62ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 12. Neurociências e Comportamento - 1. Neurociências e Comportamento
INFLUÊNCIA DA EMOÇÃO E DA COESÃO SEMÂNTICA SOBRE A MEMÓRIA DECLARATIVAA
Raphael Bender Chagas Leite 1
Regina Helena da Silva 1
Fabíola da Silva Albuquerque 1
1. Departamento de Fisiologia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte / UFRN
INTRODUÇÃO:
Como já está bem consolidado na literatura especializada, itens com alto grau de alerta emocional são melhor recordados em tarefas de memória do que itens neutros. Esses podem ter valência positiva ou negativa, porém o efeito emocional na memória tem sido mais demonstrado nestes últimos. Um tipo de item emocional são as palavras tabus, proporcionando um bom modelo para o estudo da relação entre emoção e memória. Em testes de recordação livre, O desempenho relativo às palavras tabus é melhor do que as palavras neutras e até mesmo do que palavras emocionais não-tabus. Alguns autores atribuem essa melhora de desempenho devido não só ao alerta emocional, mas também porque essas palavras formam um grupo semântico coeso, facilitando a recordação. Em testes de reconhecimento, o uso da mesma categoria semântica na lista e nos distratores causa interferência, induzindo o sujeito a interpretar um distrator como item da lista (alarme falso). Para testar os efeitos do alerta emocional e da coesão semântica das palavras tabus, foi montado um modelo experimental consistindo num teste de memória de reconhecimento com indução de interferência semântica.
METODOLOGIA:
Utilizamos uma lista mista contendo palavras tabus e neutras, sendo estas últimas com ou sem relação semântica. Para induzir a interferência semântica, usamos distratores pertencentes às mesmas categorias da lista. Os 20 participantes (10 homens), com idade entre 18 e 25 anos, escutavam a lista contendo 21 palavras (7 tabus, 7 nomes de frutas e 7 neutras sem relação), logo em seguida escutavam novamente essas palavras misturadas a outras 21 palavras distratoras e deveriam responder "Velha" (pressionando o V do teclado) para as palavras da lista e "Nova" (pressionando o N do teclado) para as distratoras. O teste foi realizado num computador usando o software SuperLab 4.0. Como medida de desempenho, usamos o PR, uma medida de confiança para a memória de reconhecimento.
RESULTADOS:
Como esperado, as palavras tabus foram mais lembradas do que as demais palavras [F(2,36)=12,831; p<0,001], post hoc Bonferroni p<0,001, não havendo efeito entre palavras com e sem relação semântica. Porém para testar a interferência, utilizamos a porcentagem de alarmes falsos. As palavras neutras com relação semântica apresentaram maior número de alarmes falsos que as outras duas categorias [F(2,36)=9,867; p<0,001], post hoc Bonferroni Semântica>Tabu p=0,003, não havendo diferença entre as outras duas categorias. Os resultados sugerem que há duas variáveis independentes atuando nos resultados obtidos por meio do modelo proposto: uma é o alerta emocional, que fez com que as palavras tabus fossem melhor lembradas, e a outra variável é a coesão semântica, podendo ser percebida apenas nos nomes de frutas. É possível que a variável da coesão também esteja atuando nas palavras tabus, porém o alerta emocional capta a atenção do sujeito de tal maneira que o sujeito consegue identificar com maior precisão se a palavra pertencia ou não à lista inibindo a dificuldade causada pela coesão semântica.
CONCLUSÃO:
Os testes de reconhecimento, diferentemente dos testes de recordação livre, permitem avaliar o alerta emocional separadamente da coesão semântica. Enquanto o primeiro beneficia o reconhecimento das palavras, o segundo o prejudica. Foi possível perceber que as palavras tabus provavelmente sofreram influência destas duas variáveis, as quais podem estar atuando independentemente. Porém mais resultados são necessários para obter uma idéia mais conclusiva sobre o assunto.
Instituição de Fomento: CNPq e Capes
Palavras-chave: Memória declarativa, Emoção, Coesão semântica.