62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 18. Educação
TRAJETÓRIAS DE VIDA DE ADOLESCENTES EM CUMPRIMENTO DE MEDIDA SOCIOEDUCATIVA
Nathália Naly de Almeida Vaz 1
Jeannette Pouchain Ramos 1
1. Centro de Educação, Curso de Pedagogia, Universidade Estadual do Ceará/ UECE
INTRODUÇÃO:
A pesquisa analisa as trajetórias de vida dos adolescentes, cumprindo medida socioeducativa, no Centro Educacional Dom Bosco/Fortaleza-Ce, objetivando a análise do adolescente infrator na sociedade de classes e dos seus direitos sociais, no concernente ao sistema socioeducativo de privação de liberdade e a reconstrução da história de vida do público pesquisado, para compreender a realidade do adolescente infrator, e possibilitar-lhe a reflexão crítica e as perspectivas de futuro. A pesquisa tem seu enfoque teórico no materialismo dialético, entendendo que a realidade social é dinâmica e está em transformação.
METODOLOGIA:
A partir da observação empírica do adolescente interno no Centro Educacional Dom Bosco/Fortaleza-Ce, propõe-se, a intervenção junto ao adolescente infrator, para que ele possa refletir sobre a sua vida e a sociedade que vive, buscando possibilidades de transformar a sua realidade. A proposta estabelecida é do tipo participante. Na relação entre pesquisador e pesquisados se constitui como pressuposto do conhecimento a interferência, a qual se concretizou através da ação no campo de pesquisa e no contato direto com os pesquisados. A coleta de dados ocorreu durante os meses de agosto e setembro, de 2009, ao todo foram nove encontros, fundamentados no planejamento pedagógico da instituição dos referentes meses, respectivamente Cultura Popular e Folclore e Cultura Popular e Pátria. A metodologia utilizada do tipo participativa possibilitou realizar reflexões e produções dos adolescentes a partir de textos, músicas, poesias, gravuras, dinâmicas e dramatizações. Utilizou-se como auxilio o diário de campo.
RESULTADOS:
A comparação entre o perfil nacional e dos adolescentes internos, no Centro Educacional Dom Bosco, destaca que as faixas de idade entre 13 e 15 anos, somam 30%, superando a média nacional de 18%. A maior incidência na prática de atos infracionais, encontra-se entre 16 e 18 anos, 68%. Considerando o contexto social, João - de - barro, naturaliza a violência, em que, o local onde mora é "Normal, como é em todo lugar, tem uns tiroteios e brigas". Outros aspectos envolvem a vida do adolescente, sem trabalho e condições econômicas de consumir, encontra no ato infracional a satisfação de seus desejos de consumo. Quanto ao ato joão-de-barro, lembra que, "roubou para possuir roupa boa, ouro e celular." A partir da pesquisa constatou-se a realidade escolar do público em questão, pois os dados apontam que, 51% dos adolescentes privados de liberdade, não frequentava a escola quando praticou o delito. Em relação ao grau de instrução, 89,6% dos adolescentes não concluíram o Ensino Fundamental, apesar de se encontrarem em uma faixa etária equivalente à do Ensino Médio. Segundo um dos adolescentes pesquisados, o engajamento na escola é apontado como questão central, para mudar de vida, salta - caminho diz, "Vou passar uma real o negócio é estudar pra ser alguém na vida e o sucesso alcançar".
CONCLUSÃO:
Para a compreensão em torno da temática das trajetórias de vida dos adolescentes autores de atos infracionais é necessário ter em conta que a maior parte da população brasileira situa-se no nível da pobreza. Neste aspecto, a parcela jovem é a que mais sofre com os problemas de ordem estrutural. Percebe-se que a garantia dos direitos se dá na formalidade da lei, sem atingir a realidade dos indivíduos que necessitam deles. Torna-se necessário a luta pela efetivação dos direitos sociais e de políticas públicas que visem o jovem da classe popular. Alguns impedimentos para o bom funcionamento da medida socioeducativa de privação de liberdade podem ser citados, tais como a superlotação, a falta de recursos, despreparo profissional e equipe técnica reduzida. Entende-se que o problema tendo origem e se reproduzindo a cada nova fase do capital, só se resolverá com a abolição deste sistema gerador de desigualdades. O adolescente autor de ato infracional, deve ter seus direitos garantidos, com base na sua consciência e experiência de vida para a luta social. Neste sentido, o trabalho foi importante para que os adolescentes pudessem se sentir como seres humanos inseridos num processo maior, em que, poderiam atuar de forma diferenciada na reconstrução de sua forma de viver.
Palavras-chave: Adolescente infrator, História de vida , Socioeducação.