62ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 5. Teoria e Análise Lingüística
O PAPEL DA MARCAÇÃO NO USO DOS CONECTORES E, AÍ E ENTÃO: NÍVEL DE ARTICULAÇÃO E TIPO DE ORAÇÃO
Laralis Nunes de Sousa 1
Maria Alice Tavares 1
1. Departamento de Letras, Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
INTRODUÇÃO:
Nesta pesquisa, pretendemos analisar as ocorrências dos conectores coordenativos E, AÍ e ENTÃO para mensurarmos a influência do princípio da marcação linguística (GIVÓN, 1995) sobre seu uso. Segundo esse princípio, que distingue formas marcadas de não-marcadas, estruturas menos marcadas tendem a ocorrer predominantemente em contextos menos complexos e estruturas mais marcadas tendem a ocorrer predominantemente em contextos mais complexos. Assim, temos que E é o conector menos marcado por ser menor e bastante frequente; AÍ possui marcação intermediária por ser de tamanho médio (embora seja o mais recorrente); e ENTÃO é o mais marcado, por ser o maior e o menos frequente. Para nossa análise, fundamentamo-nos nos pressupostos da teoria funcionalista de vertente norte-americana, segundo a qual a gramática da língua é determinada pelo contexto de uso, sendo, portanto, não rígida, mas flexível e adequável às intenções dos sujeitos durante a interação linguística.
METODOLOGIA:
Em nossa análise, recolhemos, primeiramente, dados de cinco conversações cotidianas, buscando identificar o grau de complexidade de cada contexto em que os conectores se encontravam. Posteriormente, levantamos, codificamos e analisamos os dados obtidos, que totalizaram 176 conectores. Avaliamos cada uma das ocorrências de acordo com os grupos de fatores linguísticos denominados "tipo de oração" (fator esse ligado à complexidade semântico-pragmática) e "nível de articulação discursiva" (fator ligado à complexidade morfossintática). Tais fatores são suficientes para indiciar diferentes graus de complexidade em situações de interação. Finalmente, transferimos os dados ao programa estatístico VARBRUL (PINTZUK, 1988) para cálculo de frequências e percentuais. Com base nesses resultados, confeccionamos as tabelas.
RESULTADOS:
Dos tipos de oração, a menos complexa é a oração afirmativa; a de média complexidade é a imperativa; as de maior complexidade são as negativas e interrogativas. Dos níveis de articulação discursiva, quando o conector está entre orações, o contexto é mais simples; quando o conector está entre subtópicos e segmentos tópicos, o contexto é de média complexidade; quando os conectores estão entre turnos e entre tópicos, o contexto é de alta complexidade. Na análise relacionada ao grupo de fatores denominado tipos de oração, apenas E (conector de baixa complexidade) teve o comportamento esperado: ocorreu 79% das vezes em contextos de baixa complexidade. AÍ (conector de média complexidade) e ENTÃO (conector de alta complexidade) fugiram às nossas expectativas: ocorreram majoritariamente em contextos de baixa complexidade (AÍ: 77%; ENTÃO: 67%). Quanto aos níveis de articulação, os números indicam que E e AÍ tiveram comportamento esperado segundo o princípio da marcação linguística: E ocorreu mais em contextos de baixa complexidade (aproximadamente 40% do total de ocorrências) e AÍ apareceu mais vezes em contextos de complexidade média (aproximadamente 60% do total de ocorrências). ENTÃO não teve o comportamento esperado: foi mais recorrente em contextos de média complexidade (67%) e não de alta complexidade.
CONCLUSÃO:
Constatamos que o princípio cognitivo da marcação é de fundamental importância para a seleção de cada conector feita pelos natalenses, no momento da conversação: E tende a ser mais recorrente em contextos menos marcados, AÍ predomina em contextos de média e baixa marcação (padrão de comportamento esperado para elementos de marcação intermediária). Apenas ENTÃO fugiu à expectativa, pois predomina em contextos de baixa marcação, apesar de ser o conector mais marcado. Talvez isso se deva ao fato de que ENTÃO é pouco frequente em nossa amostra de dados, contando com apenas nove ocorrências.
Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq
Palavras-chave: Conectores, Conversação, Marcação linguística.