62ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 10. Comunicação - 1. Comunicação Digital
REDES SOCIAIS E MOVIMENTO FEMINISTA: ESTUDO EXPLORATÓRIO A PARTIR DE COMUNIDADES DO ORKUT
Ronaldo Ferreira de Araújo 1, 2
Ana Paula dos Santos Madeiro 1
Maria Flávia da Silva Belo 1
Mirian Magda dos Santos 1
1. Biblioteconomia, Instituto de Ciências Humanas, Comunicação e Artes - UFAL
2. Prof./Me
INTRODUÇÃO:
As redes sociais são formas de representação da interação entre indivíduos agrupados por interesses mútuos, identidades semelhantes e também valores a serem compartilhados. A internet tem se constituído no principal espaço para os movimentos sociais em rede por possibilitar uma acelerada e ampla difusão de idéias além de possibilitar uma absorção de novos elementos em busca de algo em comum, em qualquer tempo-espaço. A presente pesquisa objetiva a discussão das redes sociais, suas características e os princípios que as definem, com foco no agrupamento e discussão em torno do feminismo e movimento feminista. Analisa a participação destes movimentos na internet a partir de comunidades que os representam na rede social que foi lançada em 2004 e hoje possui a maior representatividade no Brasil, o Orkut. A interação nessa rede pode ocorrer de forma independente (usuário - usuário) a partir de recados, comentários em fotos e vídeos, e depoimentos; ou mediada (usuário - comunidade - usuário) a partir da participação em comunidades por meio de funcionalidades como fóruns e enquetes. O estudo analítico de comunidades tem se constituído um rico instrumento para aproximação determinados grupos e compreensão de suas formas de interação e colaboração bem como seus objetos e temas de discussão.
METODOLOGIA:
Os procedimentos metodológicos foram: a) pesquisa exploratória sobre os temas "redes sociais e internet" e "feminismo e movimento feminista", para melhor compreensão a aproximação do objeto de estudo; b) levantamento do material empírico, a partir da coleta de dados no site do Orkut no dia 26 de março de 2010, e pré-análise das comunidades examinadas, e; c) análise quantitativa (comunidades, membros, incidência de tópicos e postagens em fóruns) e qualitativa (categorização dos tópicos por meio da análise de conteúdo e análise das enquetes). As palavras-chave usadas para a busca foram "feminismo" (197) e "movimento feminista" (82) oferecendo uma amostra de 279 comunidades para a análise. Dentre as 279 encontradas foram selecionadas as dez mais populosas. As comunidades são apresentadas por nome e número de membros, tipo, categoria e privacidade de conteúdo. Para a análise dos tópicos nos fóruns e das enquetes foram considerados os que tiveram maior participação, a saber: 66 tópicos com 5.165 postagens (posts) e 7 enquetes com 7.604 respostas. Para a análise dos tópicos foi realizada uma categorização por tipo de conteúdo/assunto predominante.
RESULTADOS:
As dez comunidades analisadas foram: "Contra violência à mulher"(46.929); "Lugar de mulher é na revolução"(16.702 membros); "Feminismo e Feministas ♂ = ♀"(12.4520); "Lei Maria da Penha: n° 11.340"(11.808); "Feminismo"(4.004); "Prática Feminista"(3.621); "Consciência Feminista"(2.182); "Feminismo não é Sexismo"(1.582); "Feminismo e Libertação"(1.565); e "Feminismo para mudar o mundo!"(1.139). Trata-se de comunidades criadas entre 2004 e 2007, do tipo pública(50%) e moderada(50%). Sobre a privacidade de conteúdo apenas uma encontra-se fechada para não membros. As categorias indicadas são "Familia e Lar"(10%); "Atividades"(10%); "Culturas e comunidade"(30%); "Governo e política"(30%); "Pessoas"(10%) e "Outras"(10%). Na categorização dos tópicos destaca-se a categoria "posicionamento frente a determinadas situações/temáticas" que indicou a maior frequência (24,24%) com 1847 posts. Nessa categoria é discutido, por exemplo, se você é "contra ou a favor do aborto" e "se homens deveriam participar das discussões". A enquete com mais votos (4.079) foi "SE VC VISSE OU SOUBESSE DE ALGUEM AGREDINDO ALGUMA MULHER O Q VC FARIA?" tendo como opções: Separava os dois(2%); Partiria pra cima do agressor(5%); Chamaria ajuda(6%); Ligava para a policia(15%); Fingia que nada estava acontecendo(69%).
CONCLUSÃO:
O estudo possibilitou a caracterização do movimento feminista na internet, suas formas de interação e seus temas de discussão. Pode-se dizer que o movimento feminista tem acompanhado a dinâmica das redes sociais e internet uma vez que das dez comunidades analisadas, três foram criadas no mesmo ano de lançamento do Orkut, em 2004 e mais três no ano seguinte, 2005. Ao observar o número de membros das comunidades esperava-se maior participação nos fóruns e enquetes. Isso confirma a opinião de alguns autores ao dizerem que a escolha de comunidades não tem como objetivo prioritário a colaboração ou discussão de temas de importância para a vida social e política, mas apenas a evidência de hábitos, atitudes, preferências e traços de identidade. Observou-se como esperado uma baixa participação de homens nas discussões. As enquetes conseguem maior participação do que os fóruns no que tange aos números absolutos de votos. Outras categorias apresentadas como "discussão sobre tema específico"(dia da mulher, parto, violência, mulher e política, mulher e religião), "relatos de experiência/denuncia (agressão, abuso)", "divulgação e convite a eventos/mobilizações" e "orientações" (procedimentos após uma agressão ou abuso) apontam os fóruns como ricos espaços para a interação entre os membros.
Palavras-chave: Redes socias, Internet, Movimento feminista.