O acompanhamento do crescimento e desenvolvimento (CD) da criança ainda segue um modelo biomédico de atenção pautado na consulta individual, medicalizante, voltado para as queixas e com o usuário passivo. Tal prática contradiz as estratégias de implementação da política nacional de humanização que visa o incentivo da autonomia e protagonismo do sujeito, as trocas solidárias e comprometidas, através do diálogo com a produção de saúde, e além dos aspectos biológicos realizar a identificação dos aspectos biopsicossociais nos quais o sujeito está inserido.

O acompanhamento coletivo de CD da criança tenta minimizar as barreiras entre o atendimento de saúde e a humanização, entre elas as longas filas de espera, o despreparo psicológico e a falta de informação e explicação do que é imposto ao usuário, presentes no acompanhamento de CD atual. Através do encontro entre sujeitos que compartilham saber, poder e experiência vivida, bem como o desenvolvimento da afetividade, sensibilidade e abertura para a escuta e o diálogo, a fim de se estabelecer uma relação empática e participativa.

Diante do exposto, tem-se por objetivo descrever as ações desenvolvidas durante o CD que tentam consolidar as estratégias para realizar um atendimento mais humanizado.

Trata-se de um estudo descritivo. Desenvolvido a partir do método da pesquisa-ação, junto a um grupo de mães/pais de crianças menores de dois meses que acompanham o Crescimento e Desenvolvimento da criança na Unidade Básica de Saúde da Família (UBSF) de Cidade Nova município de Natal-RN. Em tal pesquisa, os registros e analises dos dados tiveram a interferência do pesquisador. A coleta de dados foi realizada mediante três reuniões de grupo focal sobre o CD coletivo, onde participaram um total de doze mães, três pais, que assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), quatro enfermeiras da unidade de saúde, uma professora, duas mestrandas e cinco alunas do curso de enfermagem da UFRN. As reuniões foram gravadas e transcritas na ìntegra. A análise dos dados foi realizada a partir da Política Nacional de Humanização (PNH).

Segundo as mães/pais que participaram do acompanhamento coletivo do CD a redução do tempo de espera foi uma das vantagens desta metodologia, por atender todas as mães ao mesmo tempo. Além de permitir a aplicabilidade do princípio da transversalidade da PNH por proporcionar as mães/pais à troca de experiências, orientações e dicas quanto ao cuidado.

Nesse atendimento há a valorização do usuário, da subjetividade e do diálogo, favorecendo a reflexão e construção de novos significados sobre o papel do usuário como agente de mudanças do processo saúde-doença. Os pais participaram ativamente do acompanhamento do CD de suas crianças, aprendendo a pesá-las e a tirar medidas como perímetro cefálico e comprimento, preencher os gráficos de peso e altura em relação à idade e interpretá-los, refletindo sobre o adequado desenvolvimento de seu filho. Além de verificar a presença dos reflexos primitivos. Tais fatos remetem aos princípios de autonomia e protagonismo dos sujeitos propostos na PNH.

O Sistema Único de Saúde encontra-se pautado nas ações de promoção da saúde. Desse modo, foram abordos também a importância do aleitamento materno exclusivo, vacinação, estimulando as discussões a partir do conhecimento dos pais. Contribuindo para a produção de saúde e de sujeitos.

A partir do que foi vivenciado, conclui-se que o acompanhamento coletivo do CD é uma estratégia que contribui com a PNH para a melhoria da qualidade do atendimento à população na UBSF, por: incentivar a participação do usuário como sujeito ativo no acompanhamento de CD da criança na prevenção de doenças prevalentes na infância e na promoção da saúde; reduzir as filas de espera; valorizar o conhecimento dos usuários no diálogo com os outros usuários e com os profissionais.

Sendo evidente o aprendizado de mães/pais acerca do desenvolvimento dos seus filhos, e do que realmente é importante para o crescimento dos mesmos. Tendo um saber mais científico diante de todas as explicações passadas pela equipe de saúde, podendo confrontá-lo com os saberes advindos da troca de experiência com outros mães/pais, e a partir daí fazer correções ou complementações quanto ao cuidado à criança.

Dessa forma, o acompanhamento coletivo do CD na atenção a criança contribuiu para uma humanização do atendimento que ultrapassa a melhoria da qualidade da relação profissional/paciente: aponta para a melhoria da relação mãe/filho e pai/filho e para a produção e promoção de saúde para as crianças.