62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 3. Educação Ambiental
POLUIÇÃO SONORA: PERCEPÇÃO DA POPULAÇÃO COMO INSTRUMENTO PARA EDUCAÇÃO AMBIENTAL DO BAIRRO DA BOA VISTA, RECIFE - PERNAMBUCO
Tarciana Lima Cirino 1
Luciana Souza da Silva 2
José Ronaldo de Melo Jucá 1
1. Programa de Pós-Graduação em Gestão e Controle Ambiental (POLI-UPE)
2. Programa de Pós-Graduação em Geografia (UFPE)
INTRODUÇÃO:
Os impactos provocados pela concentração populacional em determinados espaços geográficos ocupados por atividades de perfil eminentemente urbano implicam interferências negativas na qualidade do meio ambiente citadino. Das inúmeras variáveis que condicionam essa qualidade ambiental, encontra-se a poluição sonora, que tem caráter mundial e exige ações corretivas e preventivas para situá-la em níveis aceitáveis. Por não possuir uma gestão ambiental mais eficaz, no âmbito da Acústica, o bairro da Boa Vista, Recife - Pernambuco, apresenta um intenso setor de comércio e serviços funcionando em meio a prédios residenciais, numa localidade também marcada pelo intenso tráfego de veículos, acarretando aumento nos níveis de ruído, reflexo de uma educação ambiental deficitária. Para lançar propostas de educação ambiental coerentes com a realidade vivida pela população local, é de fundamental importância averiguar a forma pela qual as pessoas percebem e lidam com essa problemática, integrando os diferentes ramos do conhecimento, inclusive o do senso comum. Assim, este trabalho objetiva realizar um estudo da poluição sonora no bairro da Boa Vista, utilizando como ferramenta de análise a percepção ambiental da população local como recurso para a educação ambiental.
METODOLOGIA:
O ponto de partida encontra-se nas fontes secundárias, através do resgate histórico do bairro e do referencial teórico-conceitual, com a seleção de algumas linhas de pensamento de autores pré-estabelecidos. Em um segundo momento, foram realizadas visitas a campo para observar os recortes sócio-espaciais e as interações estabelecidas no meio urbano. Os dados primários foram coletados no mês de janeiro de 2010, com a aplicação de 178 entrevistas semi-estruturadas no local. Após a análise das informações recolhidas nas entrevistas, feita através de cruzamento de dados em gráficos construídos no Microsoft Office Excel 2003, verificou-se a intensidade dos ruídos utilizando o medidor de nível sonoro Brüel & Kjaer modelo 2236, ajustado conforme a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), junto às fontes de elevada emanação sonora. As medições em dB(A) (decibel ponderado na curva A), realizadas nos dias 25 e 26 de fevereiro também do presente ano, proporcionaram o desenvolvimento de gráficos comparativos entre os valores mensurados e os valores máximos permitidos em lei, construídos, de igual forma, no Microsoft Office Excel 2003. Em linhas gerais, trata-se de uma pesquisa do tipo levantamento, de abordagem quali-quantitativa.
RESULTADOS:
Segundo a população, as principais fontes de emissão de ruído do bairro provêm das atividades de comércio e serviços, através de sistemas de som armados dentro dos próprios estabelecimentos, mas com caixas voltadas para a rua. Através das medições, foi possível constatar que os níveis sonoros locais estão, em vários momentos, muito acima dos permitidos pela NBR 10151/2000, nos dois turnos analisados, algumas vezes atingindo mais de 80 dB(A). Dos entrevistados não-residentes, nenhum disse ter prestado queixa ao órgão responsável pela fiscalização ambiental do local; já no grupo dos residentes, a maioria respondeu de forma afirmativa. Quando as pessoas entrevistadas foram questionadas se elas se engajariam em algum projeto de educação ambiental cujo objetivo fosse combater a poluição sonora, a maioria (68%) respondeu "não", o que denota que a população vê a poluição sonora como um problema a ser mitigado pelo poder público, mediante o exercício de seu poder de polícia. Assim, os resultados apontam que, apesar de a poluição sonora ser alvo de preocupação e incômodo da população do local - uma vez que compromete, inclusive, seu bem-estar - e a percepção ser coerente com os níveis de ruído, há quase nenhum envolvimento da população com o que diz respeito a tal problemática ambiental.
CONCLUSÃO:
As atividades do setor terciário, geradoras de poluição sonora, são reflexo das funcionalidades do bairro da Boa Vista. Conforme revelado pelo estudo da percepção ambiental concernente a tal poluição, as manifestações dos grupos sociais que convivem no local (residentes e não residentes) resultam de suas preferências e visão de mundo. No processo de educação ambiental, a percepção que os indivíduos têm deve ser levada em consideração, pois os transforma em cidadãos propícios a encarar grandes conflitos sócio-ambientais e os faz ir sempre em busca de valores políticos, éticos e culturais. Quando se pensa em educação ambiental, trabalha-se com toda a realidade da população e o saber não se encontra mais restrito aos técnicos e cientistas, mas também nas trocas de conhecimento e experiência. Apesar disso, existe uma indiferença popular no tocante à participação em projetos de educação ambiental com temática voltada para a poluição sonora, e essa indiferença é clara, o que denota a necessidade de uma participação mais ativa da sociedade no sentido de buscar um meio ambiente mais equilibrado.
Palavras-chave: Poluição sonora, Percepção, Bairro da Boa Vista.