro-Filho,1995), boatriding por Tursiops (Mann,J, Connor, R. Tyack,P. & Whitehead,H., 2000) ou até mesmo encalhar em bancos de lama para capturar peixes que saltam fora da água. A enseada de Pipa (06 ° 13'23 .6 "S, 35 ° 04'14 .3" W) é uma importante área de concentração de botos-cinza, Sotalia guianensis, no litoral nordeste do Brasil. No entanto, esta baía também é usada por humanos em atividades recreativas. Na área de estudo estes animais estão freqüentemente engajados em atividades de forrageio e são popularmente conhecidos por encurralarem os peixes próximos aos banhistas. O objetivo deste estudo é investigar o uso dos banhistas, pelos botos-cinza, como uma barreira para encurralar peixes otimizando o seu forrageio.
METODOLOGIA:

Do alto de uma falésia (~25m) na Enseada do Madeiro realizamos observações sistemáticas do comportamento de forrageio dos animais, no período de julho a dezembro de 2008, entre 7h e 16h, totalizando 50 dias de amostragem e ~350h de esforço. Deste total, os botos estiveram presentes em 304h (~89%). Consideramos como agregação um conjunto de indivíduos distantes até ~20m entre si, comumente engajados na mesma atividade. Quantificamos os forrageios sem e com banhistas na enseada, e os próximo aos banhistas assim como a fase da maré que ocorriam.

RESULTADOS:

Observamos 171 agregações (média de 2,9 ± 1,4 indivíduos) e um total de 1595 eventos de forrageio. Destes, 250 ocorreram em momentos em que não havia banhistas na enseada, geralmente quando a maré estava descendente (68,4%). Outros 1345 eventos de forrageio ocorreram com banhistas na enseada, porém, apenas 84 ocorreram próximo aos banhistas. Não encontramos diferença significativa entre os eventos de forrageio por dia em relação à presença ou ausência de banhistas (χ2 = 0,035, P> 0,05).  No entanto, o número de eventos do forrageio perto de banhistas foi significativamente menor do que distante destes (χ2 = 1.027,031, P <0,001).O comportamento de forrageio foi maior do que o esperado na fase ascendente das marés e menor que o esperado na fase inicial da maré descendente (χ2 = 37,669, P <0,001).

CONCLUSÃO:

Na Enseada do Madeiro, ao contrário da crença popular, os botos-cinza, não utilizam banhistas como barreira para otimização do forrageio. O padrão oposto foi observado: maiores taxas de forrageio na ausência destes ou em áreas mais distantes dos banhistas. Estes resultados são importantes para medidas de manejo da área visando à conservação dos golfinhos nas enseadas.

Palavras-chave: Sotalia guianensis, forrageio, comportamento alimentar.