62ª Reunião Anual da SBPC
E. Ciências Agrárias - 3. Recursos Florestais e Engenharia Florestal - 6. Recursos Florestais e Engenharia Florestal
ASPECTOS BIOMÉTRICOS DOS FRUTOS E SEMENTES E POTENCIAL DE USO DA PALMEIRA JACI (Attalea butyracea (Mutis ex L.f.) Wess. Boer) NO ESTADO DO ACRE
Cleison Calvalcante de Mendonça 1
Simone Pereira da Silva 1
Ednéia Araújo dos Santos 1
José de Ribamar Bandeira 1
João Bosco Nogueira de Queiroz 1
Evandro José Linhares Ferreira 2
1. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA/Núcleo de Pesquisa do Acre
2. Dr./Orientador - Inst. Nac. Pesq. da Amazônia - INPA/Núcleo de Pesquisa do Acre
INTRODUÇÃO:
O jaci (Attalea butyracea) é uma palmeira solitária, inerme, de médio a grande porte que pode atingir até 20 m de altura. Possui folhas pinadas e suas inflorescências são intrafoliares, unissexuais e múltiplas. O epicarpo é espesso e fibroso, adquirindo cor marrom-amarelada quando maduro. O endocarpo é ósseo e contém entre 1-4 endospermas. Embora seja uma espécie amplamente distribuída no oeste da bacia Amazônica, sua ocorrência no Brasil se restringe ao Acre e Amazonas. No Acre é mais comum na região central do Estado e nas cercanias da cidade de Rio Branco. É relativamente rara em florestas primárias e abundante em áreas antropizadas, onde pode formar populações comparáveis às do babaçu (Orbignya speciosa). Localmente, as folhas são usadas na cobertura de habitações rurais e os frutos comestíveis são muito apreciados pelos habitantes locais. Uma análise centesimal de frutos provenientes de Tarauacá-AC revelou alto teor de lipídios na polpa (39,48%) e endosperma (61,72%), indicando que a espécie tem potencial para a produção de óleo vegetal visando a síntese de biodiesel. Espera-se que a caracterização biométrica dos frutos e sementes aqui apresentada possa subsidiar a realização de outros estudos que comprovem a viabilidade da exploração da espécie com esse fim.
METODOLOGIA:
Os frutos usados neste estudo foram colhidos em março de 2010 em uma população natural da espécie localizada em uma área de pastagem às margens do km 60 da BR-364, sentido Rio Branco-Porto Velho (10º03'27"S; 67º17'08"W; 174 m). A caracterização biométrica dos frutos e sementes foi realizada no Laboratório de Sementes Florestais do Parque Zoobotânico (PZ) da Universidade Federal do Acre, localizado na cidade de Rio Branco (10º02'11"S; 67º47'43"W; 152 m). Para a avaliação, foram usados 50 frutos maduros retirados da base (10), da porção mediana (30) e do ápice (10) de um cacho. Antes da retirada dos frutos, o cacho foi pesado em balança tipo plataforma (precisão 0,1 g) e os frutos contados. A pesagem dos frutos e das sementes foi feita em balança com precisão de 0,01 g e as medidas de comprimento e diâmetro, em milímetro, com paquímetro de precisão. Depois de medidos, os frutos foram despolpados manualmente, com auxílio de faca. Dos frutos foram feitas avaliação das seguintes variáveis: peso total, comprimento e diâmetro, peso e profundidade da polpa. Da semente foram avaliados os seguintes parâmetros: peso total (endocarpo + endosperma), peso, comprimento e diâmetro do endocarpo.
RESULTADOS:
Durante o trabalho de campo foi observado que a quantidade de cachos por palmeira varia entre 1-3, mas apenas um cacho amadurece por vez. O peso do cacho foi de 58,1 kg e o número de frutos 675. Os frutos, com forma oblongo-ovóide ou oblongo-elipsóide, têm peso médio de 85,49 g (com perianto), comprimento médio de 7,36 cm (com perianto) e diâmetro médio de 3,67 cm. A casca pesa em média 29,49 g. A polpa pesa 14,22 g, mas se revelou seca e não carnosa, como acontece com frutos provenientes de frutos colhidos na região central do Estado. Além disso, sensorialmente a polpa não deu a impressão de ser oleosa. A semente tem peso médio de 41,78 g e mede 6,18 cm de comprimento e 3,05 cm de diâmetro. Ainda não foi possível obter dados sobre o endosperma porque sua retirada de forma intacta do interior do endocarpo é muito difícil em razão da extrema dureza deste. Os frutos da jaci são comparáveis, biometricamente, aos da palmeira uricuri (Attalea phalerata), uma espécie morfologicamente similar e com potencial oleaginoso comprovado. Embora os frutos sejam menores, eles possuem endocarpo mais pesado (41,78 x 33 g) e menor quantidade de polpa (0,35 x 1,8 mm de profundidade de polpa). Os cachos da jaci são mais pesados (58,1 x 18,8 kg) e possuem 3 vezes mais frutos (675 x 205 unidades).
CONCLUSÃO:
Este trabalho revelou que os frutos da palmeira jaci provenientes da região de Rio Branco são comparáveis biometricamente aos frutos da palmeira uricuri encontrada na mesma região. A jaci, entretanto, tem potencial para produzir mais frutos/ano, pois seus cachos têm pelo menos o triplo de frutos. O fato dos frutos provenientes da região de Rio Branco não terem polpa oleosa - se comparados com frutos originários da região central do Estado - sugere que a espécie é geneticamente variável e que o seu aproveitamento para a extração de óleo dependerá de uma avaliação cuidadosa dos frutos nas diferentes populações existentes pelo Estado. O potencial oleaginoso do endosperma dos frutos da jaci é pouco inferior ao da palmeira uricuri (61,72% x 66% de lipídios), que pode produzir 3-7 kg de óleo/planta, considerando uma produção de 60-120 kg de frutos/planta/ano e rendimento de 66% de óleo das amêndoas. Neste contexto, estudos adicionais com a palmeira jaci são importantes porque teoricamente ela tem grande potencial de produção de frutos e, ao contrário da uricuri, é capaz de formar extensas populações em áreas antropizadas, especialmente pastagens localizadas ao longo das estradas da região. Esta condição facilitaria uma eventual exploração extrativista da espécie.
Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq
Palavras-chave: Attalea butyracea, biometria, potencial de uso.