62ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 13. Serviço Social - 1. Serviço Social Aplicado
QUESTÃO SOCIAL E O TRABALHO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL: ATUAÇÃO NO COMPLEXO CRAS-CREAS
Nathália Lopes Caldeira Brant 1
José Fernando Siqueira da Silva 2
1. Depto. de Serviço Social, Universidade Estadual Paulista -UNESP-Franca
2. Prof. Dr./Orientador - Depto. de Serviço Social, UNESP-Franca
INTRODUÇÃO:
A sociedade brasileira é constantemente transformada pelos reflexos das relações estabelecidas a partir do modo societário vigente: a ordem burguesa. As relações sociais no capitalismo se estruturam sob o mundo do capital que culmina na luta de classes, em que uma minoria detém os meios de produção e, portanto, exerce um poder de exploração necessário para sua reprodução. É por meio do trabalho e da apropriação da riqueza socialmente produzida que se estabelece a dominação de classe e se reproduz formas particulares de desigualdade social. Parte-se, então, de que estas relações são permeadas por uma violência intrínseca a este modo de sociabilidade e o conjunto destas manifestações denomina-se violência estrutural. Na engrenagem do movimento encontram-se reflexos aparentemente pontuais como a desigualdade social, o desemprego, entre outros pertencentes a uma só questão: a questão social. Ao Serviço Social compete lidar com as refrações desta questão, portanto, é de extrema importância pensar a efetivação do trabalho profissional do assistente social nos Centros de Referência da Assistência Social (CRAS) e nos Centros de Referência Especializados de Assistência Social (CREAS).
METODOLOGIA:
Tal estudo tem como base empírica a realização de entrevistas com profissionais do Serviço Social que ocupam o complexo CRAS-CREAS (espaços definidos para o gerenciamento da assistência social) nas cidades de Franca, São Carlos e Ribeirão Preto e com expoentes em nível nacional do Serviço Social. As entrevistas realizadas estão sendo transcritas e devolvidas a cada um dos entrevistados para possíveis observações não alterando o teor das informações obtidas. Quando não possível, vem sendo utilizado o questionário. A coleta de dados já foi realizada em São Carlos, Franca e iniciada em Ribeirão Preto. A visita está sendo utilizada como instrumental para observação da dinâmica destes espaços. Também estão sendo ouvidos expoentes do Serviço Social em nível nacional, escolhidos de acordo com as regiões do espaço geográfico brasileiro (entrevistas já realizadas). Serão ouvidos, também, até três núcleos familiares que utilizem os serviços prestados por esses espaços. É necessário um estudo mais denso sobre os princípios que direcionam o trabalho profissional do assistente social nesses espaços, para visualizar as condições concretas da realização, bem como a análise de uma bibliografia acerca do Serviço Social, da violência e do aprofundamento do referencial teórico inspirado em Marx.
RESULTADOS:
A partir das entrevistas e visitas aos espaços nas cidades de Franca, São Carlos e Ribeirão Preto, entende-se que embora seja mais específico do CREAS lidar com a materialização da violência, no CRAS há também reflexos da violência estrutural e existe uma clara percepção que o trabalho profissional se depara com as manifestações de uma violência que se desdobra a partir de uma forma de pensar e de fazer inscrita na própria sociabilidade burguesa que coisifica relações sociais e naturaliza a desigualdade social. A angústia apresentada pelos profissionais situa-se na necessidade de romper com o ciclo da violência e não permitir através do trabalho profissional que ela seja perpetuada. Muitas vezes não existem as condições objetivas para uma prática diferenciada, mas isso não gera, necessariamente, uma acomodação, mas sim uma postura de ocupar e se contrapor a ações meramente funcionais (embora essa percepção careça de maior aprofundamento). Parte dos pesquisadores na área defende que a atual política expressa um avanço diante do histórico conservador e assistencialista antes existente, sendo possível tratar a assistência social como direito, afirmando sua importância e suas necessárias limitações para um projeto que reconheça a emancipação humana como referência última.
CONCLUSÃO:
É preciso reconhecer que existem dificuldades de efetivar ações profissionais epossibilidades de atuação que, de alguma forma, questione a reprodução do sistema.Isso pode intensificar um conjunto de negações para a população usuária daassistência social ampliando o circuito da violência. Contudo, existe tambémuma percepção clara do assistente social que há uma autonomia relativa dele diantedos assuntos em que se depara no âmbito do cotidiano profissional. Há clarezado profissional sobre as potencialidades da profissão no sentido de afirmar direitos(ainda que existam limitações também nesse nível), sem estimular uma atitude profissionalfatalista e/ou messiânica no sentido de que a profissão dará conta ou, aocontrário, não poderá intervir em questões complexas e estruturais. Aemancipação humana não será realizada apenas com a ação profissional, mas contacom as profissões como um aliado não desprezível. As contradições presentes narealidade social e na profissão são inelimináveis, ainda que seja possível enecessário atuar no sentido de afirmar direitos (possibilitando espaços paracerto nível de emancipação aos usuários) e assumir uma postura de resistência àsimposições dadas pelo modo de produção vigente por onde se reproduz a questãosocial: o capitalismo.
Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq
Palavras-chave: Assistência Social, Questão Social, Violência.