62ª Reunião Anual da SBPC |
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 5. Educação de Adultos |
O ANALFABETISMO NA FASE ATUAL DO CAPITALISMO NO BRASIL (2002/2007) |
Judy Mauria Gueiros Rosas 1 Maria de Fátima Gomes de Lucena 2, 3 |
1. Departamento de Fundamentação da Educação, UFPB 2. Departamento de Serviço Social, UFPE 3. Profa. Dra./Orientadora |
INTRODUÇÃO: |
Destacamos a perversa e persistente produção do analfabetismo no Brasil a despeito da implementação de políticas específicas ditas de controle e superação deste fenômeno. Afirmamos que o tratamento do analfabetismo nos governos do presidente Luís Inácio Lula da Silva não rompeu com os propósitos vigentes na sociabilidade capitalista. O transformismo operado pelas novas lideranças da ordem capitalista precisa ser compreendido. Para tanto analisamos o Programa Brasil Alfabetizado. Inferimos que dentro da própria política que objetiva superar o analfabetismo se inscreve a sua impossibilidade. O analfabetismo é um fenômeno produzido a partir de relações de estranhamento que sustentam e legitimam a sociabilidade do capital. Indicamos como objetivos da nossa pesquisa: I- entender a persistência do analfabetismo, da subescolarização e da improdutividade escolar como expressões da produção de estranhamentos gerados no contexto de reprodução da ordem do capital; II- compreender as políticas de superação do analfabetismo e da subescolarização como instrumentos de controle social; III- analisar o Programa Brasil Alfabetizado para identificar as contradições existentes entre o discurso do governo e a objetivação desta política. |
METODOLOGIA: |
Tomamos como ponto de partida para a análise do analfabetismo a concepção marxiana de trabalho enquanto atividade teórico-prática. Optamos por realizar uma pesquisa documental e bibliográfica, cujas análises foram baseadas nas fontes indicadas: 1- Documentos referentes ao Programa Brasil Alfabetizado, tanto elaborados pelos gestores como por intelectuais e organizações não governamentais vinculados ao tema. 2- Documentos de campanha de Lula enquanto candidato à Presidência da República, em 2002, em 2006 e nas duas tentativas anteriores a estas. 3- Material de divulgação do Presidente eleito e dos gestores da educação (ministros, secretários e coordenadores da EJA no MEC), do período compreendido entre 2002 e 2006. 4- Dados censitários fornecidos pelo IBGE e institutos de pesquisa. 5- Informações e notícias presentes nas mídias impressas/internet sobre o tema. A análise dos resultados obtidos na pesquisa documental esteve articulada à revisão teórica que procedemos com base no estudo das categorias definidas como fundamentais à compreensão do problema formulado. |
RESULTADOS: |
Tão necessária ao capital é a manutenção da condição de analfabetos e analfabetas, como também o são a violência urbana e do campo, a condição subalterna como são tratadas as mulheres, os negros, os idosos, os jovens, as crianças, os deficientes, os trabalhadores e trabalhadoras, todos: pobres. A existência destes sujeitos é expressão das múltiplas formas como os antagonismos produzidos indicam situações de subalternidade ao mesmo tempo em que exprimem a permanente e, por vezes, indisfarçável luta de classes. A persistência do analfabetismo, da subescolarização e da aparente improdutividade do sistema escolar brasileiro está intimamente relacionada às necessidades de reprodução da ordem do capital, a partir da imposição no nível das leis, da organização estatal, da política, do entretenimento e em todas as instâncias da vida humana, de limites extremos de estranhamento. Estes operam no sentido de criar ilusões com tamanha profundidade que invertem as relações e a consciência sobre estas. Além disso, o capitalismo é tão mais vitorioso quanto mais cria um exército de "incompetentes" cuja situação se se torna mais aguda quando os condena à ignorância, o que demonstra a real insuficiência das políticas que sugerem suprimir o analfabetismo, caso do Programa Brasil Alfabetizado. |
CONCLUSÃO: |
As profundas identificações relacionadas aos fundamentos do Programa Brasil Alfabetizado e do Programa Alfabetização Solidária e a similitude quanto às formas de executá-las, não nos deixam dúvidas sobre a identidade política e econômica de seus agentes, intelectuais que encontraram no transformismo sua mais genuína expressão. Não desconhecemos a força da atual ofensiva capitalista e a facilidade como este modo de produção agrega setores que se encantaram com o canto da sereia do individualismo, do enriquecimento, do estranhar-se em relação aos que são explorados, aos que são analfabetizados, como forma de sedimentar desigualdades que, se ainda hoje são justificadas como naturais, têm na provisoriedade, característica de tudo o que é sólido, o germe da sua própria destruição. No Brasil o analfabetismo e a subescolarização afetam a maioria das massas trabalhadoras envoltas na perplexidade provocada pelo "despreparo" para se inserir nesta nova ordem e tornados inservíveis à nova lógica produtiva, por estarem destituídos dos saberes necessários à sua inserção no mercado. Certamente é no próprio mundo do trabalho que encontraremos as alternativas para a construção da sociabilidade do labor que emancipa. |
Instituição de Fomento: Capes |
Palavras-chave: Analfabetismo, Políticas Sociais, Luta de Classes. |