62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 11. Ensino-Aprendizagem
TRATAMENTO DO VOCABULÁRIO NOS LIVROS DIDÁTICOS DE LÍNGUA PORTUGUESA 
Juliana Clara Pinton 1
Vanessa Titonelli Alvim 1
Gillian Mariana Luciano 1
Maria Diomara da Silva 1
Luciane Manera Magalhães 1
Raíssa Pifano de Araújo 1
1. Universidade Federal de Juiz de Fora/ Faculdade de Educação
INTRODUÇÃO:

O currículo escolar destinado ao ensino de Língua Portuguesa (LP) apresenta uma lacuna no que tange a ações pedagógicas concernentes ao ensino/ampliação do repertório lexical do aluno. Nas raras vezes em que são vislumbradas questões relativas ao vocabulário, estas se dão de maneira estática e descontextualizada. A situação se repete nos livros didáticos. Nestes, muitas vezes, utiliza-se um gênero textual para tratar tais questões, mas as abordagens baseiam-se sempre em palavras ou partes de textos pertencentes ao gênero estudado. Diante de tal problemática, o presente trabalho analisa os tipos de exercícios propostos para o tratamento do vocabulário, inseridos no trabalho com o gênero textual reportagem, em uma coleção de livros didáticos de LP. Na busca de evidências para constatar a presença de exercícios que possam realmente auxiliar no "manejo" e aprendizado do léxico, nota-se o uso exclusivo de paráfrases, definições, sinonímias e polissemias. De encontro a estas constatações, é proposta uma articulação entre gênero textual e tratamento do vocabulário, apoiando-se na perspectiva de findar com as artificialidades e negligências presentes no tratamento do léxico em sala de aula.

METODOLOGIA:

Este estudo insere-se na abordagem qualitativa de pesquisa e adota o modelo interpretativista (MOITA LOPES, 1994) para a análise dos dados. Alicerçadas no objetivo de se investigar os exercícios diretamente relacionados ao ensino do léxico, propostos nos livros didáticos de Língua Portuguesa, foi selecionada uma coleção dos anos iniciais do Ensino Fundamental, qual seja: "Aprendendo Sempre", de Cláudia Miranda e Vera Lúcia Rodrigues (Editora Ática). O primeiro passo para a preparação dos dados foi a realização de um levantamento de todos os textos presentes nos cinco livros da coleção, seus respectivos gêneros e exercícios/atividades propostos. Observou-se a presença mais evidente de exercícios que traziam aspectos ligados ao vocabulário no gênero reportagem. Como os livros do 1° e 2° anos não apresentavam o referido gênero foram descartados. De posse dos dados, procedeu-se à primeira análise, a qual foi fundamentada em diversas leituras e releituras do material selecionado. Foram levantados todos os exercícios que envolviam o estudo do vocabulário, comparados entre si e organizados em categorias. Por fim, investigamos a presença/ausência do desenvolvimento gradual destes exercícios.

RESULTADOS:

Segundo Bakhtin (1989) o livro é um ato de fala impresso, constitui igualmente um elemento da comunicação verbal. Com base nessa afirmação, pressupõe-se que os livros didáticos de Língua Portuguesa, manifestem de alguma forma, uma interação livro-aluno, por meio de propostas didáticas, favorecendo os mais variados aprendizados. Neste sentido, entra em cena o vocabulário. A partir de nossas investigações notamos que o trabalho com as palavras tinha um perfil extremamente reducionista. Contradizendo os dizeres de Leffa (2000), quando afirma que definir uma palavra como uma unidade mínima de sentido não é uma tarefa fácil, devido às inúmeras nuances de significado que uma palavra possui. Os resultados alcançados revelam que os exercícios encontrados nos livros analisados lançam mão da polissemia, da paráfrase, de definições e sinonímias para sistematizar recortes extraídos de textos e desse modo, trabalhar com o vocabulário. Conforme Biderman (2001) é relativamente simples atribuir uma forma a um item lexical; é difícil, porém, especificar os limites do conceito ao qual ele se refere.

 

CONCLUSÃO:

Com base nas análises realizadas chega-se à conclusão de que os exercícios com vocabulário não se apresentam de maneira coerente com a proposta de ensino do gênero textual reportagem, uma vez que eles só estabelecem algum tipo de relação devido aos recortes de expressões e palavras dos textos ilustrativos do gênero. Portanto, esses exercícios estão dispostos nos livros fora de contexto, não há um trabalho simultâneo entre a aquisição e o enriquecimento do léxico e as competências necessárias para que os alunos, com autonomia, consigam dominar o gênero. Percebe-se que, do ponto de vista pedagógico, existe a necessidade de promover atividades sistemáticas que tenham como principal enfoque o léxico. Além disso, ao parear os três livros analisados observou-se uma mudança sutil nos perfis dos exercícios, porém não existe uma gradação e um decorrente aprofundamento conforme a mudança de um ano para o outro. Diante de todos os aspectos abordados neste trabalho, torna-se relevante destacar a importância de se ter um olhar criterioso para as questões que envolvem o tratamento do léxico, pois um vasto conhecimento vocabular pode se constituir como um instrumento facilitador da utilização de recursos linguísticos e, consequentemente, no uso da língua propriamente dita.

Instituição de Fomento: FAPEMIG
Palavras-chave: Vocabulário, Livro Didático, Ensino-Aprendizagem.