62ª Reunião Anual da SBPC
E. Ciências Agrárias - 5. Medicina Veterinária - 3. Medicina Veterinária Preventiva
INTERFERÊNCIA DE PRÁTICAS DE MANEJO HIGIÊNICO-SANITÁRIO NA QUALIDADE DO LEITE CRU OBTIDO EM PROPRIEDADES FAMILIARES
Maria Imaculada Fonseca 1
1. Departamento de Economia Rural, UNESP - câmpus de Jaboticabal
INTRODUÇÃO:

Em decorrência da pressão exercida pelo mercado em busca de melhor qualidade dos produtos assim como maior preocupação dos consumidores com relação à segurança alimentar, a pecuária leiteira brasileira vem sofrendo inúmeras mudanças, formalizadas pela Instrução Normativa (IN) 51. Neste contexto, a maior probabilidade de sobrevivência estará com aqueles produtores que tiverem melhores condições de se adaptarem e, principalmente, a se conscientizarem sobre a importância da utilização racional dos recursos disponíveis, de modo a melhorar a qualidade sem comprometer a rentabilidade. No que concerne à qualidade do leite, o processo de obtenção na propriedade constitui a etapa de maior vulnerabilidade para a ocorrência de contaminações que podem ser imediatamente incorporados ao produto in natura, estando diretamente associada à limpeza dos utensílios utilizados para retirada e transporte do leite, a higienização deficiente da superfície dos tetos, dos baldes, latões e sistema de ordenha. Diante deste quadro, o objetivo do presente trabalho foi determinar a interferência do manejo higiênico-sanitário na qualidade do leite através do levantamento das práticas realizadas em propriedades familiares, bem como da análise microbiológica do leite produzido.

METODOLOGIA:

Em cada propriedade foram colhidas, em frascos de 250 mL esterilizados, cinco amostras de leite do latão, levadas ao laboratório acondicionadas em caixas de material isotérmico com cubos de gelo e imediatamente processadas.  Para a análise microbiológica seguiu-se metodologia preconizada pelo Manual do LANARA (BRASIL 1981). Para o preparo das diluições decimais foi adicionado 1 mL de leite em 9 mL do diluente (água peptonada a 0,1% esterilizada a 120ºC por 15 minutos em autoclave), obtendo-se a diluição 10-1 e fazendo o mesmo para as subseqüentes até 10-6.  A partir da amostra nas diluições 100, 10-1 e 10-2, foram inoculados com 1 alíquota, respectivamente, 3 baterias de 3 tubos de caldo lauril sulfato triptose com tubo de Durhan invertido e incubados a 35ºC por 24 a 48 horas e considerados positivos aqueles com presença de crescimento bacteriano. Para a determinação do NMP de coliformes totais e fecais, utilizou-se Tabela de NMP de três séries de três tubos. Para quantificação dos microrganismos mesófilos utilizou-se a contagem padrão em placas com incubação a 35 ± 1°C/48 h pelo método de "POUR PLATE", em PCA, com duas repetições nas diluições 10-4, 10-5 e 10-6. A avaliação dos resultados foi feita pelo teste de Tukey, para probabilidade de 0,05, pelo programa MINITAB®.

RESULTADOS:

Os resultados referentes à qualidade do leite foram condizentes com as características relacionadas ao manejo e à sanidade do rebanho, ou seja, as medidas sanitárias e de manejo, não eram realizadas de forma adequada, tornando as condições higiênicas extremamente deficitárias. Dentre as variáveis analisadas, destaca-se a deficiência no controle de doenças como mastite, brucelose e tuberculose, demonstrando o descaso pelas exigências legais; ausência de procedimentos como pré e pós-diping e ausência de limpeza e desinfecção periódica dos reservatórios da água utilizada para higienização dos utensílios de ordenha e para consumo humano, sem fatores de proteção e expostos à contaminação. Quanto à qualidade microbiológica do leite cru, para o NMP de coliformes totais e fecais as médias não foram significativas (p >0,05), Para as médias das contagens de microrganismos mesófilos, todas as amostras encontram-se fora dos padrões microbiológicos exigidos pela IN 51 para propriedades produtoras do leite cru refrigerado (máximo de 1,00x106 UFC/mL de leite). Assim como os valores médios para coliformes totais e fecais que ficaram entre 1,85 e 22,81, e 0,30 e 0,54 NMP/mL de amostra, respectivamente e os para microrganismos mesófilos que ficaram entre 1,65 e 4,76 x 106 UFC/ml de leite.

CONCLUSÃO:

O levantamento realizado possibilitou a caracterização das propriedades e o entendimento dos resultados microbiológicos obtidos, demonstrando a necessidade da adoção de medidas higiênico-sanitárias em toda linha de produção do leite, especialmente naquelas dentro da propriedade, pois são importantes pontos de contaminação microbiana que comprometem de forma irreversível a qualidade do produto final. Os altos valores encontrados de contaminação microbiana do leite cru, bem como a ausência da adoção das medidas consideradas imprescindíveis para a obtenção do produto de qualidade indicam que o processo de obtenção do leite é realizado sob precárias condições higiênico-sanitárias que levam à altas contagens de microrganismos no produto interferindo de forma negativa em sua qualidade e podendo constituir-se em risco à saúde animal e à saúde pública, principalmente quando consumido sem tratamento térmico adequado. Tais resultados demonstram que os produtores desconhecem os riscos advindos das suas ações, indicando a necessidade da realização de um trabalho de educação sanitária com o objetivo não apenas de conscientizá-los sobre a importância da adoção de medidas para a melhoria da qualidade do leite, mas também sobre o reflexo destas na saúde humana.

 

 

Palavras-chave: Qualidade do leite, Propriedades familiares, Manejo higiênico-sanitário.