62ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 12. Educação Física e Esportes - 1. Educação Física e Esportes
CONCEPÇÕES DE LAZER E TEMPO LIVRE DAS TRABALHADORAS DA CHABA CHARUTOS DA BAHIA LTDA
José Guilherme dos Anjos Costa 1
Arissandra Célia Teles de Araújo 1
Érica Paula de Jesus da Purificação 1
Silas dos Reis Lima 1
Luiz Carlos Rocha 2
1. Deptº de Educação, Colegiado de Ed. Física, Universidade do Estado da Bahia/UNEB
2. Prof. Dr./Orientador, Deptº de Educação, Colegiado de Ed. Física / UNEB
INTRODUÇÃO:

O presente trabalho fez parte de uma atividade acadêmica da disciplina Lazer e Meio ambiente e expôs os resultados de uma pesquisa de campo realizada com trabalhadoras da área de produção da Chaba Charutos da Bahia Ltda. Analisando o contexto histórico das relações entre trabalho e tempo livre e a participação cada vez maior da mulher no mercado de trabalho percebemos a importância de se investigar as concepções de lazer nesse grupo que, como constatamos, na maioria das vezes é submetido a uma dupla jornada de trabalho: uma que termina ao final do expediente da fábrica e outra que começa no retorno ao lar. A mulher cada vez mais ativa economicamente tem sacrificado seu tempo livre em função do sustento da família. Definimos então como objetivos principais do trabalho identificar as concepções de lazer e de tempo livre dessas trabalhadoras e conhecer as principais atividades realizadas pelas mesmas no temo livre, considerando o nível de escolaridade e a condição sócio-econômica como variáveis influenciadoras desses conceitos e da qualidade dessas atividades.

METODOLOGIA:

Optamos pela pesquisa qualitativa, baseada em um roteiro previamente estruturado. As entrevistas foram realizadas durante o expediente de trabalho com autorização dos sócios da empresa. Além de serem questionadas sobre o entendimento acerca dos conceitos de lazer e tempo livre, buscamos também identificar quanto tempo essas trabalhadoras dispunham semanalmente para realização de atividades diversas da atividade laboral e dos afazeres domésticos. Foram entrevistadas 16 trabalhadoras da área de produção da Chaba Charutos da Bahia Ltda. Com idade entre 23 e 54 anos e renda mensal de um salário mínimo. O nível de escolaridade das entrevistadas variou entre o Ensino Fundamental incompleto e o Ensino Médio completo. A jornada de trabalho dessas mulheres é de 8,9 horas por dia.

RESULTADOS:

A pesquisa com essas trabalhadoras revelou que as mesmas possuem em média, 6,2 horas semanais as quais se dedicam a atividades diversas do trabalho e dos afazeres do lar. O tempo livre de que dispõem encontra-se intercalado entre as 44 horas semanais de sua jornada de trabalho e a jornada doméstica, restringindo-se há algumas horas nos finais de semana. Algumas trabalhadoras relataram não dispor de tempo nenhum para o lazer. Esses dados contrastam com resultados de outras pesquisas que apontam uma média de 35,2 horas semanais livres entre os brasileiros. Observamos que a maioria das entrevistadas usa seu tempo livre para ficar em casa assistindo televisão com a família ou realizando outras atividades domésticas. Percebemos também que as atividades realizadas fora do ambiente doméstico são atividades que requerem o desprendimento de pouco ou nenhum recurso financeiro para sua realização, como caminhar, sair com os amigos, ler, ir à festas ou à praia, numa visível demonstração do impacto do fator financeiro na qualidade do lazer e principalmente sobre a visão do tempo livre para além do descanso e do lazer como algo para além do divertimento e do consumo.

CONCLUSÃO:

O lazer enquanto atividade transformadora e valiosa conquista da classe trabalhadora encontra-se subvertido pela sociedade de mercado que atua sob a lógica do capital. O baixo poder aquisitivo, o baixo nível de escolaridade e a dupla jornada de trabalho a qual as mulheres estão submetidas configuram-se como obstáculos para o aproveitamento consciente do tempo livre e o acesso a atividades de lazer mais críticas e politizadas. Constatamos que as concepções de lazer e de tempo livre no grupo pesquisado restringem-se ao lazer divertimento, que beneficia principalmente a indústria do entretenimento e o estímulo ao consumo compulsivo, e ao aproveitamento do tempo livre como tempo para o descanso e obviamente para a recuperação da força de trabalho, o que atende simplesmente aos interesses do empregador. Esses resultados demonstram o papel funcionalista que o lazer desempenha na sociedade e como essa conquista histórica vem sendo subvertida ao longo dos anos.

Palavras-chave: Lazer, Tempo livre, Trabalhadoras.