Uma parcela significativa das informações obtidas em Biologia é fornecida por meio de observação direta dos organismos ou fenômenos ou por meio de observação de figuras, modelos, etc. Contudo, nem sempre é possível observar o objeto de estudo que é então substituído por ilustrações. Ao utilizá-las, os professores nem sempre consideram as dificuldades dos estudantes para a compreensão de representações simbólicas (KRASILCHIK, 1996). Esse fato pode ser verificado nos trabalhos de Castro (2000) e Cardoso et al (2003) onde os alunos apresentam dificuldades em imaginar, a partir de figuras representadas no plano (livro didático), uma estrutura em três dimensões. De acordo com Carvalho & Gil-Perez (2001), os professores precisam adquirir conhecimentos teóricos sobre a aprendizagem das Ciências e saber preparar atividades capazes de gerar uma aprendizagem significativa. O presente trabalho objetiva averiguar quais os obstáculos enfrentados pelos alunos na compreensão do conteúdo de Citologia e verificar se a construção de modelos biológicos tridimensionais por eles pode ser utilizada como um recurso didático para a melhoria do ensino dessa área do conhecimento científico.

A pesquisa foi realizada durante o 2° semestre de 2007 tendo por sujeitos noventa e um alunos do 1º ano do Ensino Médio, do Colégio Militar do Corpo de Bombeiros do Estado do Ceará (CMCB), escola localizada no município de Fortaleza. Aos alunos foram ministradas aulas de Citologia, após as quais os alunos, organizados em equipes, foram orientados a construir modelos biológicos referentes ao conteúdo a partir das ilustrações de estruturas citológicas visualizadas em livros didáticos, à escolha de cada grupo. Deveriam representá-los em três dimensões, podendo utilizar diversos tipos de materiais alternativos, como massa de modelar, gesso, biscuit, isopor, borracha E.V.A, cartolina, etc. Após a construção dos modelos, aos alunos foi aplicado um questionário para percepção de questões relacionadas ao aprendizado desse conteúdo. As respostas foram analisadas qualitativamente.

Foram representados as seguintes estruturas e processos celulares: células vegetais, animais, bacterianas, membrana plasmática, núcleo, mitocôndrias, ação enzimática e divisão celular. Sobre a construção da membrana plasmática relataram sentir dificuldade em compreender a constituição dessa estrutura, sua organização e como funcionam os mecanismos que permitem a passagem de substâncias para o interior da célula. Os que construíram células relataram que não conseguiam compreender como as organelas estavam situadas no citoplasma, e como eram sustentadas no citosol. Segundo os alunos, o modelo de divisão celular permitiu uma melhor compreensão dos cromossomos e de como se comportam durante a mitose. Ao serem questionados quanto à contribuição da metodologia empregada para a compreensão da Citologia, os alunos mencionaram que os modelos permitiram uma melhor visualização dos componentes celulares e de sua organização. Como atividade prática, proporcionou uma melhor compreensão da teoria, tornando-a mais acessível e, ao exigir uma leitura mais aprofundada do assunto para construí-los, provocou uma situação de aprendizado. Quanto à satisfatoriedade dessa metodologia de ensino, 95,6% dos alunos a consideraram satisfatória, especialmente pelo fato de os modelos poderem ser manuseados.

A construção dos modelos permitiu a reformulação de idéias que os estudantes tinham a respeito de célula. Revelou-se numa atividade estimuladora ao processo de aprendizagem do conteúdo de Citologia, pois os alunos puderam representar, concretamente, aquilo que aprenderam. Essa atividade pôde dinamizar a cognição dos educandos através do raciocínio autônomo, contemplando, assim, alguns dos objetivos da aprendizagem: modificação, construção e produção de conhecimento à medida que interpretam as ilustrações e confeccionam tais modelos, fornecendo uma melhor compreensão dos conteúdos ministrados. Além disso, a atividade proposta pode constituir-se como um recurso didático, subsidiando o trabalho do professor para que possa perceber, nos modelos construídos, a leitura que os alunos fazem a respeito da célula e de seus processos. Em alguns modelos tridimensionais não foram mantidas as corretas proporções entre as diversas estruturas celulares (núcleo, mitocôndria, retículo...), o que indica a necessidade de mais investigação sobre a forma como o aluno aprende esse conteúdo e quais os obstáculos que enfrenta para a concepção de conceitos científicos aceitáveis.